Cuidado com o meio ambiente. Esse é o foco do Dia Nacional do Campo Limpo, comemorado nesta sexta-feira (18). A data de conscientização celebra a união dos agricultores, canais de revenda, cooperativas, indústria fabricante e poder público pelo Instituto Nacional De Processamento De Embalagens Vazias (Inpev) na busca pelo descarte correto das embalagens de defensivos agrícolas, os agrotóxicos. Em Caxias do Sul, uma campanha anual é realizada para a coleta das embalagens vazias, que são levadas para a central de recebimento mais próxima do Inpev, localizada no município de Vacaria.
No ano passado, foram recolhidos em Caxias do Sul cerca de 40 mil quilos de embalagens. Em âmbito estadual, segundo dados do Inpev, foram 5 milhões de embalagens, o que representou 10% do total do país. Em 2023, a coleta em Caxias do Sul, será entre os dias 23 e 31 de outubro. De 23 a 27/10, a coleta será ao lado da revendedora Agrocaxias. Já no dia 30 será no salão da comunidade São Pedro da 3ª Légua. Dia 31 de outubro é o último prazo em Caxias, quando a campanha será no Clube Forquetense, em Forqueta.
As revendas pedem que os produtores rurais levem apenas embalagens de produtos químicos. Os de limpeza ou de lubrificantes não serão recolhidos. Os sacos não devem ser amarrados com arames. Além disso, o agricultor precisa estar munido do talão de produtor.
No Brasil, também ano passado, o Inpev coletou 52,5 mil toneladas oriundas de 1,8 milhão de propriedades rurais. O instituto gerencia um sistema de logística reversa dos defensivos, ou seja, une associados da cadeia agrícola que coletam as embalagens já utilizadas, fazem a separação do que pode ou não ser reutilizado e as recolocam no mercado com novos produtos.
Economia circular
Na localidade de Menino Deus, no interior de Forqueta, em Caxias, o produtor de uva e de murcott, uma espécie de tangerina, Marciano Vettorazzi, 41 anos, fez um curso, em 2015, quando aprendeu sobre as variedades, manuseio e perigos dos defensivos. Compreendeu sobre a importância de ter um espaço destinado para o armazenamento e lavagem das embalagens.
— Eu acho importante fazer tudo certo, porque a mesma fruta que eu produzo vai pra minha mesa e pra mesa das pessoas — comenta Vettorazzi, sobre os cuidados com a manipulação dos agrotóxicos.
Na propriedade familiar, onde mora com os pais, Santo e Maria Vettorazzi, a irmã Sandra, o cunhado Cesar e o sobrinho Guilherme, de 12 anos, foi construída uma estrutura de tijolos, com tamanho de quatro metros quadrados, para o armazenamento dos produtos químicos. Em conformidade com as normas da ABNT (NBR 9843-3).
Depois do curso, onde apreendeu todas as técnicas necessárias, comprou dos EPIs (equipamentos de proteção individual) necessários para o manuseio, como botas, luvas, calça, casaco, máscara. Os objetos são armazenados em um vestiário ao lado da estrutura, que está sinalizada com uma placa. No local, há um lavatório para as embalagens. O espaço externo tem um piso de concreto e um ralo que escoa a água utilizada para uma caixa de concreto, construída no lado direito. Todos esses cuidados são dispostos na normativa para que o agrotóxico não escorra para o solo.
O produtor de uva salienta que há dois tipos de embalagens que ele precisa manusear: uma rígida, que é feita de plástico em formato de galão, e uma flexível, que é um pacote de plástico. A rígida, segundo as normas, deve ser lavada três vezes usando água limpa e após ser feito três furos no fundo. Já a flexível é dobrada e armazenada em um recipiente, sem ser lavada. Em ambos os casos, devem ficar armazenadas dentro da casinha, aguardando a data da devolução. O armazenamento é dividido pelo tamanho. Aos que possuem tampa, ela também deve ser devolvida. Vettorazzi já aproveita e as guarda nas próprias caixas de papelão em que as compra nas revendas de Caxias do Sul e Farroupilha.
