Importante espaço de descobertas sobre a doença, o Laboratório de Pesquisa em HIV/Aids da Universidade de Caxias do Sul (UCS) é responsável por fomentar no país estatísticas sobre o avanço da doença e características dos públicos que contraem e convivem com o vírus. A partir do próximo ano, com a possível ampliação, o laboratório deve aprofundar pesquisas desenvolvidas em parceria com universidades, instituições governamentais, privadas e agências nacionais e internacionais. Desde a inauguração da unidade, em 2002, a equipe já conduziu 23 projetos de pesquisa, envolvendo mais de 100 mil participantes.
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— Um dos diferenciais dele é que pacientes que participam dos projetos têm acesso a novos esquemas terapêuticos, medicamentos e métodos diagnósticos antes que estejam disponíveis na rede privada ou pública — defende Rosa Dea Sperhacke, coordenadora do laboratório.
O projeto mais recente desenvolvido pelos profissionais é chamado de Parturientes RS, que tem como missão verificar a prevalência do HIV e sífilis em mulheres que estão em trabalho de parto ou tiveram bebê há pouco tempo. O resultado será apresentado na próxima semana, em um seminário em Porto Alegre que integra a campanha Zero Discriminação às Pessoas Vivendo com HIV/Aids, promovido pelo governo do Estado.
Demanda do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (DIAHV), do Ministério da Saúde, a pesquisa tem um fundamento importante: segundo boletim epidemiológico divulgado no fim de novembro, o Rio Grande do Sul ocupa o 1º lugar no ranking dos Estados com a maior taxa de detecção de HIV em gestantes. Quando o assunto é sífilis, o Estado ocupa a 5ª colocação. Até agora, a pesquisa contemplou 14,3 mil mulheres, que passaram pelas 66 maternidades das sete macrorregiões gaúchas.
O assunto terá continuidade, já que o laboratório desenvolverá também, ao longo de 2019, o projeto Parturientes Brasil. Desta vez, o estudo será nacional e deve estimar as taxas de prevalência do HIV, hepatite B e C e HTLV (vírus linfotrópico da célula humana) em mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Militares também foram estudados
Já finalizado e com resultados apresentados, o Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS da UCS foi responsável também pelo estudo epidemiológico sobre a prevalência da infecção por sífilis, HIV, hepatites virais B e C de membros das Forças Armadas. O teste foi feito em parceria com o Ministério da Saúde. Participaram 37.282 jovens do sexo masculino, de 17 a 22 anos, que se apresentaram às Juntas de Serviço Militar (JSM). Os resultados mostraram que 0,12% dos jovens inscritos em todo o país estavam contaminados pelo HIV. A região Norte foi a que apresentou maior amostra do total (0,24%), seguida das regiões Nordeste (0,15%), Centro-Oeste (0,13%), Sul (0,10%) e Sudeste (0,07%).
Outros dados são bastante reveladores: a prevalência de HIV em homens que fazem sexo com homens, público chamado de HSH, é 10 vezes maior que a obtida na população em geral.
— Os fatores associados à infecção pelo HIV neste grupo foram ser HSH e ter mais de 10 parceiros na vida. Nossas descobertas confirmam a necessidade de ampliar a prevenção combinada do HIV no Brasil para homens jovens, especialmente para a população HSH — afirma Rosa Dea.
PRÓXIMAS PESQUISAS
:: Na esfera municipal, o laboratório realizará a pesquisa Acessa, que irá avaliar a atitude, o comportamento sexual e o conhecimento sobre infecções sexualmente transmissíveis (IST) e substâncias anabolizantes nos estudantes da Universidade de Caxias do Sul (UCS);
:: Também ocorrerá um estudo da evolução clínica da infecção pelo HIV em adolescentes e adultos jovens. Eles devem estar em atendimento no Serviço de Infectologia da Secretaria Municipal da Saúde de Caxias do Sul. O projeto se chamará Adole.
:: Junto com a Coordenação Estadual de IST/HIV/AIDS, o laboratório irá participar do projeto de Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas (PCAP) relacionada à DST, Aids e hepatites virais da população do Rio Grande do Sul. Nesta edição, está prevista a realização de teste de sangue para o diagnóstico de HIV e sífilis.
:: O laboratório também iniciará o projeto Parturientes Brasil, cujo objetivo é estimar as taxas de prevalência da infecção pelo HIV-1/2, sífilis, hepatite B e C e HTLV- 1/2 em parturientes atendidas pelo SUS.
CURIOSIDADES
:: Em Caxias do Sul, há 2.847 pessoas vivendo com HIV/Aids, segundo dados da Vigilância Epidemiológica. Neste ano, de janeiro a outubro, foram diagnosticados 185 novos casos no município, a maioria homens (64%). No mesmo período, ocorreram 19 óbitos por esta causa, sendo 14 de pacientes do sexo masculino e cinco mulheres.
:: Iniciou nesta segunda-feira, em Caxias do Sul, o fornecimento da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP). Trata-se do uso de medicamentos antirretrovirais por indivíduos que não estão infectados pelo HIV, mas que se encontram em situação de risco para a infecção.
:: Conforme protocolo técnico do Ministério da Saúde, a PrEP é indicada apenas àqueles que integram as populações-chave (como transexuais, travestis, homens que fazem sexo com homens, gays, trabalhadores do sexo) e que frequentemente deixam de usar camisinha em suas relações sexuais, ou que fazem uso repetido da PEP (Profilaxia Pós-Exposição, o uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas após terem tido um possível contato com o vírus HIV em até 72 horas), ou que apresentam episódios frequentes de infecções sexualmente transmissíveis; e para pessoas que têm relações com alguém diagnosticado com HIV e que não faz o tratamento.
:: Em ação feita pela Secretaria Municipal da Saúde na Praça Dante Alighieri, na UCS e no Hospital Geral (HG) na semana passada, 811 pessoas se submeteram a testes rápidos de HIV. Destes, um resultou positivo para o HIV, 35 para sífilis e um para Hepatite C. O teste está disponível no Setor de Infectologia, que fica junto ao Centro Especializado de Saúde (CES), na Sinimbu.
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