Recém instalado em novo prédio na Rua Duque de Caxias, em Caxias do Sul, o Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua - Centro Pop Rua armazena informações sobre aproximadamente 150 moradores de rua da cidade.
O mapeamento, que se iniciou em janeiro, precisou ser todo refeito após um incêndio destruir a sede do antigo Pop Rua, no ano passado. O levantamento ajuda o órgão na tarefa de convencer as pessoas a deixarem a rua e encaminhá-las para reabilitação e reinserção social.
Além de arquivar dados como nome, idade, contatos de familiares, situação social e avaliações psicológicas dos moradores de rua, por exemplo, o trabalho de busca ativa executado pelo Pop Rua mapeou todos os pontos usados como dormitórios, se são dependentes e qual o tipo de substância consumida por eles. A grande maioria é usuária de crack, seguida pelos dependentes de álcool. A faixa etária predominante é de pessoas entre 25 e 35 anos.
De acordo com o coordenador do Pop Rua, Julio Cezar Chaves, a coleta dessas informações, realizada diariamente em visitas pela manhã e à tarde, não é tarefa simples. Quando o serviço se iniciou, há cerca de dois anos e meio, os moradores de rua não aceitavam ser interpelados. Fugiam, se escondiam. Hoje, praticamente todos os moradores de rua são conhecidos pelo nome. Cada vez que são abordados, mesmo que se neguem a conversar, são convidados a mudar de vida, a procurar tratamento. O café e o banho quente no Pop Rua servem como atrativos extras.
- O que mais ouvimos é a palavra não. A grande maioria está na rua por vontade própria, porque são dependentes de alguma droga, a família não os aceita mais e eles não querem estar em um lugar onde precisam obedecer regras - afirma o pastor Almir Guedes, 55 anos, voluntário do Pop Rua e ex-morador de rua em São Paulo por três anos.
Na última sexta-feira de manhã, o Pioneiro acompanhou uma das abordagens do Pop Rua. A Kombi branca da Fundação de Assistência Social (FAS), órgão ao qual o Pop é vinculado, esteve em quatro locais em diferentes regiões de Caxias do Sul. Apesar de a maioria dos indivíduos em situação de rua aceitarem pacificamente a abordagem, nenhum aceitou ajuda.
Visitado neste dia, o prédio de um antigo supermercado, na BR-116, na entrada do bairro Cruzeiro, é um dos pontos onde o Pop Rua mais intensificou as abordagens nos últimos quatro meses. O motivo são reclamações constantes de ameaças, extorção e assaltos a quem aguarda ônibus nas proximidades.
De acordo com o coordenador do Pop Rua, os moradores de rua permanecem no local em função da proximidade com uma cooperativa que compra lixo reciclável, onde eles vendem artigos que catam durante o dia.
- Não podemos escurraça-los dali. Eles têm autonomia para ir e vir. Se não ficar comprovado que estão comentendo crimes, não temos o que fazer - esclarece o coordenador do Pop.
Mesmo assim, Chaves afirma que a situação está melhorando aos poucos.
- No início, eram 13, oriundos de um viaduto aqui perto. Eram bem agressivos, não queriam conversa. Depois, aos poucos, conseguimos abrigar seis, sendo que dois chegaram a voltar para a casa da família e dois estão frequentando o Pop quase todo o dia. Esse é um trabalho de insistência. A ideia é convencê-los pelo cansaço mesmo - afirma.
A presidente da FAS, Marlês Andreazza, ratifica que a decisão de aceitar ajuda é do morador de rua.
- A escolha é individual e cada um tem o seu motivo. Então a comunidade precisa reconhecer isso - comenta.
Mesmo assim, o coordenador afirma que é o Pop Rua que a comunidade deve acionar no caso de encontrar um morador de rua. O serviço funciona de segunda a sexta-feira. Aos finais de semana, a Guarda Municipal recebeu capacitação para fazer os atendimentos.
O pastor Almir Guedes, que já viveu nas ruas de São Paulo, onde usou drogas e chegou a beber álcool combustível, afirma que a realidade de Caxias do Sul é diferente das grandes metrópoles.
- Aqui, conseguimos controlar essas pessoas de perto, oferecemos ajuda e apoio por meio do Pop. Se continuam na rua ainda, é por vontade própria, por causa do vício, de problemas familiares. Em São Paulo, por exemplo, há pessoas que ficam na rua durante a semana porque não têm condições de voltar para casa após a jornada de trabalho. Se abrigam em viadutos, em pequenos barracos na área central até o fim da jornada, na sexta-feira - revela.
Nesta semana, conforme o coordenador do Pop Rua, devem se iniciar também rondas noturnas, dentro do programa Caxias Acolhe. Nessas abordagens, segundo Chaves, o morador de rua é convidado a pernoitar em um abrigo, para se proteger do frio e da chuva. No dia seguinte, se desejar, é encaminhado ao Pop, onde recebe encaminhamento para atendimento médico, psicológico, confecção de documentos, inclusão em benefícios sociais, reabilitação das drogas ou retorno para a casa da família. Há a opção também de participar de oficinas profissionalizantes.
Assistência social
Centro de Referência para a População de Rua em Caxias do Sul tem 150 pessoas cadastradas
Maior parte dos indivíduos nessa condição é usuário de álcool ou drogas e está na faixa dos 25 aos 35 anos
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