O assassino confesso de Dóris Terra Silva voltou a São Francisco de Paula, na tarde desta terça-feira, para a reconstituição de um dos crimes de maior repercussão em 2015 na Serra. A jovem de 21 anos foi morta a facadas por Luis Paulo da Silva Nunes, 31, no Km 86 da ERS-020, no dia 20 de dezembro. Nunes aguarda julgamento recolhido na Penitenciária Regional de Caxias do Sul (na localidade de Apanhador).
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Por duas horas, peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP) reconstruíram o crime para esclarecer três aspectos da versão dada por Nunes: como foi a abordagem a Doris no supermercado Rissul, no centro da cidade, o trajeto do mercado até a ERS-020 e como ocorreram as agressões no local do crime. Não houve contradições entre o depoimento de Nunes e a reconstituição. O homem afirma que a intenção era roubar e que atacou a jovem porque ela reagiu.
- A reconstituição é para reforçar os elementos de convicção do inquérito e reforçar o que havíamos apurado. Não há nenhum fato novo. O inquérito foi concluído em janeiro e nós o indiciamos por latrocínio e ocultação de cadáver - afirmou a delegada Fernanda Seibel Aranha, titular da Delegacia de São Francisco.
Filha do ex-prefeito Sérgio Bandoca Foscarini da Silva, a morte da jovem abalou a comunidade serrana. Revoltados, algumas pessoas que assistiam à simulação vaiaram o acusado. Por dois momentos, durante a perícia no mercado e também na ERS-020, Nunes foi xingado. A polícia pediu silêncio.
A reconstituição mobilizou um aparato policial, com cerca de 20 agentes da Polícia Civil, Brigada Militar e Susepe dando aporte ao serviço dos três peritos do IGP. O carro usado na reconstituição, um Corolla preto, não era o da jovem, e foi emprestado de uma revenda de veículos. Durante a simulação, uma policial de São Francisco representou Dóris.
Acusado colaborou
A escolta montada pela Susepe para levar Luis Paulo da Silva Nunes a São Francisco de Paula saiu às 11h30min da Penitenciária Regional de Caxias, no Apanhador, onde ele segue detido desde que foi preso, ainda em dezembro, em Canoas.
Durante o trajeto, mostrou-se calado e só falou durante o almoço, em uma das penitenciárias da região, quando pediu para ir ao banheiro. A escolta chegou às 13h50min da delegacia de São Francisco de Paula. Durante a reconstituição, ele colaborou com a simulação, respondendo as perguntas dos peritos do IGP. Nas duas vezes em que foi alvo da revolta daqueles que assistiam a perícia, olhou para onde vieram os gritos e permaneceu calado. Às 16h30min, quando a simulação foi encerrada, ele foi escoltado de volta até o presídio.
Entenda o crime a partir da reconstituição, na versão do assassino confesso:
Por volta da 13h do dia 20 de dezembro, Luis Paulo da Silva Nunes entrou no estacionamento do supermercado Rissul e sentou-se em um banco próximo da entrada de veículos, pela Rua Pinheiro Machado, no Centro. Ele procurou um alvo fácil para um assalto.
Cerca de uma hora depois, Dóris entrou no supermercado dirigindo um Corolla preto. Ali, a jovem foi notada pelo acusado. Ela estacionou na segunda vaga perto da entrada, com a traseira do veículo de frente para o mercado. Ao descer do carro, ela passou pelo acusado.
Na volta, Nunes seguiu-a até o carro. Dóris abriu a porta. Como estava de costas, não percebeu a aproximação de Nunes. Na versão dele, a faca estava escondida na manga do moletom. Ele teria dito que queria dinheiro e que ela o tirasse dali. A ponta da faca estava à mostra e a jovem teria se assustado.
O suspeito entrou no banco de trás do Corolla, atrás de Dóris, e mandou-a dirigir. A jovem e Nunes deixam o estacionamento do mercado. Na esquina, dobraram à direita na Rua Curupaiti, em direção ao bairro Cipó. Depois, mudaram a direção e entraram na Rua Barão de Santo Ângelo a caminho da Avenida Júlio de Castilhos, no Centro. Eles atravessaram a avenida até a Rua Santos Dumont, onde dobraram a esquerda. Dali, seguiram até a Avenida Getúlio Vargas e foram para a saída da cidade, onde inicia a ERS-020.
Ainda na Avenida Getúlio Vargas, na altura do mercado Dia, Nunes, que estava no banco de trás, passou para a frente do veículo com o carro em movimento e sentou-se no banco do caroneiro. Na reconstituição, essa simulação foi feita com o Corolla parado.
Na ERS-020, o homem ordenou que Dóris entrasse em uma estrada de chão, à direita, a cinco quilômetros do Centro. Segundo ele, a escolha daquele ponto foi aleatória. A 100 metros da beira da faixa, ela estacionou o carro. Nunes manda Dóris descer. A jovem abriu apenas uma fresta da porta. Nunes desceu do carro, contornou o veículo e abriu toda a porta. Segundo ele, a jovem desembarcou e lhe deu um tapa. Ele a golpeou pelo menos duas vezes, no peito e no abdômen.
Dóris caiu para a frente, de costas. Ele jogou a faca no mato. O acusado entrou no carro e fugiu pela ERS-020, carregando objetos da vítima. Em Sapiranga, fez o primeiro saque do cartão de Dóris, e jogou o moletom em uma lixeira. A perícia encontrou sangue de Dóris na roupa. No dia 23 de dezembro, o homem foi preso em Canoas.
Investigação
Homem mantém versão sobre assassinato de estudante em São Francisco de Paula
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