Familiares, amigos e colegas de Rariel Bianchi da Silva, 13 anos, se despediram dele na tarde da última quinta-feira, em Vacaria. Ele morreu na manhã do dia anterior em decorrência de uma crise respiratória aguda. O caso gerou comoção na cidade e foi registrado pela família na Polícia Civil. Os parentes do menino alegam que ele foi vítima de negligência por parte da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Barcelos, para onde foi levado ao sentir-se mal.
Passava um pouco das 8h de quarta e Rariel estava na sala de aula do 8º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Juventina Morena de Oliveira, onde estudava, quando falou que não se sentia bem. Como ele tinha histórico de asma crônica e crises recorrentes, uma funcionária da escola o acompanhou à UBS, que fica ao lado do estabelecimento de ensino. Segundo a diretora, Adriana Marcolin, eles saíram do educandário às 8h37min. Não levaram dois minutos até a unidade de saúde. Porém, lá, a situação se complicou.
A família de Rariel diz que ele não foi atendido por um médico que estaria presente no local. A servidora da escola que estava com o adolescente confirmou a versão à diretora.
– Pelo que fiquei sabendo da minha funcionária, a remoção foi demorada. Ele não foi atendido, não foi encaminhado para médico. Foi aconselhado a voltar para escola e que chamasse o Samu na escola. Aí, ele teve uma crise lá (no posto). Tinha uma ambulância no local, mas ficaram discutindo quem iria acompanhar ele, demoraram um tempo – contou a diretora com base no que a funcionária da escola relatou a ela.
Um tio do menino e uma servidora da UBS foram junto com o paciente na ambulância e seguiram em direção ao Hospital Nossa Senhora da Oliveira. No atestado de óbito, datado da última quarta-feira, consta o horário da morte, 9h35min, a causa, insuficiência respiratória aguda, e o hospital como local do óbito. Segundo o hospital, o adolescente chegou morto ao local.
Na escola, as aulas foram suspensas para os 463 alunos – 23 deles da sala de Rariel – na quarta e quinta e retomadas nesta sexta ainda em clima de consternação.
– Passamos a manhã conversando com os alunos. Foi bem triste, bem comovente. Ele era muito participativo, atuante, inteligente, organizado nas atividades, bem humorado. Tinha um círculo de amizades muito ampliado. Sempre foi um menino alegre. Se destacava – comentou a diretora.
O Pioneiro procurou a Secretária de Saúde para pedir esclarecimentos, mas a prefeitura se manifestou apenas em nota. O email enviado pela assessoria da prefeitura diz que a "administração municipal não se pronunciará nesse momento, sobre o preocupante caso ocorrido no dia de ontem (quarta) em uma de suas unidades de saúde". O texto da nota oficial informa a abertura de um "processo de sindicância investigatória para apurar os fatos referentes ao atendimento prestado na Unidade de Saúde do Bairro Barcelos".
A ocorrência feita na polícia foi tipificada como homicídio culposo – quando não há intenção de causar a morte. No registro, o pai de Rariel, Antonio Sergio Granetto da Silva, 43 anos, afirma que houve negligência por parte do serviço de saúde municipal, já que não foi aplicada medicação no adolescente, e pede que seja apurada a conduta dos profissionais da unidade. A polícia instaurou inquérito e na sexta começou a ouvir testemunhas. Também foi solicitado ao cartório de registros a declaração de óbito.
– Queremos compreender o que aconteceu lá (na unidade) – disse o delegado Carlos Alberto Defaveri, responsável pelo caso.