- Nunca havia sido tratado assim no Brasil.
O lamento é do jovem senegalês de 24 anos vítima de racismo, há uma semana, dentro de um ônibus de transporte público em Caxias do Sul. Ele mora há um ano na cidade. Naquele sábado, depois das 18h, estava no Centro e pegou um ônibus da linha Planalto/Rio Branco. O destino era a própria residência, no Rosário II. Minutos depois, quatro jovens entraram no veículo.
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- Eles passaram e me chamaram de haitiano. Dois deles sentaram atrás de mim. Um deles me deu um tapa na nuca e eu levantei. Perguntei se estavam brincando. Eles disseram que não. Perguntei por que estavam fazendo isso. Eles diziam "que foi, haitiano"? Eu falei que era senegalês, que desceria em duas paradas e se quisessem me dar outro tapa que esperassem eu descer. Ele (o que desferiu o tapa) perguntou o que eu iria fazer. Eu disse que não sabia. Ele então se levantou e me empurrou. Me chamaram de negro vagabundo - relembra.
De acordo com o senegalês, os agressores o chamavam também de haitiano e macaco. Embora ele tentasse levantar, era impedido com empurrões. O menino de 13 anos, no banco ao lado com a mãe, ergueu-se. Também foi acometido com um tapa no rosto, pelo mesmo rapaz.
- O que vi foi o motorista parar o ônibus e ligar para a Brigada Militar. Os três começaram a descer do ônibus e me puxavam pela camisa. Outras pessoas impediram que eu descesse com eles. O motorista fechou a porta e eles fugiram - completa.
Em casa, o jovem chorou. Veio para o Brasil para trabalhar. Há um mês, conseguiu emprego como auxiliar de limpeza. No Senegal, ficaram os pais, os seis irmãos, a mulher e o filho de sete anos. Não teve coragem de contar o que aconteceu. Se encontrasse os três agressores novamente, apenas uma frase seria dita a eles:
- Não façam um ato feio desses com uma pessoa de novo, é muito triste.
Racismo
'Me chamaram de negro vagabundo', diz senegalês vítima de agressão em Caxias
Jovem levou empurrões e tapa
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