O Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Dia Nacional de Prevenção ao AVC, celebrado nesta terça-feira (29), reforça o alerta para prevenção, sintomas e tratamentos. A doença cerebral, que, segundo o Ministério da Saúde, é uma das principais causas de morte no Brasil, está com queda no número de óbitos em Caxias do Sul este ano. O AVC ocorre quando vasos sanguíneos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem e provocam a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea.
Segundo dados mais recentes do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, atualizados pelo DataSUS, até o mês de agosto 17 pessoas foram vítimas da doença na cidade. Em comparação com o período de janeiro a agosto, o número de mortes é o menor dos últimos seis anos. No caso de internações, 171 estiveram em hospitais de Caxias para o tratamento.
De acordo com a médica neurologista Paula Gasperin, que atua no Complexo Hospitalar Unimed Serra Gaúcha de Caxias do Sul, existem dois tipos de AVC, o isquêmico, responsável por 85% dos casos (também conhecido como derrame), e o hemorrágico. A partir dos sintomas é possível determinar os tratamentos para cada caso. No hospital da maior cidade da Serra, cerca de 84 casos de AVC são atendidos por ano.
— O AVC isquêmico é um entupimento, um trombo que fecha uma artéria do cérebro. Já o AVC hemorrágico, que é o menos comum, é quando ocorre um sangramento no cérebro. O tratamento mais eficaz é aquele iniciado em até quatro horas e meia após o início dos sintomas e a agilidade é o fator decisivo para manter uma alta chance de melhora do paciente e reversão do quadro — explica Paula.
O tratamento inicial do AVC consiste em uma trombólise, onde o paciente recebe medicação na veia, como se fosse um anticoagulante. Este medicamento dissolve e abre o coágulo que está entupido no cérebro. A partir disso, caso o coágulo não se desfaça ou seja muito grande, a equipe da neurologia avalia se há necessidade de um segundo tratamento. Este segundo tipo é chamado de trombectomia mecânica, que funciona como se fosse um cateterismo no cérebro. O médico chega no coágulo por meio de um cateter, aspira e retira o coágulo do cérebro.
Os sintomas dos dois tipos de AVC são os mesmos, e incluem alteração aguda na fala, desequilíbrio, tontura, dor intensa na cabeça, perda de força ou de sensibilidade em um membro do corpo ou um lado inteiro do corpo, além de dificuldade para caminhar, falar ou boca torta. Quando o paciente chega no hospital com os possíveis sintomas de AVC, é feito um exame de tomografia que indica se é isquêmico ou hemorrágico.
Sequela mínima após tratamento ágil
Foram sintomas de tontura e boca torta que levaram Natalia Hoffmann Grings, 92 anos, para a internação em Caxias do Sul. No dia 18 de setembro, a idosa que mora em Nova Petrópolis disse para uma das filhas que estava com tontura e ânsia. Ela foi levada para um hospital do município e medicada, mas retornou para casa. Após dois dias, ao dormir na casa de uma das filhas, acordou com a boca torta e foi levada de ambulância até Caxias do Sul.
— O lado esquerdo do corpo dela foi muito afetado. Chegamos no hospital e não sabíamos que horas o AVC tinha acontecido, mas sabíamos que o tratamento precisava ser dentro das primeiras quatro horas. Eles fizeram uma trombólise com base numa ressonância e perceberam que o coágulo estava bem localizado. Aí fizeram uma trombectomia, sugaram o coágulo e a área afetada voltou a ter circulação sanguínea normal. Hoje sabemos que essa agilidade foi muito importante para uma recuperação dos movimentos que ela havia perdido — conta a filha, Maria Dolores Seefeld.
Após o tratamento, a idosa precisou passar por consultas com fisioterapeuta e fonoaudióloga, mas melhorou e está retomando de forma gradativa as atividades que costuma fazer. Em razão do AVC, a idosa ficou com uma pequena sequela motora em um dos braços.
— Ela evoluiu muito bem dentro desse um mês desde o AVC. Já come sozinha, faz pequenas atividades e consegue subir e descer a escada. Ela se movimenta perfeitamente bem, a única coisa que ainda estamos trabalhando é a questão da deglutição, ela ainda não está comendo comida normal e a médica está liberando os alimentos de forma gradual, mas vemos que o quadro evolutivo dela foi muito rápido. Para a idade da mãe foi uma melhora extremamente positiva e só temos a agradecer — afirma Maria.
Conforme a médica neurologista Paula Gasperin, que atendeu a idosa, no caso de pacientes que têm algum sintoma e não buscam pelo tratamento, há o risco de uma sequela permanente. Isso porque, a área afetada no cérebro pelo AVC pode morrer se não for tratada. Por este motivo, quanto mais cedo e precoce for o tratamento, maior a chance do paciente reverter a sequela e retomar a vida normal.
Fatores de risco e prevenção
De acordo com o Ministério da Saúde, diversos fatores podem aumentar a probabilidade que um AVC ocorra, tanto o isquêmico quanto o hemorrágico. São eles:
- Hipertensão
- Diabetes tipo 2
- Colesterol alto
- Sobrepeso
- Obesidade
- Tabagismo
- Uso excessivo de álcool
- Idade avançada
- Sedentarismo
- Uso de drogas ilícitas
- Histórico familiar
- Ser do sexo masculino
Também existem diversos fatores que podem prevenir a ocorrência de um AVC. Alguns não podem ser modificados, como a idade, constituição genética e o sexo. Entretanto, bons hábitos com a saúde são importantes para prevenir a doença.
— Em idosos, os principais fatores de risco são as doenças do coração, sendo a mais comum a arritmia. Conforme a idade, o coração vai envelhecendo e aumentando a chance de desenvolver essas arritmias. Mas, em uma faixa etária mais jovem, vemos principalmente a relação com o sedentarismo, a má alimentação, as gorduras e os alimentos industrializados. Além disso, também tem o tabagismo, o estresse e a hipertensão. É uma sucessão de fatores que contribuem para o AVC — explica Paula.
As recomendações de prevenção indicadas pelo Ministério da Saúde são:
- Não fumar
- Não consumir álcool
- Não fazer uso de drogas ilícitas
- Manter alimentação saudável
- Manter o peso ideal
- Beber bastante água
- Praticar atividades físicas regularmente
- Manter a pressão sob controle
- Manter a glicose sob controle
Os riscos de que o AVC ocorra são mais comuns após os 55 anos. Entretanto, conforme reforça a neurologista, a doença já não tem idade específica e pode acometer pessoas de todas as faixas etárias. Por este motivo, é essencial manter hábitos saudáveis, fazer consultas de rotina, e buscar o tratamento no caso do surgimento de alguns dos sintomas da doença.