O baiano de Ubaitaba assustou a muitos com seus resultados nos Jogos do Rio 2016. Isaquias Queiroz se tornou o primeiro brasileiro a ganhar três medalhas – duas pratas e um bronze – em uma só edição das Olimpíadas. Feito conquistado logo cedo, com apenas 22 anos. Ainda há tempo de carreira suficiente para disputar, no mínimo, os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 e buscar outras medalhas. Por isso, Isaquias se credencia a ser um dos maiores atletas da história do país.
O canoísta já era esperança de medalhas para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Realizou bons campeonatos mundiais, quase sempre subindo no pódio. Mas, ainda assim, surpreendeu até quem convive com a modalidade há mais tempo.
– Quem acompanhou o Isaquias, com três medalhas, viu que a canoagem brasileira atingiu um nível muito alto. Até quem está dentro do esporte não esperava acontecer isso agora – relata Jonatan Maia, ex-atleta e supervisor do programa Remadas Solidárias.
Lógico que os feitos do garoto baiano, que enfrentou inúmeras dificuldades na sua cidade para chegar ao pódio olímpico, inspira o crescimento do esporte no Brasil. Isaquias também iniciou em um projeto social. Dois motivos que servem de exemplo para as crianças do Remadas, em Caxias do Sul. É possível ir além.
– Ele lutou bastante para chegar ali. Não nasceu em berço de ouro e teve que trabalhar muito. O Isaquias mostra que também podemos chegar, é só nos esforçarmos – relata Ivandel Júnior, 13 anos e que está há seis meses no programa.
A visão do garoto é compartilhada pelas colegas de turma, nas segundas-feiras à tarde:
– Nos faz não apenas querer uma atividade, mas para focarmos em um futuro melhor – afirma Millena Matias, 13, e há quatro no programa.
– Ele conseguiu chegar lá e nós também podemos conseguir. Estamos começando agora e podemos tentar – completa Fernanda Fich Fortuna, 13, há seis meses remando no Complexo Dal Bó.
A Olimpíada pode ser um sonho distante, mas colocar o esporte na vida dessas crianças já será tão relevante quanto uma medalha de ouro.
Mudanças de conceitos na escola e na vida
Assim como outros projetos de iniciação esportiva, o Remadas Solidárias, antes de buscar atletas, ajuda na formação de meninos e meninas que permanecem por dois turnos semanais no Complexo Dal Bó. E a evolução, dentro e fora da água, é natural. Os primeiros resultados aparecem nos boletins escolares, mas há outros pontos com reconhecimento.
– Eu comecei a focar mais. Sou muito distraída, e me ajudou porque tem que ficar o tempo inteiro concentrada na água. Me ajudou muito na aula, melhorou bastante as minhas notas, porque eu estava bem mal – brinca Fernanda.
Outro ponto que chama a atenção na conversa com os jovens é a consciência sobre a importância do projeto. Não só para eles, mas para a sociedade.
– Ele ajuda a tirar pessoas que estão na rua, quem não tem muita coisa ou fica em casa sem fazer nada. Incentiva a vir para o projeto e fazer um esporte – destaca Ivandel.
Além de buscar atletas, projeto forma cidadãos
O projeto Remadas Solidárias tem base na canoagem, mas vai além. As 300 crianças atendidas recebem um lanche, além de praticarem outras oficinas de dança, artes visuais e outros esportes. Uma rotina que dura todo o turno inverso ao da escola. Lógico que, por envolver um esporte náutico, todas as medidas de seguranças são tomadas pela equipe de professores.
– Não é obrigatório saber nadar para participar. Nós cuidamos muito com a questão de segurança. Ensinamos ao aluno como colocar e ajustar o colete e como agir se a embarcação virar. Há sempre um professor de lancha acompanhando eles. Todos iniciam numa piscina, então se o barco virar, estão com os pés no chão e próximos de um professor – destaca o supervisor Jonatan Maia.
Maia já foi atleta da canoagem. Iniciou na sua cidade natal, em Santa Maria, aos 12 anos. O projeto era mais simples e as dificuldades muito maiores. Os barcos não eram ideais, professores não eram capacitados e tampouco havia transporte gratuito. Ele tinha que caminhar longas distâncias. Ainda assim, seguiu no esporte e chegou a competir pela seleção brasileira.
– Hoje, um programa que tem equipamentos, transporte, lanche, uniforme, é estruturado e organizado, nos dá uma satisfação muito grande. Junto com a nossa equipe, posso dar uma oportunidade melhor que eu tive. Estamos ajudando e conseguindo tirar jovens das ruas, ocupar esse tempo ocioso deles com algo que realmente que vai agregar para todos – relata Maia.
O Remadas Solidárias tem parceria com 10 escolas. Nestas instituições, o aluno ganha o transporte até o Complexo Esportivo do Sesi, no bairro Fátima. No entanto, o projeto é aberto a toda comunidade. Alunos de outras escolas apenas não possuem o transporte. Aos pais interessados em matricular os filhos, o contato deve ser feito pelo site www.remadassolidárias.com.br, onde constam todas as informações sobre o programa. Como há rotatividade dos alunos, sempre há um número pequeno de vagas em aberto.