Após ficar mais de duas horas nas mãos dos mesmos homens que assaltaram uma fábrica de joias e fizeram diversas pessoas reféns em Cotiporã no domingo, o agricultor Ari Casanova, 42 anos, morador do distrito de Faria Lemos, sequestrado na madrugada desta quarta-feira, passa bem.
Ele foi levado por quatro criminosos, após terem invadido a residência da família, amarrado os moradores, jantado e fugido. O agricultor teve que dirigir o veículo, enquanto os sequestrados comiam queijo pego na casa. Em São Vendelino, o homem foi liberado e os bandidos seguiram em fuga.
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> A ação dos bandidos em Cotiporã
Casanova pediu auxílio para algumas pessoas que pareciam não acreditar no que ele contava. Foi então que, em uma borracharia do município, conseguiu ajuda e ligou para polícia.
A vítima, que sofre de hipertensão, foi levada para o hospital e medicada. Em seguida, prestou depoimento em Bom Princípio.
Até o fim da manhã de quarta-feira, ainda não tinha conversado com a família, que já prestou depoimento em Bento Gonçalves. O agricultor reconheceu dois homens como sendo os mesmos do assalto e sequestro em Cotiporã.
O refém conversou com o Pioneiro na manhã desta quarta-feira. Confira:
Pioneiro - Como foi a abordagem dos bandidos?
Agricultor - Primeiramente eles chegaram na casa do meu irmão, aí depois o meu irmão e um bandido vieram na minha casa. Fica a uns 10 metros da casa do meu irmão. E aí meu irmão me chamou, bateu na porta, e disse que era para ir com calma. Eu não sabia o que estava acontecendo, pensei que alguém tinha ficado doente lá na minha mãe.
Pioneiro - A que horas ocorreu a ação?
Agricultor - Acho que era por volta de 1h30min. Nem olhei no relógio. Quando meu irmão chamou eu abri a porta e vi que tinha um encapuzado, não deu tempo de mais nada. Eles perguntaram se nós tínhamos armas, eu disse que não. Aí ele pediu o celular, eu dei o celular para ele. Aí ele perguntou se tinha mais gente em casa, e eu disse que tinha minha esposa. Aí ele chamou ela para ir lá junto. Aí fomos na casa do meu irmão. Lá tinha mais três, eles pediram comida, meu irmão deu queijo e água.
Eles queriam que fosse meu irmão no auto, mas eu disse que meu irmão tem problema de saúde, ele tem uns desmaios. Eles estavam para me amarrar, não amarraram mais. Aí amarraram o meu irmão, a minha esposa, a minha cunhada e a minha sobrinha. Tinha a minha mãe e a minha tia. A minha tia é enferma, está na cadeira de rodas. Elas eles não amarraram. Três bandidos foram com o Escort do meu irmão. Eu e um bandido fomos com o Chevette atrás.
Pioneiro - Eles estavam armados?
Agricultor - Eu vi três armas grandes, acho que era fuzil. E tinham celulares junto. Eles continuavam ligando. Aí eles foram para frente com o carro do meu irmão em três e eu dirigindo o Chevette atrás com um bandido junto comigo. Quando chegou na Linha De Mari furou o pneu do auto do meu irmão e eles desceram. Aí eu disse que ia dirigindo, mas o bandido quis dirigir e eu fui para o banco de trás. Eles pediram para ir na ponte, eu pensava que era a de Veranópolis, e quando chegamos um pouco para baixo eles viram que não era o certo, aí eles manobraram e voltaram.
Pioneiro - Quando eles deciram lhe abandonar?
Agricultor - Quando viram o carro que estava em busca deles se fizeram sinal de luz e pararam numa entrada, desembarcaram e disseram que não era para eu olhar para trás. E um ficou na porta me cuidando. Me largaram em São Vendelino. Eles se falavam entre eles no telefone, entraram numa entradinha, onde tinha umas casas.
Comecei a chamar uma família, tinha duas, três casas encostadas, e ninguém me atendia. Veio um senhor na janela, eu disse que tinha sido sequestrado, pedi para ele ligar para a polícia, para me ajudar, ele disse que não tinha telefone. Ele falou que era para ir em outro vizinho, no posto. Eu perguntei se era longe, ele disse uns 200 metros. Na corrida fui até o posto, mas estava fechado. Aí vi que tinha gente no outro lado do asfalto, era um borracheiro 24 horas. Aí o borracheiro ligou para a polícia e a Brigada logo veio. Então fomos buscar o Chevette, que tinha ficado a uns 200 metros.
Em VÍDEO, repórter Humberto Trezzi relata o terror em Cotiporã:
VÍDEO mostra parte da ação de bandidos em fábrica de joias de Cotiporã
Susto na Serra
"Quando meu irmão chamou e vi que tinha um encapuzado, não deu tempo de mais nada", lembra agricultor feito refém no interior de Bento Gonçalves
Ari Casanova prestou depoimento na manhã desta quarta-feira e passa bem
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