Na propriedade da família Vettorazzi, é feito o planejamento para não sobrar defensivos agrícolas. Mas, nos casos de sobra dentro do pulverizador, a máquina que é utilizada para aplicar os agrotóxicos, Marciano reaproveita para passar em outras frutas ou na horta que a família cultiva para consumo próprio. Esse defensivo ministrado com água, em uma quantidade correta, não afeta o solo. O perigo, segundo o produtor, é se cair em grande quantidade. O mesmo processo de reutilização é feito com a água da lavagem das embalagens plásticas e rígidas.
Recolhimento das embalagens
Em Caxias do Sul, o recolhimento é feito pelas empresas revendedoras dos defensivos agrícolas. Esse modelo começou depois das restrições da pandemia. A campanha ocorre uma vez por ano. As revendas se unem e há uma comissão organizadora, que escolhe cerca de duas ou três localidades para montar os postos itinerantes de recebimento.
— Eles vêm (revendedoras) com um caminhão, normalmente aqui em Nossa Senhora da Salete ou no bairro Forqueta perto do Clube União. Eu levo no caminhão de pequeno porte que tenho e faço a entrega — conta Vettorazi, que no ano de 2022 entregou 55 embalagens plásticas e 22 rígidas com as respectivas tampas e três caixas de papelão.
O produtor é quem faz o controle, com base na orientação da revenda. Ele recebe uma nota da compra dos produtos e deve guardá-la. No dia da entrega das embalagens, recebe um comprovante com a quantidade de produtos destinados.
— Em Caxias e região, a gente percebe uma boa aceitação dos produtores, eles entendem que tem que devolver, e fazem a lavagem certa. Ficamos bem felizes com o trabalho realizado pelos produtores — comemora um dos organizadores da campanha de recolhimento, Adilson Rizzon.
Destinação dos materiais recolhidos
Segundo, Ricardo Felicetti, diretor do Departamento de Defesa Vegetal do RS, as empresas fornecedoras de produtos agrotóxicos são obrigadas por lei a fazerem o recolhimento das embalagens. Após, são encaminhadas para a central de recolhimento em Vacaria, no caso da Serra, que envia para indústria de inativação, com planta localizada em Santa Catarina.
No estado vizinho, é separado pela equipe do InpEV, que define sobre a reutilização ou incineração. As que são reutilizadas, segundo informações divulgadas no site do instituto, viram uma resina. Essa matéria-prima dá origem à embalagem Ecoplástica® e ao sistema de vedação Ecocap®, marcas da Inpev. A resina ainda pode ser usada na fabricação de outros 33 artefatos homologados, como tubos para esgoto (construção civil), postes de sinalização (setor de transportes) e cruzetas para postes (setor de energia). Do material coletado em 2022 no Brasil (52.537,7 mil toneladas), 3.934,4 mil (8%) foram para incineração e 48.603,3 mil (92%) para a reciclagem.
Crime ambiental
O descarte irregular das embalagens de agrotóxicos no meio ambiente é passível de ser enquadrado em leis de crime ambiental. De acordo com o agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa) de Caxias, Thales Bordignon Milanesi, a fiscalização é feita por meio de denúncias:
— O agente fiscalizador vai chegar na propriedade e exigir o comprovante da devolução das embalagens. Se não tiver, vai ser aberto processo administrativo para apurar responsabilidades, averiguar onde estão essas embalagens e tomadas as medidas cabíveis.
Ele reforça que defensivos agrícolas são produtos usados para controle de plantas daninhas, pragas e doenças em cultivos agrícolas, na pecuária e também áreas industriais, ou seja, são herbicidas, inseticidas, fungicidas, entre outros componentes químicos que causam grave contaminação ao solo se utilizado em grande quantidade.