O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs) promoveu nesta quinta-feira (7) o encontro "Mulheres Impulsionando a Indústria". O evento, que marca a semana do Dia Internacional da Mulher, contou com a presença das convidadas Francine Steffenello, gerente de produção para processos de solda da empresa John Deere, de Horizontina, no noroeste do RS, Aline Zini Backes, diretora de operações do Grupo Sazi, de Farroupilha, e Vera Lucia Favaron, gerente administrativa da empresa Qualisteel, de Nova Prata. A conversa foi mediada por Shirley Carniel, da Fábrica de Máquinas Almeida, de Caxias do Sul, e contou com a presença de cerca de cem pessoas.
Por volta das 16h, quando o evento começou, as painelistas contaram sobre a trajetória de cada uma dentro do ambiente industrial. Francine Steffenello, que iniciou a apresentação, destacou o trabalho de diversidade, equidade e inclusão dentro da John Deer, empresa onde atua há 20 anos.
— Temos diferentes ações voltadas para incentivar as mulheres na indústria, na tecnologia e na engenharia. Fazemos ações em escolas, para mostrar o papel das mulheres nesse ambiente e impulsionar o crescimento de estudantes mulheres que possam encontrar o papel delas no ramo. Buscando trabalhar com diversidade, equidade e inclusão, vemos o impacto positivo na gestão de pessoas, na marca e em toda a comunidade. Então é visível a diferença que a presença de mulheres faz dentro da empresa — afirmou Francine.
Ao longo da conversa, que contou com a participação de mulheres que estavam assistindo ao encontro, Francine relatou que a trajetória na John Deere começou quando tinha 19 anos de idade e saiu de casa para fazer um estágio na empresa. A partir disso, a gerente de produção teve a oportunidade de aprender e caminhar por diferentes setores, onde, gradativamente, foi se desenvolvendo e aprendendo até começar a ocupar cargos de liderança.
Para a gerente de produção, não existe fórmula mágica para chegar em cargos de liderança ou incentivar mulheres a decidirem atuar dentro da indústria. Entretanto, é preciso mostrar que essa realidade existe e é uma possibilidade não só para homens. Como incentivo para novas gerações, Francine destacou a importância da qualificação e o preparo, além da necessidade de diferentes gerações encontrarem uma maneira de trabalharem juntos.
— A nova geração vem com gás, com mais tecnologia e conhecimento e nós aprendemos muito com os aprendizes e com a forma como eles pensam. Nós muitas vezes complicamos as coisas, enquanto eles simplificam. Muita gente pensa que plantando hoje vamos colher amanhã. Tem esse imediatismo. Mas é preciso termos ações estratégicas de atuação, entre o velho e o novo, para conseguirmos entregar um resultado positivo lá na frente — afirmou Francine.
A diretora de operações Aline Zini Backes pontuou que, apesar de ser filha do dono do Grupo Sazi, enfrentou desafios para mostrar aos demais colegas que tem qualificação para atuar na empresa da família. De acordo com ela, no caminho do aprendizado, quando ainda não havia ingressado no mercado, já era apaixonada pela paixão do pai e soube ter humildade para pedir ajuda aos funcionários experientes que já conheciam os processos da empresa.
— Aos 17 anos estava em dúvida sobre qual faculdade fazer e perguntei ao meu pai o que ele achava. Ele disse que, como eu queria trabalhar na Sazi, eu deveria fazer engenharia mecânica, mas seria difícil porque "eu era menina". Foi ali mesmo que eu tive certeza que iria fazer engenharia mecânica e foi uma boa escolha para eu desenvolver meu papel lá dentro e a minha base de pensamento sobre o funcionamento da empresa — lembra Aline.
Segundo Aline, circular e conhecer todas as áreas da empresa em que atua é uma forma de criar estratégias de atuação, focando na longevidade do Grupo Sazi. Para isso, como líder, aprendeu sobre a necessidade de saber incentivar e engajar os funcionários, a fim de que todos trabalhem juntos e com o mesmo carinho que ela tem pela empresa que cresceu admirando.
