O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs/RS) confirmou um caso de paciente com diagnóstico de leptospirose em Caxias do Sul, em maio deste ano. Indícios apontam que ele teria sido infectado no canil municipal da cidade, onde presta serviços.
O Pioneiro teve acesso a fotografias e vídeos que mostram a presença de ratos, ratazanas, ratos de telhado e camundongos no canil. Os roedores são os principais transmissores da leptospirose, uma infecção aguda, potencialmente grave, transmitida ao homem pela urina dos animais.
O contágio também ocorre pela exposição à água contaminada pela leptospira, que penetra no organismo pela pele, principalmente se houver algum ferimento ou arranhão e se espalha na corrente sanguínea. Os micro-organismos podem sobreviver nos rins dos animais infectados sem provocar nenhum sintoma e, no meio ambiente, por até seis meses depois de terem sido eliminados pela urina.
Segundo informações do Estado, a pessoa contaminada reside e trabalha na área urbana de Caxias do Sul. A reportagem identificou que se trata de Valdemar Ferreira França, 48 anos, funcionário de uma empresa terceirizada do canil (leia mais na página ao lado).
Ainda conforme o Cevs, medidas de controle e preventivas já foram adotadas no ambiente de trabalho do paciente, possível local de contaminação. A Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde de Caxias também confirma o caso. De acordo com o coordenador, Rogério Poletto, com base em informações e indícios coletados na casa do paciente e na chácara que abriga os cães, em São Virgílio, o local mais provável para ter ocorrido o contágio é o canil municipal de Caxias.
Esse é o sétimo caso da doença no município neste ano. No entanto, chama a atenção a possibilidade da contaminação ocorrer no canil, uma vez que os próprios cães podem ser infectados. O animal doente elimina a bactéria pela urina. O contato com urina, água contaminada, utensílios contaminados ou sangue do animal doente pode transmitir a doença a outros cães e humanos. Poletto reitera que após inspeção na moradia e no local de trabalho do paciente, o canil é o local mais provável para o contágio:
— Pelos indícios da presença de roedores e de animais oriundos da cidade inteira, os cães podem ter sido contaminados e transmitido pela urina a leptospira. A presença dos roedores, no entanto, chama mais atenção, pois o roedor é um reservatório natural da doença.
Visita ao canil
Poletto informa que a Vigilância Ambiental foi até o canil depois de receber a confirmação da doença no paciente. Assim que o homem teve alta hospitalar, inspecionaram a casa.
— Recebemos uma informação que atrasou o relatório que apontava que ele tinha outra residência, o que não se confirmou. Então, encerramos o relatório que foi encaminhado à Secretária do Meio Ambiente. As pessoas vivem e circulam em vários lugares, por isso não podemos garantir 100% que o contágio foi no local de trabalho. Perguntamos se ele viajou, se foi para outras regiões, frequentou lugares alagados, limpou fossas e ele disse que não. Com base nisso, o local mais provável é o canil _ reitera o coordenador.
Ele afirma que a inspeção no abrigo identificou vários vestígios da presença dos roedores.
"Me sinto muito fraco. Tenho dores e manchas"
Valdemar Ferreira França foi diagnosticado com leptospirose em 27 de maio deste ano. Ele é funcionário há um ano e sete meses de uma empresa terceirizada que presta serviços ao canil municipal de Caxias do Sul. Os sintomas da doença começaram no dia 25 de maio.
– Senti uma forte dor no braço direito, que se espalhou pelo quadril. Na madrugada, acordei e não sentia as pernas. Perdi o movimento e não conseguia ficar em pé. Fui encaminhado para atendimento na UPA e tive alta. Trabalhei no dia seguinte e, no dia 27, voltei a me sentir mal e me levaram para o Hospital Geral, onde constataram a leptospirose.
França ficou internado até o dia 8 de junho e ainda sente os reflexos da contaminação:
– Me sinto muito fraco. Tenho dores abdominais, manchas roxas pelo corpo e as pernas fraquejam. Não posso tomar medicamentos para dor para não comprometer os rins ou o fígado e fui orientado pelo médico que, em caso de febre alta, devo voltar imediatamente ao hospital – relata.
França segue em acompanhamento médico.
Funcionários do canil estão assustados
Os demais funcionários do canil (identidade foi preservada) garantem que há infestação de roedores, principalmente, devido aos estoques de ração e de caixas d' água mal vedadas e sem tampas.
– Os ratos estão nos dando rasteira dentro do canil. Tivemos que limpar as caixas para poder tomar água.
Ele diz que estão apreensivos com a situação:
– Estamos com medo porque outros podem ser infectados. Estávamos bebendo água podre. Tinha rato morto boiando. À noite é assustador. Eles (os ratos) correm em cima dos fios de luz e dos murros. É um horror.
Outro funcionário ressalta:
– Os ratos comem a ração e tomam água nos potes dos cães. Trabalhamos sem equipamentos que possam nos proteger. Até o momento, não nos solicitaram exames para ver se estamos com a doença, porque tivemos contato com o ambiente que está infectado.
"Estamos mantendo o controle da situação"
A diretora do Departamento de Proteção e Bem Estar animal da Semma, Marcelly de Souza Paes, assegura que não há outros funcionários do canil com suspeita da doença.
Há infestação de roedores no canil?
Marcelly de Souza Paes: Sempre teve por se tratar de zona rural e por ter grande oferta de alimentos. Quando assumimos, em 2017, havia muito mais. Sempre mantivemos com venenos. Estamos mantendo o controle da situação.
Quais as medidas para controlar a infestação?
A equipe que faz a desratização das praças faz também no canil.
Há cachorros infectados?
Não temos cães doentes tão pouco outro funcionário com qualquer suspeita.
As caixas d'água foram limpas e vedadas?
Sim.
A comida está estocada em local mais seguro?
Sempre esteve em locais fechados para diminuir a chance de qualquer contato com roedor.
Solicitaram exames para reduzir o risco de contágio?
Desde que houve a suspeita entramos em contato com a Secretaria da Saúde para medicarmos os funcionários profilaticamente. Todos os funcionários recebem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Quais as medidas a partir de agora?
Estamos com um plano de combate mais intenso em relação aos roedores e existe uma licitação para que seja feito o controle dos bichos. Os funcionários receberão o tratamento a partir da semana que vem.
Casos em Caxias de 2016 a 2019
Ano confirmados descartados total
2016 9 18 27
2017 9 23 32
2018 7 17 24
2019* 7 9 16
* até maio
Fonte: Dados Sinanet - Vigilância Epidemiológica - Secretaria de Saúde de Caxias do Sul
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