O ano de 2022 começou germinando novas possibilidades para as comunidades de Caxias do Sul principalmente àquelas em situação de vulnerabilidade social ou em situação de insegurança alimentar. Sancionada em 17 de dezembro de 2021, a lei que institui o Programa Municipal de Agricultura Urbana tem por objetivo utilizar áreas urbanas para o cultivo de hortaliças, plantas medicinais, mudas e alimentos. O programa Horta Comunitária existe desde 2007, quando foi instalada a primeira no bairro Colina do Sol, porém ainda não havia a regulamentação. Com a sanção da lei, o município pode ampliar o número de plantações e alcançar ainda mais famílias.
As hortas são gerenciadas pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa), que possui outros projetos voltados para a segurança alimentar como o Banco de Alimentos e o programa Troca Solidária, no qual para cada quatro quilos de resíduos recicláveis, é entregue um quilo de hortifrúti.
São utilizadas áreas urbanas, de propriedade pública ou privada, cedidas temporariamente. A horta da Colina do Sol possui uma extensão de 4,53 hectares e beneficia mais de 73 famílias cadastradas, segundo Luana Mugnaga, assistente social e gerente de Segurança Alimentar da Smapa.
—É um benefício para toda a comunidade porque essas hortas geralmente são instaladas em locais onde antes eram espaços ociosos usados como local de entulhos e lixo e passam ser ocupados pela comunidade — aponta.
Após a aprovação da lei, foi iniciada a abertura de uma segunda horta no bairro Belo Horizonte, onde 21 famílias foram cadastradas. A futura horta fica em frente à UBS e costumava ser um terreno baldio cheio de lixo. No final de 20221, a prefeitura, em conjunto com os moradores, limpou o local e preparou os canteiros.
Nos próximos dias, o local será cercado e os canteiros demarcados. O aposentado Claudomiro Rangel da Silva, 62 anos, é uma das pessoas que vão fazer ser beneficiadas com a nova horta. Ele ajudou a limpar o local e está animado com as possibilidades que o plantio vai trazer.
— Para nós vai ajudar bastante! Fazia tempo que estava sendo debatido sobre essa horta. Nós temos uma horta vizinha que é bem-organizada e estamos tentando fazer o mesmo. Vai fazer a diferença na comunidade porque cada um vai plantar um pouco e cuidar — projeta.
Já Luana destaca também que outra vantagem são os alimentos saudáveis, uma vez que os vegetais plantados pelas famílias são livres de agrotóxicos.
— A horta comunitária possibilita também o acesso a uma alimentação mais saudável, considerando que atualmente as famílias que estão cadastradas nessas hortas se encontram em situação de insegurança alimentar — explica Luana.
O segundo benefício apontado pela gerente é o bem-estar que a horta proporciona à saúde mental. Na avaliação de Luana, a atividade permite um momento de lazer.
— Ali as pessoas têm a oportunidade de ter contato com a terra, com o meio ambiente, de produzir seu próprio alimento e ter uma ocupação — destaca.
A possibilidade de produzir seu próprio alimento e, mais ainda, de ter um passatempo, foi o que fez com que Dileto Maziero, 63, conhecesse a horta comunitária Colina do Sol. Maziero era motorista de ônibus e precisou se aposentar por problemas de saúde. Hoje, planta de tudo no seu canteiro, desde alface até cebola, alho, milho e feijão.
— Eu me aposentei por problema de saúde e precisava de algo para me ocupar. Eu comecei há mais de 4 anos quando vi uma senhora cuidando da horta e fiquei interessado. Para mim, sempre foi muito bom, porque eu ocupo meu tempo e minha cabeça — revela.
Além de uma alimentação saudável, a horta representa uma complementação da renda das famílias cadastradas. O excedente da produção pode ser comercializado na comunidade. Para ampliar esse potencial, a Smpa planeja feiras com os alimentos para criar a sensação de pertencimento na comunidade.
— Eu tenho uma parte pequena, então é mais pra mim e a família. O que sobra eu dou para outras pessoas. Mas para outras famílias é útil também porque elas podem fazem para vender e complementar a renda familiar — analisa Maziero.
A secretaria também está construindo um cronograma de atividades e deverá oferecer cursos e palestras alinhados às necessidades das comunidades, a exemplo dos cursos de aproveitamento de alimentos, manejo do solo e utilização de chás medicinais, já ministrados. Segundo Luana, 2022 promete também a implantação de novas hortas que já estão em avaliação pela prefeitura.
Caxias tem outras hortas mantidas por famílias, entidades ou comunidades, mas sem ligação com o programa municipal.
