A chamada "cooking class" (aula de culinária), em seu modo presencial, já era aclamada pelos alunos da teacher Patricia Dachery, 26, que leciona inglês há quatro anos na Cultura Inglesa de Caxias do Sul. Desde que as aulas passaram a ocorrer à distância, de forma online, a atividade foi adaptada ao novo formato, sendo realizada na cozinha de cada estudante, com a participação de toda família. Esse é apenas um exemplo entre tantos outros conteúdos que vem sendo readequados por ela e outros professores da escola como forma de garantir o aprendizado de quem acompanha o encontros, agora por intermédio das telas de computador e celular.
De acordo com Patricia, logo que as instituições foram fechadas por decreto governamental em prevenção à covid-19, a escola de idiomas migrou para o formato online. Em escolas de ensino regular, universidades e mesmo no ensino individual particular, o mesmo movimento aconteceu, exigindo uma rápida adequação dos professores em relação à educação que ainda se apoiava em atividades presenciais.
— Sou apaixonada pela minha profissão, mas é uma atividade desgastante mesmo em sala de aula. Agora, à distância, esgota muito mais porque ninguém estava preparado pra isso. É uma realidade que se projetava para um futuro distante mas, de repente, chegou — relata Patricia, que é formada em Direito e atualmente cursa Letras na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde, como aluna, também participa das aulas de forma virtual.
Para ela, o momento exige uma preparação muito maior dos professores. Isso porque, além de adaptarem as metodologias de ensino, eles também precisam preparar um local adequado em suas casas e atentar ainda mais para o conteúdo da aula que, no caso da Cultura Inglesa, é gravada e muitas vezes acompanhada pelos pais dos alunos. Segundo ela, é mais desafiador prender a atenção dos alunos fora do ambiente de sala de aula.
— São cuidados que nós precisamos tomar mas eles nem sempre tomam. Em casa têm mais distrações, acabam assistindo televisão durante a aula, fazendo carinho no cachorro... A interação que se tem em sala de aula também faz muita falta, principalmente para as turmas adultas e as infantis. Mas a gente vai adaptando. A cooking class com os pequenos deu certo online — conta a teacher, que atualmente leciona para seis turmas com estudantes de cinco a 50 anos.
Renata Todeschini, 39, que mora em Bento Gonçalves, é professora de francês e também sente que as aulas online exigem mais energia.
— Os alunos estão gostando bastante desse formato, porém, a quantidade de trabalho acaba sendo maior pois tudo é mais rápido, temos que preparar mais material e diversificar ainda mais as atividades para que a aula não fique monótona. Na aula presencial, eu me movimento, os alunos trabalham em grupo, fazem atividades em pé, há uma movimentação que não existe no online — avalia a professora, que leciona de forma independente e optou pelo isolamento, propondo a alternativa virtual que foi aceita por todos os alunos.
Ela conta que a formação sobre ensino de línguas e tecnologias, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), onde cursa Letras-Francês, bem como as formações da Aliança Francesa, instituição em que trabalhou por oito anos, facilitaram sua adaptação ao formato. Além das aulas por meio da internet, ela mantém um perfil no Instagram (@renatatouille_frances) onde publica dicas e lições a respeito do idioma e da cultura francesa.
A nova rotina, que possibilita a continuidade das aulas com mais segurança para Renata e para os alunos, também vem sendo experimentada por seu marido, Douglas Ceccagno, 41, professor do curso de Letras-Inglês e do Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura da UCS. Segundo ela, ambos seguem com a mesma rotina, porém, agora, de casa.
— Eu dou aulas no escritório e o Douglas na sala. Em alguns momentos, temos aulas ao mesmo tempo, e temos sorte de ter um espaço e um notebook para cada um, sabemos que essa não é a realidade de muitos professores — afirma Renata.
Dentro da proposta da universidade, assim como outros colegas, desde o dia 23 de março, Ceccagno vem adaptando as aulas que ministra para quatro disciplinas, assim como as orientações de trabalhos acadêmicos. O profissional diz passar com tranquilidade pelo momento, embora alguns alunos precisem de uma atenção diferenciada por enfrentarem dificuldades como a limitação no acesso à internet de qualidade.
Em casos assim, a atenção envolve até mesmo o envio de material e um formato alternativo de avaliação. Outra adequação necessária é referente ao material de apoio, que antes contava com leituras de exemplares físicos, disponibilizados pela biblioteca da universidade. Agora, o professor precisa criar materiais ou buscar conteúdos disponíveis na internet, para que todos os estudantes tenham acesso sem sair de casa.
— Dá mais trabalho e exige uma adaptação, mas funciona. Antes, eu viajava de um campus para outro para dar aula; hoje eu posso ficar em isolamento, me protegendo da pandemia, assim como os alunos. É uma medida importante — conclui.