Para a gerente administrativa Vera Lucia Favaron, é essencial que os profissionais tenham certeza de que estão atuando no lugar certo. Vera, que começou a trabalhar na indústria por acaso, chegou a tentar a área de ciências sociais, mas encontrou a própria vocação dentro da administração e, a partir disso, entendeu a necessidade de saber como aprender sobre as coisas certas.
— Depois que me encontrei, eu vesti a camisa da empresa. Eu amo o que eu faço, é enriquecedor e é satisfatório ver o nosso trabalho crescendo e conhecer todos os processos. Acho essencial que as pessoas experimentem e se conheçam. Se nós temos uma casa para voltar, seja dos nossos pais ou um lugar que nos receberá de volta caso nós falhemos, nós precisamos experimentar tudo e aprender tudo o que quisermos. Precisamos experimentar até nos encontrar, porque, quando fazemos o que gostamos, nós dominamos aquilo e nos aperfeiçoamos, estudamos e, gradativamente, as coisas vão acontecendo e nós vamos evoluindo — afirmou a gerente.
De acordo com Vera, é essencial que os profissionais dentro das empresas e, principalmente, as mulheres, acreditem no potencial que têm e entendam que os resultados do trabalho ou estudos feitos atualmente serão vistos lá na frente, e não de maneira imediata. A gerente reforçou ainda que, mesmo sabendo que está no lugar certo, sempre existirão empecilhos e dificuldades, mas é preciso saber lidar com isso e não desistir no meio do processo.
Após a conversa, as três responderam alguns questionamentos das mulheres que acompanharam o encontro e, entre elas, uma dúvida sobre como ser profissional, mãe, estudante e líder fez as três entrarem em consenso.
— Nós não damos conta de tudo e muitas vezes, enquanto tentamos equilibrar todas as áreas da nossa vida, trabalho, saúde, família, filhos, matrimônio, nós falhamos. Isso é normal. Existe o mito de "supermulheres", mas somos seres humanos e nós erramos. É preciso nos apoiar na nossa rede de apoio e criar mecanismos para dar conta das pontas, mas, principalmente, não se cobrar ou se culpar por errar. Somos humanos desempenhando vários papéis e precisamos entender que vamos errar, mas não somos menos competentes ou ruins por isso — afirmou Francine.
O presidente do Simecs, Ubiratã Rezler, pontuou a importância de eventos que impulsionam a presença de mulheres em cargos de lideranças dentro do ambiente industrial, que é o principal incremento da economia local. De acordo com Rezler, é preciso criar oportunidades e espaços para que haja aumento de líderes mulheres dentro das empresas.
— O fato é que a mulher ocupa uma parcela muito pequena dentro da indústria. Em torno de 26% da força de trabalho, da inteligência do trabalho, é ocupada por mulheres. O Simecs tem feito um trabalho muito interessante para criar mais oportunidades para que as mulheres possam estar mais presentes na indústria. Criamos em 2023 o Núcleo de Mulheres, para que possamos reunir mulheres que pensem sobre o setor industrial e a participação delas. E essa é uma forma de entender e oferecer esse entendimento para quem ainda não percebeu que a participação das mulheres é fundamental dentro das empresas — mencionou Rezler.
Entre as espectadoras que esteve acompanhando o encontro esteve Leonice Link Persch, gerente de Recursos Humanos na empresa Ognibene, que reforçou a necessidade de eventos como este para impulsionar e incentivar a presença feminina em posições de lideranças e na área industrial.
— É importante a gente ter essas discussões, porque a indústria e a metalúrgica são o centro do trabalho aqui na região e são áreas com concentração maior de homens. É preciso cada vez mais desenvolver mulheres para que elas consigam atuar na indústria, e na empresa onde eu trabalho estamos tentando promover esses espaços para fomentar a presença feminina — disse Leonice.
Ao final do encontro, o Simecs fez o anúncio do curso Sinapses, que terá inscrições abertas nesta sexta-feira (8). A iniciativa terá 20 vagas para mulheres que trabalham em empresas parceiras do Simecs e aulas presenciais para o desenvolvimento e treinamento de lideranças femininas.