Mãe e filhos mortos em afogamento na tarde desta quinta-feira em um lago próximo ao Palácio das Hortênsias, residência de inverno do governador do Estado em Canela, buscavam não apenas se refrescar nos dias quentes - eles pescavam para ter alimento para o jantar.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
Ao sair de casa e beijar a avó, Alex Sandro Shumann Iung, 13, prometeu levar um "peixe bem grande" para a família comer à noite. Teria sido ele o primeiro a mergulhar e não sair da água. Avistando o pedido de socorro do irmão, Alex Shumann Iung, 15, adentrou no lago. A mãe foi a terceira a entrar na água, em tom de desespero, para tentar salvar os dois únicos filhos. Os bombeiros não chegaram a tempo.
Os três são velados na manhã desta sexta-feira em uma mesma sala da Capela Mortuária do município, próximo ao hospital. O clima de comoção é somado ao sentimento de desespero de familiares, que contam que a pescaria era uma das formas de encontrar o sustento das refeições - e também a forma de descontração dos jovens.

O lago faz divisa entre a propriedade oficial e o Parque do Palácio, atualmente fechado para visitas. Foto: Roni Rigon/ Agência RBS
Mergulhar no lago, no entanto, não era hábito entre os três. Eles costumavam ficar do lado de fora e pescar quase todos os fins de semana nos arredores do Palácio, já que moram na Vila Dante, que fica próximo dali.
- Era a única diversão deles, pescar e se refrescar em açudes. Mas nunca entravam para mergulhar neste lago, só ficavam do lado de fora da cerca para pescar. Sabemos que estava interditado - lamenta a tia dos jovens, Roseli Silveira Ferreira de Melo.
Mãe e filhos apresentavam deficiência mental. Alex Sandro e Alex frequentavam o oito módulo da Escola Municipal de Ensino Fundamental Especial Rodolfo Schlieper. Roseli também foi aluna deste colégio, que tem menos de 100 alunos. As aulas estão suspensas e parte do corpo de alunos e professores está em estado de choque.
- O colégio está em luto. Os meninos são uns amores, queridos, carinhosos. Vamos ter que encarar todos os dias as classes deles vazias. A pescaria era a vida deles -conta a diretora Alexandra Renck, mostrando uma foto da última redação escrita por Alex, que comemorava ter comido peixe frito na semana passada.
O pai das crianças e marido de Roseli está medicado e não foi até o velório - mesma situação do jovem que estava com o trio e pediu socorro aos bombeiros. A vizinha Ana Cristina Boff retornava do trabalho quando percebeu a movimentação de uma ambulância. Seguiu a viatura e se deparou com o desespero da comunidade, que aos berros, avisava a morte dos três.
Ana relata que os três sobreviviam em situação precária - e a diretora da escola lembra que recebiam suporte da assistência social do município e da Apae, entidade parceira da instituição.
- Eu me desespero quando penso que podem ter morrido com fome - resume Ana.
A família será enterrada às 17h no Cemitério Municipal de Canela.



