Errou feio quem apostou que a CPI da Petrobras aberta pela Câmara dos Deputados estrearia reprisando outras CPIs marcadas por blábláblás, silêncios comprometedores.
Este que vos fala também errou feio, pois deputado investigar corrupção na Petrobras equivale a pôr a raposa para vigiar o galinheiro. Arrisco dizer que até os deputados erraram feio, jamais imaginariam que o primeiro depoimento da CPI seria solar, cristalino - se de fato é verdadeiro ainda é uma incógnita.
Pedro Barusco, ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, falou durante cinco horas e meia.
Foi bombástico.
Barusco não imitou o tartamudear de outros convocados em outras CPIs, cujas falas se limitavam a:
- Não sei.
- Não sei.
- Não sei.
Barusco assumiu ser criminoso, mas não interpôs peneira entre o Sol e a Terra.
Um dos homens de confiança do PT dentro da Petrobras decidiu não cair sozinho, coisa rara na política e, espera-se, seja tática copiada por outros depoentes. Não estamos acostumados a tais sinceridades, por isso impressionou tanto ouvir um cidadão brasileiro assumir com todas as letras ser corrupto, ter roubado, embolsado milhões em dinheiro público.
Tomara Barusco faça escola e mais e mais convocados falem abertamente, pois os depoimentos da CPI geralmente são públicos, diferentemente dos depoimentos da Operação Lava-Jato.
Um pouco de didatismo cai bem. Às vésperas dos protestos, é aconselhável rechear o kit rua com informações que podem dar ao ato um mínimo de consistência. O Ministério Público Federal (MPF) traçou o organograma da ladroagem na Petrobras.
Veja:
1. Barusco, o falante, atuava sob o guarda-chuva de Renato Duque, diretor de Serviços da Petrobras indicado pelo PT. Os dois, pois, roubavam para o PT.
2. A Diretoria de Abastecimento da Petrobras estava nas mãos de Paulo Roberto Costa. Indicado pelo PP, Costa roubava para o PP. O MPF apurou que o PMDB também levava algum desta torneira.
3. A Diretoria Internacional da Petrobras era comandada por Nestor Cerveró. Indicado pelo PMDB, Cerveró, portanto, roubava para o PMDB.
Opinião
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