Um cartaz avisa aos pacientes da Unidade Básica de Saúde (UBS) Desvio Rizzo, em Caxias do Sul, que não há preservativos. No Esplanada, apenas caixas vazias são encontradas pelos pacientes que costumavam retirar as camisinhas disponíveis na rede pública de saúde. O auxiliar administrativo Darlan Gebing, 22 anos, esteve na UBS do Desvio Rizzo na última semana para uma consulta de rotina e foi surpreendido pelo cartaz:
– Como de costume aproveitei para passar na farmácia e retirar alguns preservativos. Quando eu cheguei lá havia um cartaz com os dizeres “Não temos preservativos”. Perguntei para a atendente se aquele recado era verdade e se de fato não havia preservativo. Ela me disse que estavam em falta pois o governo não havia enviado.
O jovem reclama que muitos pacientes não têm condições de comprar preservativos.
– Essa situação me indignou, pois eu posso passar em uma farmácia e comprar caso precise, mas sei de muita gente que não tem essa opção. Aprendi na escola que era um direito e agora que eu quero usufruir do meu direito e eu não posso. Estamos retrocedendo quantas décadas? – questiona.
A situação era a mesma na UBS Esplanada. De acordo com pacientes também há falta de teste rápido de gravidez na unidade. Nos postos do Bela Vista, Cruzeiro e Campos de Serra os preservativos foram repostos na sexta-feira passada.
O estoque está praticamente zerado na maioria da rede, sendo que o desabastecimento começou há dois meses, quando o Ministério da Saúde passou a enviar para a prefeitura quantidades menores do que de costume.
Com a falta de preservativos, a principal preocupação dos profissionais de saúde é com o possível aumento de casos de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, e também de gravidez precoce, principalmente de jovens de vivem em áreas mais vulneráveis de Caxias do Sul.
Uma enfermeira que atua em um dos postos de saúde de Caxias ressalta que a falta de preservativos é um alerta. Ela desabafa sobre o dia a dia dentro da UBS:
– É uma situação muito grave. A população carente muitas vezes perde consultas por não ter dinheiro para passagem de ônibus. Essas pessoas não têm como comprar preservativo. Ficamos apreensivos com a situação. Imagina os adolescentes que recorrem à rede pública? Há o risco de doenças sexualmente transmissíveis como HIV, HPV e sífilis. Muitos profissionais do sexo buscam preservativos nas UBSs.
A enfermeira ressalta ainda o risco de gravidez precoce ou não planejada.
– Há muitas mulheres que atrasam o anticoncepcional via oral e injetável e a orientação para não engravidar é justamente o uso do preservativo. Ou aquelas que estão tratando algum problema ginecológico e a prevenção é o uso do preservativo – afirma.
Até o final de 2018, eram 2.947 pessoas vivendo com HIV/Aids em Caxias, segundo dados da Vigilância Epidemiológica.
O QUE DIZ A SECRETARIA DE SAÚDE DE CAXIAS
z A Secretaria de Saúde ressalta que a responsabilidade pelo fornecimento de preservativos é do Ministério da Saúde, que informa apenas que está com problemas de distribuição. Segundo a assessoria de imprensa da SMS, em junho, Caxias não recebeu repasse e, em julho, a quantidade encaminhada foi menor do que o necessário para a demanda.
Levantamento da secretaria informa que, em 2018, o consumo passou de 1,3 milhão de preservativos, sendo que a quantidade solicitada pelo município ao Ministério da Saúde foi de 1, 47 milhão. O governo federal encaminhou 957.600, o que equivale a 65% da demanda registrada no ano passado. Neste ano, Caxias solicitou 936 mil camisinhas, mas até o momento recebeu pouco mais de 300 mil.
Como o Serviço de Infectologia percebeu que as remessas têm sido cada vez menores, o município abriu licitação para adquirir 20% do quantitativo anual. A aquisição está prevista na resolução da Comissão Intergestores Bipartite (CIB). O decreto determina que se a União não fornecer a quantidade necessária, o município pode efetuar a compra. Entretanto, é a primeira vez que a prefeitura precisa, pois nos anos anteriores sobravam camisinhas. O processo está em fase de orçamento. Mesmo com essa compra que equivale a 280.800 preservativos, o número ainda ficará abaixo da demanda registrada na cidade.
A remessa do Ministério que chegou ao município no dia 1º de julho já está sendo distribuída e está concentrada no Serviço Municipal de Infectologia, porque há usuários cadastrados. Esclarece também, que a UBS Desvio Rizzo teria sido reabastecida na segunda (8) e a Esplanada será no dia 15 de julho.
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