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Gabriela (nome fictício), 28 anos, recebeu o diagnóstico de HIV positivo em 2015. O teste não foi uma iniciativa própria. Só fez o exame porque estava com sífilis. O resultado não foi surpreendente para a jovem trans, que trabalha fazendo programas. Com vários clientes, além de namorado, e sem usar camisinha, mais cedo ou mais tarde achava que aconteceria.
— Não fiquei chocada. Já esperava. Não usava preservativo. Era muito nova e ganhava mais dinheiro. Olhava para a pessoa e achava que não tinha Aids.
Ela tratou e curou a sífilis, mas não deu bola para a doença sem cura. Não seguiu o tratamento oferecido. No início deste ano, começou a sentir-se mal. Tinha vômito, não conseguia comer e perdeu 12 quilos. Procurou, então, um médico. Com uma semana de medicação, voltou a ter mais energia.
Há quatro meses morando em Caxias, ela retomou o tratamento nesta semana. Na segunda-feira, era atendida no Serviço de Infectologia. E comemorava o fato de poder tratar a doença.
— Eu me adaptei (à medicação). Gostei. Fiquei mais disposta.
Assim como os remédios, o preservativo passou a fazer parte da rotina de Gabriela. Não faz mais programas sem camisinha, embora muitos clientes, até mesmo casados, insistam em não usar:
— Fico pensando: será que não pensam na mulher em casa?
"O conselho é só um: faça o exame"
Profissional da área da saúde, Márcio nasceu em Caxias do Sul há 30 anos. Naquele mesmo ano, em 1988, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíam o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Três décadas depois, quando a epidemia segue estagnada mas ainda assustando, Márcio soube que é soropositivo. O diagnóstico, comunicado em uma consulta de rotina no Centro Especializado de Saúde (CES), não o surpreendeu. Ele sabia que havia se arriscado. Transou sem proteção alguns meses antes daquela consulta. Márcio diz que o sexo sem camisinha nunca foi hábito, mas admite que, após uma festa, aconteceu. Ainda que sem estar surpreso, Márcio ficou imóvel diante da enfermeira que interpretou o exame e avisou que, infelizmente, a partir daquele momento, sua vida mudaria. No entanto, não estremeceu:
— Você leva um baque, é claro. Mas é diferente do que há 30 anos. Hoje em dia, vejo como uma diabetes, em que é preciso controle e cuidado. Terei medicação para a vida toda.
O que tranquiliza Márcio é que, por ter descoberto a doença no início, sua carga viral está zerada. Ou seja: ele não transmite o vírus para outras pessoas, situação parecida com a de Leandro, morador de Bento Gonçalves. Também aos 30 anos, descobriu há oito meses ser portador de HIV. Procurou o posto de saúde do seu bairro, passou pelo exame e, diante do resultado positivo, foi convidado a repetir. O teste apontou, por duas vezes, que era soropositivo. Antes disso, Leandro não teve nenhum sintoma que identifica o vírus, como dor de cabeça, febre, cansaço excessivo ou suores noturnos. Ele contraiu HIV após ter feito sexo oral sem proteção. Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), a existência de cárie ou feridas na boca pode também contribuir para aumentar a chance de infecção pelo HIV, mas o risco é baixo. A recomendação, é claro, é usar preservativo.
— Eu ouvi o diagnóstico e pensei: ok, vamos cuidar. Há formas de continuar em frente. Não mudou nada na minha vida até agora porque estou indetectável, sem sintomas. Só três pessoas muito íntimas sabem da doença_ admite.
Leandro não contou sobre a doença nem mesmo à irmã. Ela também é soropositiva, que saiu contaminada em uma transfusão de sangue há mais de 20 anos. Ele teme pelo preconceito - medo que só aumentou ao percebeu o afastamento de um grande amigo que soube do diagnóstico.
— Hoje tomo dois remédios diários e sigo jogando futebol, trabalhando, levando minha vida. O conselho é básico: faça o exame. Se for positivo, trate. Há remédio e a vida não termina _ sugere.