Era outubro de 1957 quando o Canal de Suez, no Oriente Médio, se tornou ponto cobiçado pela França, Inglaterra e Israel, que entraram em guerra contra o Egito pelo domínio do território. O conflito contou com ameaças de bombas nucleares, por parte da União Soviética, e durou 10 anos. Foi ali que ocorreu a primeira missão da Força de Paz, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que deu origem ao Batalhão Suez, com participação de 600 militares brasileiros.
Por causa do trabalho em missão de paz, o batalhão recebeu em 1988 o Prêmio Nobel da Paz e neste ano é um dos temas do desfile de Sete de setembro, que ocorre neste sábado (7). A partir do batalhão, único brasileiro a ter uma das principais honrarias em benefício da humanidade, a farmacêutica caxiense Liege Slomp foi condecorada duas vezes com a medalha do Prêmio Nobel da Paz.
A medalha, segundo explica o Instituto Boina Azul, são condecorações outorgadas pela ONU e destinadas a militares ou civis pelos serviços em favor da paz. A simbologia da estampa e as cores usadas nas fitas podem representar a esperança, paisagem, potencial econômico, o oceano ou os rios e afluentes e até mesmo a promessa de paz para o povo local. Segundo a ONU, a medalha é um reconhecimento pelo trabalho sério, responsável e impactante e pelas mudanças de vidas obtidas.
— A primeira vez foi em 2022, quando fui condecorada como Oficial de Paz da ONU, e agora, no dia 29 de agosto, recebi a medalha do Nobel da Paz. Quando entraram em contato comigo pela primeira vez dizendo sobre Oficial da Paz, ONU e tudo mais, eu achei que era golpe (risos). Aí me ligaram em chamada de vídeo, contaram do processo e que meu nome tinha sido indicado pelo trabalho que faço frente a profissionais acima de 40 anos e pessoas com deficiência física (PCDs) para a inserção no mercado de trabalho — conta Liege.
Por meio da própria empresa, a farmacêutica busca promover mudança na vida de profissionais e mostra ser possível migrar o rumo das próprias carreiras independentemente de idade ou condição que possuam.
— Ver o meu trabalho promover tanta mudança na vida das pessoas é um orgulho. É um trabalho preocupado com a saúde, porque hoje em dia vivemos mais e vivemos melhor. Aos 40, 50, 60 anos temos muito mais energia do que tínhamos antigamente. Nossa expectativa de vida também mudou. Por isso, acredito que o conceito de que "profissional acima dos 40 anos está velho" já não faz mais sentido. Quis fazer uma mudança nessa questão e buscar ainda mais a inclusão dos PCDs, esse é o foco da minha empresa, a Receita Propagandista, e saber que ele é relevante, para chamar a atenção das forças internacionais de paz, me traz muita alegria e muita satisfação — conta a farmacêutica.
A farmacêutica afirma estar descobrindo de que forma as condecorações vão moldar o caminho que segue, mas garante que servem como incentivo para que continue buscando desenvolvimento e conhecimento para ajudar a contribuir de forma positiva para a vida de cada vez mais pessoas.
Batalhão de Suez
De acordo com Sérgio Luiz Dias, 78 anos, atual vice-presidente da Associação Brasileira de Integrantes do Batalhão Suez no Rio Grande do Sul, a unidade militar é a única do país a ter o Prêmio Nobel da Paz e os integrantes ficaram popularmente conhecidos como "boinas azuis". Pelo menos 6,3 mil homens participavam da guerra no território egípcio por ano.
— Quando começou a guerra, houve um tipo de acordo com o Egito de ter uma Força de Paz atuando lá. Nossa função era manter a paz entre os países em guerra. Nós usávamos apenas armas para autodefesa, telefone e binóculos, não participávamos do conflito. A guerra em si, quando houve a convocação e entendemos o que seria a Força de Paz, foi uma coisa difícil de entender no começo, mas era um trabalho muito louvável. Nós éramos confiantes em fazer, em manter de alguma forma a paz entre aqueles países do Mediterrâneo — conta Dias.
O vice-presidente da associação esteve na frente de atuação com a última turma que integrou a Força de Paz, em 1967. Cada uma das tropas dos países envolvidos comumente era trocada uma vez por ano, por isso cada militar participou da Força de Paz por até um ano. A missão dos integrantes do grupo era garantir a retirada de Israel, França e Inglaterra do território invadido.
— Em 1988, quando foi concedido o Nobel para todas as forças de paz que participaram não só do conflito no Egito, mas em outros também, foi muito importante porque não é uma condecoração para qualquer um. Foi uma forma de mostrar que nós tínhamos feito um bom trabalho e que contribuímos com a humanidade de alguma forma e temos orgulho dessa história — afirma Dias.
O desfile de Sete de setembro deste ano tem dois temas. Nacionalmente será celebrado o Centenário da União dos Escoteiros do Brasil e, regionalmente, serão destacados os 40 anos do Batalhão Suez e sua participação na primeira e mais longa missão de paz da ONU.