Goma de mascar que se transforma em borracha escolar. Descarte correto de lixo que pode ser trocado por vaga de estacionamento. Impressora 3D que produz peças em lego. Essas são algumas das ideias que podem ser conferidas na 10ª Mostra Científica e Tecnológica das Escolas de Ensino Médio e Fundamental da Serra Gaúcha, a Mostraseg.
O evento, iniciado na quarta-feira, segue até a tarde desta sexta. Sessenta bancas com trabalhos de mais de 220 estudantes de 20 escolas de Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Nova Petrópolis e São Marcos, estão distribuídas no Centro de Convivência do campus sede da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Cada projeto é realizado por três estudantes, de 13 a 17 anos. Nos últimos anos, passaram a ser aceitos projetos de qualquer área, motivo pelo qual quem visita a mostra deste ano poderá deparar com projetos de temáticas como "reação da sociedade diante da violência contra a mulher". Ainda assim, trabalhos de cunho científico são predominantes.
É o caso do projeto dos estudantes Júlio Cesar Hoffman, Jhoni Ramos e Felipe Andreolla Formentini, todos com 17 anos, do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Elisa Tramontina, de Carlos Barbosa, que propõe o reaproveitamento do policarbonato existente na composição de CDs e DVDs para a confecção de óculos EPI (equipamento de proteção individual).
— Um dia meus pais compraram CDs e quando fomos ouvir, percebemos que não tínhamos mais equipamentos com entrada para essa mídia, que tem se tornado obsoleta. Aí tivemos a ideia de reaproveitar o material, que é, normalmente, descartado — conta Júlio Cesar.
Portanto, os estudantes destacam que, além de reveter o material em utilitários para segurança do trabalho, o projeto aborda preocupações ambientais.
— Conforme nossas pesquisas até 2007 haviam sido produzidas 30 bilhões dessas mídias. Hoje não tem quase nenhuma utilidade, imagina daqui uns anos. Percebemos também que esse material é descartado de forma errada e o policarbonato demora em torno de 400 anos para se decompor — complementa Felipe.
Os jovens não conseguiram concretizar plenamente a fabricação do óculos devido a limitações estruturais. Porém, eles comentam que a intenção é redirecionar o projeto e expandir a ideia:
— O uso do policarbonato é muito vantajoso. Um aspecto importante é que ele reflete o fogo. Pode até derreter em contato com chamas, mas não propaga. Por isso, pode ser usado no revestimento de paredes e em telhados. E é isso que queremos explorar também — ressalta Júlio Cesar.
Premiação
Os trabalhos serão avaliados por professores da UCS. Os três primeiros colocados serão premiados com um smartphone para cada integrante das equipes e vale-livros para os professores responsáveis. Os grupos receberão ainda credenciais para participar da Mostratec, em Novo Hamburgo, uma das principais feiras estudantis do país.
Reutilizar para criar
Modesto, o estudante Enzo Ballardin Arcaro, 17, do 3º ano do Colégio Mutirão de São Marcos, afirma não saber se o projeto que criou em conjunto com os colegas Lucas Torresan e Lucas Soranzo, ambos também com 17 anos, seria de fato "útil para alguém". No estande deles, há uma impressora 3D composta de material reciclado. Mas esse nem é o projeto, explica Ballardin. A impressora — montada e idealizada por Lucas Torresan — na verdade foi criada para testar a impressão de peças com o uso de polímeros. Os jovens coletaram plásticos que normalmente são descartados irregularmente na natureza, como copos de requeijão e tampinhas de garrafa, e transformaram o material em filamento para confecção de peças 3D.
— O produto saiu inferior em relação à matéria-prima que é normalmente usada para isso. Ainda assim, o resultado foi positivo: conseguimos transformar plástico que seria lixo em filamento de impressão. Com essa impressora seria possível imprimir brinquedos ou protótipos de peças, como os que utilizamos na própria impressora — comenta Enzo.
Além disso, explica que em escala maior de produção, o projeto garantiria a redução de custos de confecção de peças e também vantagens ambientais.
— O custo do filamento virgem normalmente usado para impressoras 3D é R$ 80 o quilo. O nosso tem custo quase zero, o único gasto é na energia elétrica para derretê-lo — complementa.
Alternativa saudável
Outros projetos expostos na mostra têm caráter mais reflexivo. Após ouvirem a mãe de um amigo que atua como psiquiatra relatar que é cada vez maior o número de pessoas que solicitam receita de ritalina para aumentar a concentração, os estudantes decidiram realizar pesquisa para buscar alternativa mais saudável para aumentar o foco.
— O consumo descontrolado (de ritalina) pode gerar problemas físicos e psicológicos. Por isso, fizemos a pesquisa e descobrimos que há uma substância existente na uva e no vinho, o resveratrol, que age de forma semelhante no organismo humano — comenta um dos idealizadores do projeto, Pedro Prá, 16, aluno do 2º ano do Colégio La Salle Carmo.
Segundo explicam, a substância aumenta a capacidade do hipocampo na memória e a circulação sanguínea no cérebro. Apesar de o projeto envolver estudo detalhado sobre o tema, outra integrante do grupo, Marina Benites de Couto, 16, ressalta que nenhum deles pretende seguir carreira em pesquisas.
— Não pretendemos trabalhar com nada voltado à biologia, mas achamos interessante participar (da Mostraseg), porque isso ajuda a aprimorarmos nossa pesquisa e a oratória para o futuro — destaca.
Visibilidade à pesquisa
De acordo com Odilon Giovannini Júnior, professor da Área do Conhecimento de Ciências Exatas e Engenharias da UCS, o crescimento ao longo das 10 edições do evento é perceptível não só pelo aumento de engajamento dos alunos na execução dos projetos, mas também o interesse das escolas.
— Nosso objetivo não é só descobrir jovens com potencial a carreiras nas áreas científica e tecnológica, mas também incentivar a pesquisa como princípio pedagógico — comenta Giovannini.
Segundo ele, o evento é um estímulo para as escolas:
— Instituições públicas começaram a participar nas últimas edições. O sucesso de trabalhos em edições anteriores também serve como estímulo. Alguns projetos foram longe, chegaram a ser apresentado fora do país.
Participante da Mostraseg em 2014, Joana Meneguzzo Pasquali era aluna do Colégio Mutirão quando apresentou projeto em que propunha a criação de uma fita teste para detecção de substâncias que indicavam fraudes ou falsificações no leite de caixinha. Na época, ela conquistou a segunda colocação na premiação. E a ideia foi longe: Joana foi uma das vencedoras do Prêmio Jovem Cientista em 2015. Hoje bolsista de Iniciação Científica na UCS, ela afirma que premiações como a Mostraseg foram um dos incentivos que a levaram a projetar carreira na área:
— Esses eventos são ótima oportunidade de divulgar nosso trabalho e dar visibilidade à pesquisa. Sem contar que há bastante troca (nesses eventos), o que ajuda a aprimorar nossos projetos. Foram essas pesquisas pré-universitárias que me motivaram a fazer pesquisa na graduação — comenta.
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