A pandemia de coronavírus criou uma realidade diferente para as escolas no mundo todo. Diante do novo cenário surgem dúvidas: aulas online contam ou não como dia letivo nas escolas? O conteúdo repassado por meio remoto pode ou não ser considerado dado pelos professores? Para orientar as redes de ensino, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou no último dia 28 uma resolução sobre educação remota. No parecer, o órgão definiu que estudos monitorados serão considerados como validação de horas letivas.
Com a medida, as escolas municipais de Caxias do Sul foram orientadas pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) a definir uma nova forma de trabalho dos professores. Ao contrário da rede estadual e particular, que encaminha aulas online para os alunos sem que os profissionais tenham que sair de suas casas, os professores da rede municipal precisam se deslocar até os colégios para produzir conteúdos e encontrar estratégias para entregar as atividades para as famílias dos alunos desde a última segunda-feira.
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- Diferente das outras redes, o município não tem uma plataforma para que os conteúdos sejam acessados pelos estudantes. Repassamos diretrizes e protocolos de cuidados e as escolas podem se organizar de acordo com cada realidade. O primeiro passo é um levantamento dos dados de cada aluno. Essa investigação precisa ser presencial, mas cada colégio está tomando as medidas para evitar aglomerações. As reuniões presenciais têm sido com grupos pequenos, de quatro a cinco professores de hora em hora para manter o distanciamento - diz a secretária de Educação, Flávia Vergani.
Ela garante os cuidados necessários estão sendo tomados, respeitando os protocolos para evitar os riscos de contágio pelo coronavírus:
- Há circulação de professores, mas sem aglomerações. Cada colégio pode usar as ferramentas digitais à disposição para a reunião. Há redução de 50% no número de professores para manter o distanciamento e sabemos que cada escola irá tomar todos os cuidados para a retomada do ensino. Cada uma definirá como será feita essa pesquisa para criar os estudos monitorados. Temos que ser criativos para nos conectarmos, mantermos vínculos e que eles estudem e tenham acesso ao conhecimento em casa, sem se expor ao risco de contágio. Os diretores e professores estão preocupados em encontrar a melhor forma de operacionalizar essa criação de conteúdo - afirma ela.
Ainda conforme a secretária o desafio é que todos os alunos tenham acesso aos estudos programados:
- Os detalhes serão definidos nos próximos dias. Podem ser grupos em redes sociais ou aplicativos de conversas com os pais e alunos que tem acesso a essas ferramentas. Existe a questão de impressões, por exemplo, de entregar os conteúdos. Isso será presencial ou com horário marcado? Pelo Correio? São essas questões que estão sendo alinhadas e definidas por cada escola da rede municipal - finaliza.
Retorno com cuidados
A presidente do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindserv) Silvana Pirolli concorda que é preciso atender a aprendizagem, mas sem colocar em risco os professores.
- A vida e a rotina escolar nesse momento não são como antes. Sabemos que, ao contrário da rede estadual e particular, o município precisa de outras alternativas para entregar os estudos a cada aluno, que só uma parte dos alunos têm acesso às redes sociais. Quanto aos outros, é preciso pensar em outra estratégia e dependerá de cada escola definir como esse conteúdo chegará a eles.
Ela explica que a Smed e o Sindiserv repassaram protocolos para que os professores não estejam expostos a riscos de contágio pelo coronavírus no ambiente escolar:
- Não há necessidade de toda a equipe ir até a escola. Nesse primeiro momento será necessário o trabalho presencial para o levantamento dos dados, mas sem aglomerações. As reuniões são em turnos diferentes ou online. Professores do grupo de risco não devem participar de nenhuma atividade presencial - frisa ela.
A presidente destaca que há outras orientações para priorizar a saúde:
- Orientamos a entrega dos conteúdos por e-mail para que nem o aluno, nem o professor saia de casa. Se tiver que ser presencial será com agendamento e todos os cuidados. O levantamento auxiliará porque há familiares na mesma escola. Pedimos que não mandem as crianças buscar o material, conferir se a entrega está agendada para aquele dia e executar todos os procedimentos de saúde.
"É nossa missão fazer com que os alunos tenham acesso ao aprendizado", afirma diretora
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ilda Clara Sebben Barazzetti, no bairro Santa Fé, os professores tomam todos os cuidados de higienização e proteção para manter a saúde e combater a disseminação do vírus:
- Estamos em uma comunidade em que a grande maioria das famílias tem acesso de comunicação com a escola por aplicativos de conversa. Porém, isso não significa que há condições de mandar conteúdo para baixar da internet. Alguns têm mais de uma criança na escola e precisamos mandar mais de um conteúdo. É nossa missão fazer com que os alunos tenham acesso ao aprendizado. Fracionamos o número de professores pela metade em uma sala ampla e bem ventilada, mantendo todos os cuidados necessários. Os nossos professores estarão na escola três vezes por semana - afirma a diretora Cristiane Beltrame Padilha.
Ela explica que as séries iniciais vão receber livros e conteúdos em casa. Já os mais velhos receberão orientações e conteúdos pela internet:
- Do 1º ao 5º ano, os livros e materiais impressos serão colocados em sacolas, que serão organizadas pelos professores. Para os alunos dos anos finais vamos usar os recursos online, porque eles têm celular próprio. Os professores vão conversar com os estudantes por aplicativos de mensagens e redes sociais para monitorar as atividades e esclarecer dúvidas.
A diretora lembra ainda que há diferenças entre a realidade de cada rede de ensino:
- A localização física das escolas da rede municipal é diferente da grande maioria das escolas estaduais. As comunidades que atendemos são de famílias com diferentes perfis sociais e com dificuldades socioeconômicas. Reduzimos ao máximo o presencial, mas com qualidade. Está difícil para as crianças esse tempo todo sem a rotina escolar.
Na Ilda Clara Sebben Barazzetti, os conteúdos serão entregues às quintas, sextas e segundas-feiras, fisicamente e de forma virtual, aos adolescentes. Caso alguma família tenha dificuldade de acessar o online, a escola entregará o material impresso.
- A escola tem um papel importante e o professor faz diferença porque o aluno se sente importante e amparado. Todo mundo sabia ser professor até que os filhos tiveram que ficar em casa. As pessoas agora se dão conta de como a escola é essencial - ressalta.
Smed lança Portal do Estudante
Para auxiliar nesse novo momento das escolas municipais, a Smed lançou terça-feira o Portal do Estudante (estudantes.caxias.rs.gov.br). A titular da Smed, Flávia Vergani, explica que cada escola terá uma pasta onde postará conteúdo e atividades aos alunos. Os pais serão capacitados para usar a ferramenta. O site foi criado pelas professoras e assessoras pedagógicas de informática e educativa da Smed, Sintian Schimidt e Raquel Cristina Tedesco e por Fernando Brombatti, técnico de informática do município.
- É um projeto colaborativo entre a secretaria e as escolas. Cada escola disponibilizará os conteúdos nesse ambiente virtual. É um portal aberto e com conteúdo para toda a comunidade, mas cabe aos colégios alimentarem a ferramenta com materiais e colocar à disposição dos alunos. Já havíamos pensado em fazer essa ferramenta há tempo, mas efetivamos a ideia na última semana - explica Sintian.
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