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Entrevista

"40% das pessoas que têm o vírus HIV não foram diagnosticadas", alerta diretor de entidade mundial

Representante da Aids Healthcare Foundation (AHF) fala sobre o avanço da ciência quanto ao tratamento do HIV

Raquel Fronza

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Juliana Bevilaqua

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AHF Brasil / Divulgação
Beto de Jesus admite que se o país não tivesse tomado a atitude no passado de distribuir a medicação, o presente e o futuro seriam terríveis

O tratamento gratuito a pacientes com HIV é garantido por lei no Brasil desde 1996 e é responsável pela redução da mortalidade e controle parcial da epidemia. Uma das entidades que trabalha com a prevenção, advocacia, ampliação do diagnóstico rápido para o HIV, vinculação e cuidado dos pacientes positivos para HIV nos serviços de saúde é a Aids Healthcare Foundation (AHF), que atua em 39 países. 

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O diretor da AHF no Brasil, Beto de Jesus, admite que se o país não tivesse tomado a atitude no passado de distribuir a medicação, o presente e o futuro seriam terríveis. O não acesso ao medicamento geraria um contingente de mortes e pânico, estigmatizando ainda mais as pessoas que vivem com HIV/Aids.

Pioneiro: Um estudo recente apresentado na 22ª Conferência Internacional de Aids mostrou que mais de 100 mil pacientes em início de terapia antirretroviral melhoraram efetivamente a qualidade de vida com uso do medicamento dolutegravir (DTG). Como a AHF enxerga a oferta de tratamentos hoje no SUS? Ela é ofertada em todo país, ou há registros de dificuldades no acesso?
Beto de Jesus:
O programa brasileiro de Aids é reconhecido internacionalmente pela distribuição gratuita, e universal, de ARVs (antirretrovirais) para o tratamento do HIV/ Aids na rede pública de saúde. Já em 1988, na primeira década da epidemia, foi iniciada na rede pública de saúde a distribuição de medicamentos para infecções oportunistas em pacientes com Aids e, em 1991, começou a ser oferecida a terapia antirretroviral. Mas foi a partir de 1996 com o advento da terapia tripla (o "coquetel") é que a questão tomou a dimensão que conhecemos hoje. No Brasil, uma lei de 1996 (de autoria do senador José Sarney) tornou obrigatória a distribuição de medicamentos anti-HIV pelo SUS. O Brasil assumiu liderança também na produção nacional de medicamentos, que é uma estratégia fundamental para a manutenção do programa de distribuição, pois isso baixa os custos e é uma resposta efetiva à epidemia. Para a AHF Brasil, não existiria resposta brasileira ao HIV/Aids se não houvesse distribuição universal de medicação. Por exemplo, você falou do DTG. Essa nova medicação que está sendo distribuída reduz a carga viral das pessoas com HIV/Aids em pouco tempo, deixando-a indetectável e com isso intransmissível, ou seja, se uma pessoa está com a carga viral indetectável nos exames, ela não transmite o vírus e com isso diminui-se o número de novas infecções.

Juliana Bevilaqua / Agência RBS

O Brasil é um país onde o HIV é considerado uma epidemia estável, porém, há crescimento significativo entre os públicos jovens — e em Caxias, especialmente, homens com ensino superior. Quais os principais desafios para o controle da epidemia e o fortalecimento do tratamento?
Um desafio ainda é garantir o acesso à testagem, especialmente para as populações mais vulneráveis e mais afetadas pela epidemia (gays, HSH, travestis e transexuais, profissionais do sexo, pessoas que usam drogas, jovens, imigrantes, etc.). Segundo estimativas globais da OMS, 40% das pessoas que têm o vírus HIV não foram diagnosticadas. Outro desafio é vincular imediatamente as pessoas diagnosticadas reagentes na rede de pública de serviços, para que sejam tratadas no estado inicial da infecção, evitando uma série de complicações. Iniciar o quanto antes o tratamento antirretroviral evita o desenvolvimento da Aids e doenças oportunistas. Mais um desafio é chegar à carga viral indetectável. Hoje é sabido por evidências científicas que uma pessoa indetectável é uma pessoa intransmissível (I = I).

A Declaração de Paris para acabar com a epidemia de Aids ganhou impulso político entre os líderes municipais no compromisso com o fim da Aids. Caxias do Sul é uma das cidades signatárias da declaração. De que forma esses instrumentos impactam positivamente nessa luta?
Lançada pelo Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) em dezembro de 2014 na capital francesa, a Declaração de Paris busca mobilizar esforços locais para alcançarmos o fim da epidemia de Aids até 2030. Os municípios brasileiros signatários se somam a mais de 200 prefeituras ao redor do mundo que já estão mobilizadas rumo às metas de tratamento 90-90-90 para 2020: ter 90% das pessoas com HIV diagnosticadas; que destas, 90% estejam em tratamento; e que 90% desse grupo tenha carga viral indetectável. Além das metas de tratamento, essas cidades se comprometem a colocar as pessoas no centro das ações e enfrentar as causas do risco, das vulnerabilidades e da transmissão do HIV. O Rio Grande do Sul assinou a declaração e é o Estado com mais municípios signatários, 13 ao todo, incluindo Caxias do Sul.

HIV NA REGIÃO

:: Farroupilha

População: 63.635*

Pacientes com HIV: 348 pessoas

:: Flores da Cunha

População: 27.126*

Pacientes com HIV: 73 pessoas

:: Bento Gonçalves: 

População: 119.049*

Pacientes com HIV: 110 casos

Pacientes com Aids: 515 casos

:: Vacaria:

População: 61.342*

Pacientes com HIV: 354

*Estimativa populacional 2018 do IBGE

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