A variante Ômicron do coronavírus ainda deve levar algum tempo em propagação na Serra. Ainda que se estime que a chegada do pico possa ocorrer entre quatro e seis semanas – recentemente, a secretária da Saúde de Caxias, Daniele Meneguzzi, apontou que esse momento poderia ser ao final de janeiro –, é cedo para prognósticos precisos. Por enquanto, os dados apontam progressão na curva de contágio e já existe reflexos em hospitalizações e óbitos.
Existem vários países onde a Ômicron teria atingido o pico e, por isso, é até fácil encontrar projeções apontando que a curva chega ao topo na sexta semana, como foi no Reino Unido, ou até em quatro, como na África do Sul. Só que cada local possui especificidades.
No momento atual, Caxias está com 50% de positividade nos testes na rede pública de saúde, indicando que a contaminação está alta e distante de cair. A se considerar a facilidade de contágio da atual variante, a estatística mostra que o aumento de casos poderá ir além da primeira quinzena de fevereiro, com alto número de casos, mesmo que distante dos piores momentos, entre março e julho de 2021. Ao mesmo tempo, a partir de março a tendência é que comece a ascensão das curvas por complicações respiratórias devido às quedas de temperatura.
De acordo com o cientista de dados da Rede Análise Covid-19 Isaac Schwartzhaupt, uma onda de contágio depende de muitos fatores, que vão das pirâmides etárias, cobertura vacinal, quantidade de pessoas que estão suscetíveis a contrair o vírus e evolução para situações mais graves. Por isso, é difícil saber em que momento a cidade está neste crescimento e tampouco quando os números irão reduzir, Para ele, é hora de estancar a curva para que ela não se junte às complicações gripais ali na frente.
— Na minha visão, o mais lógico é reduzir a transmissão e fazer o pico durar pouco e não acreditar que ele vai ser rápido, deixando os suscetíveis mais vulneráveis a contrair o vírus. Se pegarmos no Brasil, que tem 35% de pessoas ainda não imunizadas, são 65 milhões de pessoas, com as crianças incluídas nesse grupo. Ainda existem muitas pessoas suscetíveis e não dá para apostar que aqui o pico será rápido — ressalta.
Mesmo com os alertas emitidos para todas as regiões do Rio Grande do Sul, os prefeitos ainda apostam numa tentativa de conscientização da população sobre os cuidados básicos. Na Serra, ainda não há previsão de medidas mais rígidas. Ao mesmo tempo, as hospitalizações crescem e um número da Secretaria Estadual da Saúde (SES) chama a atenção: as internações pediátricas. O dado estadual aponta para crescimento justamente de uma parcela da população que demorou para iniciar a campanha de imunização e ainda sofre com muita desinformação. Os dados da SES mostram que, ontem, eram 88 crianças internadas em leitos clínicos e 42 em UTIs, sendo que duas positivas e uma suspeita estavam em Caxias.
Internações também estão aumentando
O disparo de casos positivos impacta em todas as demais pontas, principalmente nos hospitais. Mesmo que ainda esteja longe da possibilidade de colapsar o sistema, como entre março e julho passado, os números apontam que existe um aumento considerável de internações. Os dados em Caxias são voláteis e não seguem uma constante. Afinal, dependem da inclusão de dados no sistema dos testes realizados no sistema público, laboratórios e farmácias, que fazem exames particulares. Na última terça, o acúmulo de dados gerou a inclusão de 1.141 diagnósticos positivos, uma das maiores marcas da pandemia.
Segundo números do governo do Estado, a variação de casos positivos para a Serra no acumulado por 100 mil habitantes está girando em torno de 46% nos últimos sete dias. As internações também aumentaram, com acréscimo de 57% de pacientes em leitos de enfermaria e 60% de novos pacientes em tratamento de alta complexidade. Hoje, pouco mais de 17% dos que estão internados em UTI são positivos para a covid-19. A última atualização no sistema apontava que Caxias tinha 29 positivos para a infecção e cinco suspeitos, números distantes do início do mês, que registrou cerca de um terço desse número.