A pouca oferta de leitos de UTI pediátrica em Caxias do Sul pode ter sido o fator que desencadeou a sequência de eventos que levaram Teylor Terra da Fonseca, 10 meses, à morte. Esse é o entendimento do Conselho Municipal da Saúde, que protocolou nesta quinta-feira um pedido de informações sobre o caso na Secretaria Municipal da Saúde.
Teylor morreu na madrugada da última segunda-feira no Hospital do Círculo em decorrência de uma bronquiolite aguda grave. Na noite de sexta-feira, o menino recebeu atendimento no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão), onde aguardou 15 horas e foi transferido para o Hospital Geral (HG), onde permaneceu pouco mais de 24 horas.
Durante o período sob a responsabilidade das duas instituições, a família diz ter alertado às equipes de que o menino precisava de intubação urgente, o que exige leito de UTI. Como não havia vagas disponíveis pelo SUS na cidade, segundo repassado à família, o menino foi mantido na ala de emergência do HG. Na manhã de domingo, o hospital optou pela intubação, momento em que Teylor sofreu uma parada cardíaca e foi reanimado. A transferência para uma UTI pediátrica só ocorreu à tarde, quando uma vaga foi aberta no Hospital do Círculo, que é privado.
Na quarta-feira, a família da criança registrou ocorrência na Polícia Civil para denunciar uma suposta falha no atendimento prestado ao menino no Postão e no HG. A criança tinha histórico de bronquiolite aguda e já havia sido internada durante cerca de 30 dias pelo mesmo problema.
— Acreditamos que a grande causa da morte desse menino foi a falta de UTI pediátrica. É um problema sério, histórico e arrisco a dizer que todo ano se perde vidas por esse problema. E todo ano não temos um plano emergencial para lidar com isso ao menos no período de inverno quando crianças e idosos apresentam problemas gravíssimos — alerta a presidente do Conselho da Saúde, Fernanda Borkhardt.
Fernanda, que é enfermeira, afirma que uma criança ou adulto com insuficiência respiratória grave necessita da intubação para que o médico possa fazer o diagnóstico e o tratamento da doença, caso de Teylor.
— Mas para o profissional fazer isso precisa ter o leito de UTI. Na situação de Teylor, talvez foi postergado esse procedimento por falta desta retaguarda — pondera a presidente do conselho.
Além do caminho percorrido por Teylor nos serviços de emergência do SUS nas horas antes da morte, o Conselho solicitou à Secretaria de Saúde informações sobre o acompanhamento médico dado ao menino após ele ter recebido a alta da primeira internação, em maio. Outro questionamento é sobre o plano do município para lidar com a alta procura de atendimentos hospitalares no inverno. A entidade espera ter um retorno da secretaria em até 20 dias.
"A demanda na UTI adulto é muito maior"
Pelo SUS, Caxias do Sul tem nove leitos de UTI pediátrica, todos no HG, e outros 18 leitos de UTI neonatal (para recém-nascidos) no HG e no Hospital Pompéia. A titular da 5ª Coordenadoria Regional da Saúde (5ª CRS), Solange Sonda, considera que a oferta pode ser não a ideal, mas é um setor em que a demanda é menor se comparada à superlotação enfrentada na UTI adulto. Ela diz que as internações de crianças em UTI são sazonais e é necessário avaliar com prudência até que ponto seria viável manter uma estrutura maior do que a atual para uma procura considerada dentro da normalidade.
— A demanda na UTI adulto é muito maior. Precisaríamos de 15 a 20 leitos a mais para dar um suporte diante da procura que temos em Caxias — avalia Sonda.
A família de Teylor deve ser chamada nos próximos dias para prestar depoimento na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). A Secretaria Municipal da Saúde, por sua vez, afirma que não abrirá investigação interna para apurar as denúncias, pois os procedimentos adotados no atendimento ao menino no Postão foram corretos. O HG
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