É constrangedor, beira a deprimência, mas o fato é que estamos festejando o fechamento de um buraco no asfalto, a promessa de um carro de bombeiros num aeroporto, o anúncio de uma lombada eletrônica, a instalação de um pardal, o não fechamento dos hospitais, o salário do funcionalismo pago em dia, o , a.
A impressão geral, pra lá de palpável, é que alcançamos o fundo do poço e nos contentamos com migalhas, ou mesmo promessas de migalhas.
A crise pegou geral o setor privado, situação explicável pela economia de mercado.
Por melhor que seja a performance dos executivos, industriais, empresários e trabalhadores, a crise econômica é assunto macro enfeixado num balaio de condicionantes. Não basta saber nadar, é preciso saber nadar muito bem. Quando a jaula do monstrengo privado é aberta, a vida cá fora dos gabinetes públicos vira um salve-se quem puder. Dia mais, dia menos, porém, o bicho é reconduzido à jaula e nossas vidas deixam de ser vividas sob sobressaltos.
E o setor público, por que o setor público quebra, quebrou?
Diferentemente do setor privado, o público quebra por incompetência dos gestores. O atual tombo é tão grande que vai demorar até os governos voltarem a ter algum dinheiro para ir além do tapa-buracos, para tirar essa peneira da frente do sol.
Espero de coração lá adiante morder a língua com força, mas algo insiste em tentar me convencer de que daqui a dois, três anos, quando a crise for só uma lembrança amarga, seguiremos celebrando a conquista de migalhas jogadas pelos governos.
Ou seja, cá na vida real haverá reação, como sempre há.
Atrás e dentro dos guichês, porém, a incompetência administrativa de décadas ainda estará tentando ser revertida.
Um dos aspectos chocantes que cerca a bancarrota dos governos é que não há debate algum a respeito das causas da crise nas finanças públicas. Ou seja, os governos vestem roupas de bombeiros para debelar as chamas, mas não há garantia alguma de que o incêndio não recomece ali na frente, novamente alimentado pela má gestão, descompromisso com a população, interesses, corporativismo. Ai, ai, tudo isso cheira a reprise de horrores.
Opinião
Gilberto Blume: por que nos contentamos com tão pouco? Tudo isso cheira a reprise de horrores
A crise pegou geral o setor privado, situação explicável pela economia de mercado
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