Um teste do Pioneiro mostrou que falta acessibilidade aos surdos em órgãos públicos de Caxias do Sul. A convite do jornal, Gustavo Gomes Terres, 29 anos, que é surdo, tentou buscar informações na prefeitura, biblioteca pública municipal, Câmara de Vereadores e Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão). Como não encontrou intérprete em nenhum dos lugares, recorreu à escrita para conseguir se comunicar.
A lei 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, determina que o poder público deve assegurar atendimento diferenciado aos surdos, por meio do uso, difusão, tradução e interpretação de libras.
Na prefeitura, Gustavo foi ao guichê de informações pedir onde fica a Secretaria do Urbanismo. Uma atendente, por escrito, explicou o caminho.
A segunda tentativa do rapaz foi na Câmara de Vereadores, onde conseguiu informações por mímica e por escrito
Na sequência, Gustavo foi à biblioteca pública municipal. Lá, houve a maior tentativa de ajudar o surdo durante todo o teste: uma funcionária chegou a telefonar a outro setor, à procura de uma colega que conhece libras.
A última parte do teste ocorreu no Postão. Gustavo pediu, por escrito, para fazer a carteirinha do SUS, e foi encaminhado à Secretaria da Saúde, no prédio ao lado. Lá, recebeu uma senha preferencial, mas o atendimento atrasou porque senhas comuns foram chamadas antes da dele. Isso ocorreu porque uma atendente perguntou, em voz alta, se havia alguém para atendimento preferencial. Como Gustavo é surdo, não ouviu a instrução, enquanto aguardava seu código ser chamado em um painel eletrônico.
A prefeitura diz que um decreto municipal de 2005 estabelece que o atendimento aos surdos deve ser realizado por servidores do município. Em 16 secretarias e autarquias há servidores com curso de libras. Sete secretarias e o gabinete do prefeito não têm nenhum. O treinamento, no entanto, não é obrigatório. Ele é oferecido desde 2005.
Quanto ao atendimento no guichê de informações da prefeitura, Cassandra Gomes Ramos, servidora e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, explica que o serviço é terceirizado e que uma nova empresa deve assumi-lo. Ela acrescenta que uma licitação para contratação de intérprete de libras deve ser aberta em breve. Os tradutores atuariam em eventos da prefeitura, que montaria um banco de intérpretes. A prefeitura ainda testa o aparelho Vpad, também cogitado pela Câmara de Vereadores, que serve como um intérprete para o surdo, por vídeo.
O presidente da Câmara, Edson da Rosa (PMDB), diz que a contratação de tradutor depende de concurso público ou contrato, mas é preciso verificar o que a lei permite. Ele não confirma nem descarta providências para este ano. Além, disso, as sessões da TV Câmara já são traduzidas para libras.
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