O número de mortes em acidentes de trânsito nas áreas urbana e rural de Caxias do Sul nos primeiros seis meses de 2020 é o menor desde o início da série histórica de contabilização dos dados no município em 2007. O levantamento da Secretaria de Trânsito e Transporte aponta redução de 67% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2019. De acordo com os dados, 11 pessoas perderam a vida em ruas, avenidas e rodovias que cruzam a cidade. Chama atenção o fato de todas as vítimas serem homens, sendo que a idade de maior incidência é a da faixa entre 41 e 48 anos, com cinco vítimas.
Em 2019, 34 vidas foram perdidas no primeiro semestre contra 33 de janeiro a dezembro de 2018. Ou seja, no ano passado, o número de vítimas que perderam a vida no primeiro semestre já era maior que o número de mortes dos primeiros meses de 2018.
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Historicamente, as rodovias que atravessam Caxias do Sul são os pontos que concentram o maior número de mortes. A estrada que lidera o ranking de ocorrências fatais em 2020 é a RSC-453, a Rota do Sol. Seis pessoas perderam a vida em cinco acidentes na rodovia. Em 2019, a rodovia também liderou o número de mortes nos seis primeiros meses do ano: 10 pessoas morreram em ocorrências no perímetro urbano da Rota do Sol. Neste ano, duas mortes aconteceram no Km 163, entre os distritos de Vila Seca e Fazenda Souza.
As demais colisões foram no km 164, próximo de Vila Seca, no Km 2, no acesso ao bairro Cidade Nova, no Km 0, próximo ao viaduto Torto, e outro no km 142, próximo da passarela do bairro Santa Fé. Outras duas mortes aconteceram na RS-122, uma no Km 80, próximo ao Porto Seco, e outra no km 66, perto do antigo radar. Outras duas foram registradas na Avenida Bruno Segalla, a Perimetral Sul, e outra morte foi no km 149 da BR-116, no acesso ao bairro Serrano.
Vidas perdidas
Por trás de cada número, há uma vida perdida e uma família tomada pela dor de perder um ente querido de forma inesperada. A morte trágica de Michel Beltrão Custódio, 18, deixou em choque familiares e amigos. O jovem é uma das vítimas de acidente na Rota do Sol. Era um domingo, 24 de maio de 2020. Michel teria pego o carro do pai, um Gol, sem autorização e saído sem comunicar ninguém. Na ocasião, o primo dele, Celso Júnior, 26, contou que ele pegou o carro escondido:
- Por volta das 6h meu tio foi levar a minha prima pro trabalho e o carro não estava em casa. Tentaram contato com ele mas não conseguiram. Ele pegou o carro escondido, de madrugada. Não tinha carteira de motorista (Carteira Nacional de Habilitação), ninguém sabe pra quê ele saiu - afirmou.
O acidente ocorreu por volta das 7h30min, no trecho do viaduto torto, km 0 da RSC-453. Ele trafegava no sentido Caxias-Farroupilha, quando perdeu o controle do veículo e acabou chocando-se contra uma mureta de contenção. Custódio estava sozinho no carro e morreu no local. O jovem era tranquilo e costumava ficar em casa.
Em outro acidente na estrada que contabiliza mais vítimas, Luis Joanito Pereira, 46, e Zairo Lopes da Silva, 48, perderam a vida em uma colisão entre o Kadett, dirigido por Pereira, e um ônibus de excursão que voltava do litoral. Era noite e chovia no momento do acidente. A colisão frontal aconteceu em 16 de fevereiro, no km 163 da RS-453, a Rota do Sol, entre os distritos caxienses de Vila Seca e Fazenda Souza.
No ônibus, que tombou, estavam 34 passageiros. Destes, 16 foram socorridos, dos quais 14 precisaram de atendimento em unidades de saúde e dois hospitais da cidade.
Pandemia e fiscalização reduziram mortes no trânsito
A pandemia de coronavírus pode ser considerada um dos fatores que impactou nos dados de trânsito, já que, com menos motoristas circulando nas ruas, a possibilidade de acidentes reduziu consideravelmente. A secretaria também atribui à redução do número de mortes as constantes operações realizadas pela Fiscalização de Trânsito.
O diretor de Trânsito e Transportes da SMTTM, Eder Martini, avalia que os números não refletem tranquilidade, pois houve uma diminuição considerável na circulação dos veículos, principalmente no turno da noite.
- Devemos analisar a questão da alcoolemia no trânsito, visto que hábitos sociais foram alterados em razão da pandemia, fato que refletiu em uma possível diminuição do consumo de bebidas alcoólicas fora do ambiente residencial - explica ele.
Já o secretário de Trânsito, Alfonso Willenbring Júnior, afirma que a redução é positiva, mas lamenta as vidas perdidas no trânsito caxiense:
- A queda no número das ocorrências certamente tem como motivação a redução momentânea do tráfego de veículos em virtude da pandemia da covid-19, mas igualmente podemos atribuir os indicadores ao resultado das alterações promovidas nas rotinas de fiscalizações da SMTTM - aponta.
Fortalecer a fiscalização
Professor de legislação de trânsito, autor de livros, palestrante e ex-coordenador do Movimento Internacional Maio Amarelo, Ordeli Savedra Gomes, acredita que para que o número de mortes seja ainda menor é preciso educação no trânsito:
- O trânsito é complexo em si porque temos que avaliar a rodovia, o veículo e o condutor. O motorista é o principal responsável pela sua segurança e dos demais que estão ao redor dele no trânsito. Ele tem que dirigir sem influência de drogas ou álcool e estar tranquilo e preparado para dirigir. O carro também precisa estar está ok, em condições. É preciso checar os pneus e todos os detalhes antes de dirigir, principalmente, se for circular por rodovias.
Ele frisa que há essa necessidade de harmonia entre o veiculo, a via e o ser humano. No entanto, lembra que o ser humano é a questão mais complexa dessa equação.
- Em Caxias do Sul há a participação da secretaria de Trânsito nas escolas e nos centro de formação de condutores para falar sobre a responsabilidade de dirigir. O ideal seria que o código de trânsito, que prevê educação desde a pré-escola, virasse realidade. A conscientização em colégios e nos locais de trabalho, não apenas na semana de trânsito, serviria para alertar as pessoas para que cuidem de si e dos outros no trânsito.
Gomes ressalta ainda que o ideal seria que se a pessoa comete um crime de trânsito, ela fosse presa, mas, como isso nem sempre ocorre, há uma sensação de impunidade.
- Se a pessoa não tiver na sua cultura que deve cumprir as normas de trânsito mesmo sem fiscalização, ela vai quebrar as regras e se colocar em risco. Quando um motorista se coloca em risco, expõe os demais, então é preciso reforçar as ações de fiscalização e potencializar a capacidade de fiscalização do Estado para prevenir acidentes - finaliza.
LEVANTAMENTO DE ANOS ANTERIORES
Desde janeiro de 2007 até junho deste ano, os dados mostram 705 mortes no trânsito caxiense. Com 373 mortes em primeiros semestres, observa-se leve superioridade de acidentes fatais nos primeiros seis meses de cada ano, quando foram registrados 52,9% dos óbitos. Já os acidentes com vítimas fatais que aconteceram de julho a dezembro representam 47,1% do total de ocorrências com mortes nas vias urbanas e rurais de Caxias.
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