Cristiane Barcelos: Algumas vezes impomos tapumes sobre os nossos próprios olhos

* Cristiane Barcelos (interina)

Ah, o gramado do vizinho é mais verde. O jardim é mais florido, a casa é mais bonita. O quintal dos outros é sempre uma perfeição. Será?

Desde o dia primeiro de janeiro, ouvimos que o Rio Grande do Sul nunca foi tão ruim para se viver. Engraçado, no dia 1º de janeiro de 2011, o Estado também foi declarado o pior dos piores. Na esfera nacional, a mesma coisa. Desde que a presidente Dilma Rousseff foi eleita (e, depois, reeleita), o país é o pior do mundo. E igualmente teria se tornado o último do globo caso Aécio Neves tivesse sido o mais votado. É que o gramado do outro é mais verde. Ah, aqui não me refiro a preferências políticas e respeito todas. Estou falando que o gramado do vizinho é sempre, sempre mais bonito.

Brasileiros mundo afora adoram gargantear o quão horrível é essa terra tupiniquim. Aqui só tem corrupção, político ladrão, nada presta. Sim, somos um dos campeões mundiais de corrupção, mas donos de uma das costas mais bonitas do mundo, uma das culturas mais ricas e algumas das comidas mais saborosas que se pode encontrar no globo (puxando o assado para o Rio Grande).

Muitos conterrâneos adoram propagar que o nosso gramado está seco, que nossas flores não têm cor, nossos bosques não têm vida. Oras, é fácil enxergar apenas defeitos quando não nos permitimos perceber além. Ou enxergar apenas a perfeição quando é só isso que se quer ver.

A Irlanda, por exemplo, é um dos países mais procurados por brasileiros que querem tentar a sorte no exterior. O país abre as portas facilmente a qualquer um que desejar. Uma lista da ONU de novembro passado classificou a ilha europeia como o 11º melhor para se viver. Trata-se de uma terra fabulosa e rica, sim, mas os brasileiros esquecem de um detalhe: a Irlanda tem um sistema de saúde público igual ou pior ao nosso SUS. Pasmem. Os próprios irlandeses brincam com a desgraça: "Quebrou um braço? Em mais ou menos uns três meses te operam". Algumas vezes impomos tapumes sobre os nossos próprios olhos, que não nos permitem ver além do que se quer.

Se o gramado do vizinho é mesmo mais verde, tenho minhas dúvidas. Eu ainda estou à procura desse lugar onde o gramado é tão, tão vívido como anunciam os críticos por aí. As redes sociais que o digam. Tenho visto tantos gramados lindos que estou pensando seriamente o quê e para onde mudar. Será?


* O colunista Gilberto Blume está em férias.