Uma obra repleta de significados é um dos pontos mais emocionantes do desfile cênico musical da 33ª Festa da Uva, em Caxias do Sul. Divididas em duas etapas, as projeções mapeadas, como são chamadas, dão cores à Catedral Diocesana carregando, em cada tempo, homenagens aos profissionais da saúde e aspectos vistos no próprio corso, os quais também ajudam a contar a história da cidade. As luzes embelezaram ainda mais o espetáculo na noite desta quinta-feira (24), na terceira edição dos desfiles cênicos musicais.
As projeções, inéditas neste formato, tem direção, criação, roteiro e ilustrações da artista visual Paula Suzuki, 44 anos. Ela conta que, pela dimensão, um trabalho deste porte duraria cerca de um ano, mas foi desenvolvido em 15 dias. Mesmo com o tempo curto e desafiador para executar a obra, a artista, que estreia na Festa da Uva, não deixou de lado a pesquisa e o estudo, dando um significado particular para cada elemento projetado na igreja.
O primeiro ato de projeções é uma homenagem aos profissionais da saúde, atuantes na linha de frente da pandemia. Paula conta que as ilustrações, que duram cerca de 3 minutos, renderam várias lágrimas, pois trouxeram à tona a lembrança de amigos perdidos pela doença. Embaladas pelo pulsar de um coração, as imagens, perfeitamente sincronizadas com o som, emocionaram o público na noite desta quinta-feira.
— É um muito obrigada mesmo aos profissionais da saúde e aos cientistas. É uma parte bem emocional. Trouxemos uma batida do coração, com barulhos de sirene, muito escutados na pandemia. O coração é vida e pulsa — detalha a artista visual.
Em uma das cenas mais bonitas, camélias rosas, as flores da saudade, se misturam a um coração e a uma figura feminina, disposta entre duas mãos e cercada por raízes.
— É a parte final, que representa a geração da vida — comenta Paula.
Durante as cenas vistas pelo público, ainda estão inseridas pequenas estrelas, representando as vidas perdidas, um dos pássaros mais simbólicas da Serra, o Bem-te-vi, além de ilustrações que representam os profissionais da saúde.
Já na segunda etapa do projeto, mais ao fim do desfile cênico musical, as ilustrações atuam como um desfecho ao corso, se misturando com aspectos históricos de Caxias do Sul durante sete minutos.
— Cada carro do desfile foi representado no mapping com uma outra linguagem. Em uma das partes, há uma ilustração com várias casinhas, com construções alemãs e italianas, que eu desenhei à mão. Pesquisei para saber como era Caxias no seu começo. Depois, temos outra parte bem interessante que é a chegada do trem — conta a roteirista e ilustradora.
O projeto ainda tem animação e operação de Julio Zambiazi, trilha sonora de Felipe Lyo Suzuki e projetores e técnica do Aero Estúdio Digital.
Mais uma noite de palmas e emoção
Se em dias comuns a Rua Sinimbu é espaço para o movimento frenético de veículos, nesta terceira noite de desfiles cênicos musicais a via pôde pulsar em outro ritmo, carregando histórias, música, dança e muita emoção.
O celular era item essencial na mão daqueles que queriam levar para casa um pouco da beleza da noite. De vídeo a fotos, cada momento do corso era registrado pelo público. Na plateia, a moradora de Caxias do Sul Vera Telles, 45 anos, animava-se a cada passagem dos carros alegóricos.
—Gostei muito da parte em que mostrou o crescimento da cidade e a força da mulher. Muitas culturas envolvidas. Foi muito bonito — resumiu.
Quem também se envolveu com o espetáculo foi o casal Juarez e Vera Tonietto, de 62 e 58 anos, respectivamente. Animados, eles batiam palmas e acenavam no ritmo das apresentações.
— A participação da comunidade é muito bonita. A gente sente uma emoção quando vê as pessoas se expressando e colaborando com a festa — destacou o administrador.
Corso integra gerações
De bebês de colo a adultos que somam várias festas em suas vidas, o desfile reúne gerações. E quem fez questão de levar a tradição adiante foi a embaixatriz da Festa da Uva de 2014 Valdnéia Borges de Abreu. Ela estava acompanhada dos filhos Augusto, 2 anos, e Arthur, 4, além do marido Fernando Massignani, 42.
— Eu amo a Festa da Uva e tenho que trazer esse amor para os meus filhos e para o meu marido também. Coloquei todo mundo no mesmo barco. É uma emoção — diz Valdinéia.
No carro dos distritos, o músico Gilney Bertussi, de Criúva, lembrou da infância e dos momentos vividos na festa pela família. Acompanhado da inseparável gaita, ele animou o público durante a sua passagem pela arquibancada.
— Está sendo sensacional. É um privilégio para mim estar ajudando a representar o nosso interior. A música dos Bertussi tem história junto com a Festa da Uva. Desde sempre participamos. Tenho fotos desde menino, de sete, oito anos, desfilando com meu tio Honeyde e meu pai Adelar — recorda.
Serviço
- O quê: desfile cênico musical.
- Quando: sábado, 26 de fevereiro, terça-feira, 1 de março e sábado, 5 de março. Os espetáculos iniciam às 20h.
- Trajeto: Rua Sinimbu, esquina com a Rua Alfredo Chaves, até a Rua Dr Montaury.
- Quanto: o desfile é gratuito. Quem optar em ir nas arquibancadas, o valor do ingresso é R$ 40 e a meia-entrada custa R$ 20.