A ainda jovem — se comparada a outras cidades brasileiras — e próspera Caxias do Sul cresceu muito nas últimas décadas, mas ainda precisa avançar. Infraestrutura é um dos principais desafios do município, conforme o prefeito Adiló Didomenico. Entrevistado do Gaúcha Hoje especial desta segunda-feira (20), aniversário de Caxias do Sul, ele falou da importância do aeroporto regional para a cidade e de um porto marítimo mais próximo da Serra.
O chefe do Executivo também abordou a situação financeira da prefeitura e citou a preocupação com o Fundo de Aposentadoria dos Servidores. Segundo ele, a administração trabalha para buscar soluções:
— Hoje consome R$ 244 milhões, já foi isso no ano passado, continua sendo nesse ano e para o ano que vem são R$ 396 milhões. Estamos trabalhando de forma muito clara e transparente com o Sindicato dos Servidores, com o pessoal do Instituto de Previdência.
Adiló esteve na Praça Dante Alighieri, de onde foi transmitido o programa desta segunda, contou como foi sua chegada a Caxias, na década de 1970, e fez o convite para a comemoração do aniversário a partir das 15h, no coração de Caxias:
— Queremos que os caxienses venham para a praça justamente para a gente comemorar. Depois desse longo período de incerteza, de dificuldade que se abateu sobre todo mundo que foi a pandemia, hoje é o dia de vir para a praça celebrar, agradecer a Deus. Que a gente possa comemorar. Serão distribuídas de 1,8 mil a 2 mil fatias de bolo, mais de 1 tonelada de frutas para poder festejar, nos abraçar e comemorar a vida, celebrar junto a vitória sobre a pandemia.
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Leia trechos da entrevista:
Como foi a sua chegada em Caxias?
Imagine um jovem de 17 anos do interior do interior. Eu vim da costa do Rio Uruguai, de Santa Catarina. Eu sou natural de Marau, mas com três anos minha família foi para o leste catarinense. E aos 17, precisando encontrar emprego e oportunidade de estudo, escolhi Caxias. Vim para cá 'solito', não tinha nenhuma referência e fui muito bem acolhido. Tive a sorte de cair em meio a um grupo de pessoas que tinha o mesmo espírito. A maioria tinha vindo do interior e nos encontramos na pensão, cada um com sonhos, tentando vencer e esse é o DNA de Caxias. Caxias tem essa marca, essa característica de muito trabalho. É uma cidade que acolhe bem a todos e que tem oportunidade. Quem quer trabalhar, quem quer empreender tem espaço. É uma cidade que eu amo. Eu adotei Caxias e Caxias me adotou. Aqui constitui minha família, tenho quatro filhos. Tenho muito orgulho de Caxias do Sul. A Serra gaúcha é uma região muito bonita, privilegiada. Se por um lado estamos longe da matéria-prima, que para o nosso polo metalmecânico vem de longe, a nossa infraestrutura não é a melhor. Se Deus quiser, ano que vem estaremos em obras, o futuro aeroporto da Serra... Mas é uma cidade que se fez pela força, pela fé e pelo trabalho. Essa fé que deu sustentação aos nossos imigrantes, porque aqui ninguém ganhou nada, eles receberam a terra, mas tiveram que pagar. Eles trabalhavam na colônia e muitas vezes faziam horas ajudando na estrada de ferro.
O que ainda é desafio para Caxias? Onde Caxias precisa avançar?
Caxias precisa avançar em infraestrutura. Estamos longe dos portos. O porto de Rio Grande é muito longe. Tomara que a gente consiga avançar bem nessa questão de Arroio do Sal. E o nosso aeroporto é muito acanhado e numa região onde a neblina castiga muito. Tu nunca tem a garantia de pouso ou decolagem por causa da neblina. O novo aeroporto vai dar um impulso muito grande, talvez comparado à chegada do trem em 1910. Hoje com as distâncias deste país continental que é o Brasil, um aeroporto com condições se faz necessário. O porto em Arroio do Sal para que o Rio Grande do Sul se torne mais competitivo. Santa Catarina hoje tem meia dúzia de portos, todos eles com capacidade plena e nós temos um no extremo sul do Estado. Esses são os grandes desafios. De resto, Caxias tem uma mão de obra qualificada, com universidades, faculdades. Veja o exemplo do grafeno. Caxias despontando para o mundo com um produto que vai revolucionar a indústria do futuro. E o nióbio também, que é um trabalho que está sendo pesquisado e patenteado pela Randon, que é o ouro do futuro. São dois grandes produtos, duas grandes descobertas do povo caxiense e que vai dar um impulso para a indústria 4.0. Caxias do Sul vai ser reconhecida justamente por isso. Todos esses ano que convivo em Caxias, essa é uma característica de inovação de vanguarda, de descoberta, de pesquisa. Esse é um diferencial que precisa ser comemorado. Se compararmos, Caxias é jovem. Imagino que no próximo Censo vamos ultrapassar 550 mil habitantes.
Qual a situação hoje da prefeitura e o que vocês esperam para os próximos anos?
Nós estamos imbuídos do propósito muito firme de encontrar soluções para os principais desafios que é o Fundo de Aposentadoria dos Servidores, que hoje consome R$ 244 milhões, já foi isso o ano passado, continua sendo nesse ano e para o ano que vem são R$ 396 milhões. É mais de R$ 1 milhão por dia que a prefeitura tem que separar do livre, tirar daquilo que poderia ser transformado em obras, em melhorias, para cobrir o fundo, por problemas que não vem ao caso ficarmos olhando para trás ou ficar procurando culpados. Precisamos encontrar soluções, estamos trabalhando de forma muito clara e transparente com o Sindicato dos Servidores, com o pessoal do Instituto de Previdência. Isso é extremamente necessário para que Caxias possa reinvestir em obras, em infraestrutura, melhorar a questão da saúde. Na educação, investimos muito, talvez tenha sido o período em que mais se investiu em educação. A gente não descuidou porque esse é um problema que se não investirmos agora nessas crianças, amanhã talvez a gente não recupere. A educação a gente tem levado com muito cuidado. A saúde, evidentemente, por força das longas filas que já existiam e agravadas pela pandemia, temos um grande desafio pela frente. Mas por outro lado, é importante que se comemore tantas vidas salvas pela eficiência do nosso Sistema Único de Saúde e pelo esforço das equipes que trabalham na área da saúde. Das cidades com o porte de Caxias, nós temos a menor taxa de letalidade durante o período da covid. Se por um lado a gente lamenta e chora as perdas de amigos e familiares, por outro, temos muito a comemorar porque muitas vidas foram salvas.