Os 500 alunos da Escola Estadual José Generosi talvez tenham dificuldade em reconhecer o prédio que os receberá nesta segunda-feira para o início do ano letivo. Graças a uma rede solidária que se formou pela recuperação da septuagenária escola de Forqueta, no último mês o prédio recebeu melhorias que em nada fazem lembrar a casa que há uma década é motivo de manchetes negativas por interdições e problemas estruturais que o estado nunca deu conta de resolver.
A partir da mobilização de direção, pais, alunos, ex-alunos e líderes da comunidade, a reforma envolveu diretamente cerca de 60 pessoas, a maioria voluntária. Com todo o material arrecadado através de doações, foi feita pintura externa e interna das paredes, troca de madeiras, calhas e vidros quebrados, poda de árvores e consertos do muro dos fundos e do parquinho - esse último com a ajuda de um grupo de escoteiros.
Foi o espírito escoteiro que despertou na servidora da Justiça do Trabalho e ex-aluna da escola Denise Bampi, 42, a necessidade de mexer com os brios dos moradores de Forqueta para fazer algo pela Generosi. Após uma visita feita em novembro do ano passado, Denise chorou ao ver que a instituição onde viveu alguns dos melhores anos de sua vida estava agonizando.
- Saí do bairro faz muitos anos e passei algum tempo sem vir à escola. Quando entre e vi o estado em que estava, engasguei e não conseguia nem falar. Porque era um ambiente muito contrário às lembranças que eu tinha - conta Denise.
A parceria entre Denise e a diretora da escola, Suzana de Barros, que desde 2013 buscava apoio para consertar estragos que ameaçavam o fechamento da instituição, rendeu frutos imediatos. Ao ponto de a diretora permitir que o otimismo finalmente dê lugar à angústia:
- O papel do gestor deve ser cuidar da qualidade da aprendizagem, mas os problemas do prédio tomavam quase 90% do meu tempo. Agora vou finalmente poder focar naquilo que é o mais importante, que é a educação dos nossos alunos - destaca Suzana.
Ainda resta muito a ser feito pela José Generosi. Parte da estrutura está interditada desde novembro de 2013, quando um temporal atingiu parte do prédio. Por conta disso, foram perdidos os laboratórios de ciências e informática, a cozinha e uma sala de aula - o que representa cem alunos a menos. Também falta o Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI) e o uso da energia elétrica é limitado, para evitar sobrecargas na rede. Mas são reformas estruturais que cabem ao Estado e que o Secretário de Educação, Vieira da Cunha, não prevê obras em menos de dois anos.
As cinco lições da Escola José Generosi 1. A escola é dos alunos
A cada ano, surgem em sala de aula ideias de reformas na Generosi. Em 2015, as gêmeas Letícia e Larissa Merlo elaboraram, com mais duas colegas, um plano para pintar a frente do prédio. O trabalho delas foi ao encontro do mutirão liderado por Denise Bampi , o que fez elas se motivarem ainda mais.
Foram elas quem sugeriram dar mais cor ao prédio, acrescentando o amarelo ao azul tradicional. Ligadas em tecnologia e arte, elas mobilizam amigos e colegas pelo Facebook para participar dos mutirões e para os próximos meses querem atrair oficinas de música para a escola.
2. Não basta ser pai
As reformas no prédio da escola foram feitas com as mãos de profissionais cedidos por parcerias com empresas e também pais e familiares de alunos que ofereceram ajuda sem cobrar nada. Um dos principais agitadores das obras é o construtor Elton Martini, 52 anos, cujo neto, Kauã, inicia esse ano a primeira série do ensino fundamental. Nos últimos 20 dias pelo menos, Elton abriu mão do trabalho remunerado para se dedicar exclusivamente às obras na escola.
_ Dinheiro não é o mais importante. Depois a gente recupera. Me sinto orgulhoso de poder ajudar e saber que o ano vai começar com os alunos e os professores mais animados, podendo ver a escola com outros olhos _ diz.
3. Sentido de comunidade
Chamada a ajudar, a comunidade de Forqueta se uniu. De empresários que fizeram a doação das tintas, vidros e madeiras aos donos de estabelecimentos comerciais que contribuíram com a alimentação dos trabalhadores, quem não colocou a mão nos pinceis ou no serrote encontrou alguma maneira de ajudar. Manter essa proximidade é o desafio.
4. Mobilização digital
Utilizar o potencial das redes sociais para aglutinar pessoas foi um dos méritos dos amigos da escola José Generosi. Esse, aliás, foi o nome dado a uma página no Facebook que em dois dias passou de mil membros. A página não apenas reúne os interessados em oferecer auxílio, mas também ajuda a organizar os mutirões e divulgar cada doação recebida.
5. Estímulo ao respeito
Mais importante do que arrumar portas e janelas, é fazer a transformação interna em quem vive o dia a dia da escola. Os próximos passos para estimular o respeito pela José Generosi incluem a retomada do grêmio estudantil, com apoio de um grupo de escoteiros, e assembleias para conscientizar os alunos quanto à importância de preservar o espaço.
Repaginada
Escola José Generosi, em Forqueta, inicia o ano letivo com reformas feitas pela comunidade
Rede formada por pais, alunos, ex-alunos e empresários permitiu série de obras no prédio
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