Quem ainda não viu, ainda tem três oportunidades de conferir a nova aposta do desfile da Festa da Uva, com o corso passeando pela Alameda Central dos Pavilhões. Nesta terça, quarta e quinta-feira, às 20h30min, será possível acompanhar a novidade, e de perto. A proximidade é justamente um dos pontos altos do espetáculo, que pela primeira vez foi todo coreografado, cada um dos trechos por um artista contratado pela festa.
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Num mesmo espaço, é possível assistir a um pequeno show de dança tradicionalista – executada em pares ou solo – ou contemporânea. A empolgação dos figurantes voluntários minimiza a atenção para a simplicidade excessiva dos carros, como o primeiro que faz referência ao solo do Rio Grande do Sul.
— A colônia é o simples — sintetizou Ranulfo Homem, que assina o roteiro com o irmão, Rafael.
É justamente nele que estão o violonista Rafael Dinis e o acordeonista Rafael De Boni tocando ao vivo, precedidos por uma ala com bombos legueros; ainda há uma orquestra percussiva e a presença do Coro da Universidade de Caxias do Sul cantando ao vivo na alegoria do trem. É bonito, também, ver a atuação sincronizada dos figurantes.
— É incrível ver pessoas comuns dançando, porque elas aprenderam em poucos ensaios — orgulha-se o bailarino Giovani Monteiro, que divide a coordenação da ala dos Guardiões com Caroline Zini.
As 20 alas desenvolvem suas apresentações de forma independente, cada qual com uma dança referente à proposta daquele fragmento do desfile, mas que ganha unidade com uma coreografia única na repetição de cada refrão: “Vem que tem uva doce/O aroma nos contagia/A Festa é como se fosse/Um canto de alegria/A Serra ensolarada/Espera quem sonha chegar/E “Viva una bela giornada”/A vida é pra celebrar”. A música-tema cantada por Rafael Gubert e Tatiéli Bueno repete-se do início ao fim do desfile, tal qual uma evolução de escola de samba, sendo quase impossível não conseguir acompanhar o desfile cantarolando. A intenção de transformar esse momento em ponto de integração com a plateia, em que todos os espectadores dançariam, no entanto, ainda não ocorreu.
Três vozes femininas – Flavia Bellini, Gabriela Marcon e Sara Santarosa – são ouvidas em diferentes pontos da Alameda e contam a história da imigração. O conjunto todo leva cerca de duas horas para percorrer os 280 metros da via. Quem assiste ao desfile mais próximo do pavilhão 2, não precisa esperar quase nada para ver sua evolução. Quem fica mais perto das réplicas tem de aguardar quase uma hora para começar a ver o corso tomar forma, mas terá uma das mais bonitas cenas da história do corso como compensação: participantes, músicos e soberanas unidos em uma grande festa, tendo as casas antigas como pano de fundo. (Com Maurício Reolon)
Serviço:
O quê: Desfile cênico
Quando: nesta terça-feira, às 20h30min
Onde: Alameda Central dos Pavilhões
Quanto: R$ 20 (meia entrada está em R$ 10). Os ingressos estão disponíveis nas bilheterias do parque.
Aprenda parte da coreografia:
Alegria de quem viu e de quem desfilou na Alameda
A dona de casa argentina Marta de Marco Bressan, 74 anos, é uma frequentadora dos desfiles da Festa da Uva – em 2019, ela completa a participação em 10 edições.
— Quase sempre interpreto uma gringa, mas também já interpretei uma viúva — brinca ela, que está na ala de desembarque do navio.
Já a fisioterapeuta Carina Veiga, 21, inscreveu-se para desfilar pela primeira vez por incentivo da amiga, a designer de moda Bruna Mainardi, 21. A dupla começou a se arrumar quase 4h antes do início do corso. Bruna desfila há sete festas:
—Faço isso por amor à cultura, cada festa é uma emoção diferente.
— Tem sido muito legal me colocar no lugar da parreira – conta Carina.
Já a dona de casa Maria Olívia Telles de Oliveira, 63, foi acompanhar o trabalho das filhas, que têm um estúdio de dança. .
— Aqui ficou mais bonito do que na Praça (Dante) — completa.
Orquestra percussiva é um dos pontos altos do corso alegórico
Um dos pontos altos do desfile é a orquestra percussiva, que vem logo atrás da ala de macacões azuis que acompanha o carro da indústria.
Preste atenção nos 14 participantes vestidos de cinza tocando instrumentos criados a partir de sobras da indústria, como a placa de metal da qual o chão de ônibus é composto, ou baldes de lata.
O regente João Viegas – que é responsável também pelo Baque dos Bugres –, escolheu os possíveis instrumentos num ferro-velho. Um deles foi feito com chaminé de fogão a lenha.
– Essa é a primeira Festa da Uva da qual participo, em 35 anos de vida. Estar dentro dela muda a percepção sobre o evento – explica Viegas, que ensaiou com o grupo durante um mês antes da apresentação.
A evolução do grupo homenageia, de forma não expressa, empresas da cidade, como a Marcopolo (no piso do ônibus) e a Randon, através de um elemento emotivo. A famosa bigorna onde seu Raul Randon começou a trabalhar aos 14 anos, na ferraria do pai dele, passeia pela Alameda e, mais do que isso, produz som.
Releve
:: A pobreza dos carros alegóricos, especialmente o Vagão Imperial, que traz a rainha Maiara Perottoni e as princesas Milena Caregnato e Viviane Gaelzer
:: O espaço improvisado para assistir ao desfile
:: A demora do corso
:: A falta de iluminação em alguns dos pontos do desfile
Preste atenção
::Nas danças: dificilmente você irá assistir a tantos estilos diferentes em uma só apresentação.
::Nas crianças: desfilando fantasiadas de rainhas, fofas e materializando o clichê de que toda a caxiense sonha em ser rainha da Festa da Uva. Outras crianças ainda distribuem a uva aos espectadores.
::Nos artistas: boa parte da comunidade cultural de Caxias está participando dos desfiles, na coordenação ou concepção das alas. É possível ver integrantes de grupos do teatro, dança e música da cidade.
:: No momento lindo que ocorre após o desembarque nas réplicas, com a festa em torno da Caxias antiga nos Pavilhões.