Com médicos em férias e diante do baixo número de consultas oferecidas por dia, pacientes madrugam na fila para garantir um horário com clínico geral em Caxias do Sul. Em blitz em oito Unidades Básicas de Saúde (UBSs) em diversas áreas da cidade, a reportagem encontrou pessoas esperando desde antes de amanhecer. O problema é antigo e, além de nesta época piorar com o efetivo desfalcado, esbarra em uma cultura adotada pela comunidade. Para piorar, em dois dos pontos visitados ontem, a espera era ainda pior: na escuridão total, sem sequer uma lâmpada de iluminação pública ou da unidade.
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No bairro São Victor Cohab, onde a reportagem encontrou fila na madrugada há duas semanas, o problema se repetiu ontem. Mesmo com a promessa de voltar a contar com dois médicos a partir de ontem, os doentes preferiram não arriscar e acordaram cedo. A primeira a chegar, Simone de Oliveira, 33 anos, já ocupava um banco em frente ao postinho às 1h45min. Às 5h, um casal desistiu de esperar porque havia 13 pessoas aguardando - são distribuídas 13 senhas por turno.
Nos bairros São Leopoldo e Belo Horizonte, pacientes esperavam no escuro, o que aumenta a sensação de insegurança. Na UBS do Belo Horizonte, uma mulher e uma adolescente de 15 anos esperavam. A primeira, Sheila Fagundes de Oliveira, 40, estava lá desde as 5h. Quarenta e cinco minutos depois, Cassiane Oliveira da Costa, 15, chegou para buscar senha para a mãe, que sofre de tendinite. No São Leopoldo, às 5h30min havia cinco pessoas aguardando na escuridão. A primeira iniciou a espera às 5h15min e conseguiu consulta para as 14h.
- Meu marido ficou comigo até começar a chegar mais pessoas, porque é muito perigoso eu ficar sozinha - disse Cristina Rodrigues Pereira, 41, contando que havia apenas um médico, que não atendeu pela manhã.
Em outra parte da cidade, mais fila. Pouco antes da UBS Mariani abrir as portas, cerca de 20 pessoas esperavam. No portão, um cartaz informava que ontem seriam oferecidas 26 vagas com o clínico geral. A primeira a chegar, a aposentada Aparecida Lucimar de Souza, 52, teve o lugar garantido porque o filho dela chegou ao posto às 4h para guardar lugar.
- É um absurdo quem trabalha ter que chegar esse horário - reclamou a mulher.
Até as 13h desta terça-feira, a reportagem não havia conseguido contato com a secretária da Saúde, Dilma Tessari.
Esplanada zerou fila para consultas
A experiência da UBS Esplanada mostra que é possível amenizar a espera enfrentada por quem depende da saúde pública. Pioneira no sistema de agendamento por telefone, a unidade conseguiu zerar os casos de moradores que madrugavam para consultar. A receita foi estrutura física e conscientização.
Enquanto em algumas unidades a comunidade reclama por encontrar telefones congestionados ao tentar marcar um horário com o médico, no Esplanada há cinco linhas disponíveis a partir das 10h. Desde abril de 2013 são marcados horários com clínico geral, ginecologista e pediatra. Uma lei municipal em vigor desde novembro de 2011 prevê agendamento para idosos e pessoas com deficiência, mas o postinho do Esplanada vai além, com oferta a toda a comunidade.
Atualmente há 74 vagas com clínico geral para a manhã e outras 74 para a tarde, atendidas por cinco clínicos gerais. Com o retorno daqui a cerca de uma semana de um profissional que está de atestado médico, o número deve subir para 90 por turno (180 por dia). Ginecologista e pediatra estão em férias, mas cada um atende a 26 pacientes diariamente, todos agendados. Grande parte dos horários são marcados para o mesmo dia. Quem não consegue, retorna à unidade no horário de abertura na manhã seguinte, às 7h30min. Idosos, gestantes e deficientes sempre são atendidos no dia.
- Se alguém vai de madrugada, é porque não utiliza o nosso posto, não conhece o sistema - garante o coordenador, Sergio Gardelin.
Ele pondera que há filas a partir de 7h30min nas segundas, quartas e sextas-feiras, dias de coleta de sangue por laboratório terceirizado. A unidade é referência na região Sul e atende a cerca de 15 bairros, até as 21h.
CONTRAPONTO