Depois de um 2020 com perdas na agricultura na casa dos R$ 98 milhões somente em Caxias do Sul, por causa da estiagem, a região comemora a última safra. Apesar de o ano passado também ter tido períodos sem chuva, as culturas, de forma geral, não foram afetadas. Para algumas, inclusive, as condições climáticas foram benéficas em termos de saúde das plantas e dos frutos. Videiras, macieiras e pessegueiros não tiveram doenças no último ano.
— A gente nunca tinha visto tanta sanidade — diz o engenheiro agrônomo e extensionista rural do escritório regional da Emater, Enio Ângelo Todeschini.
Para garantir qualidade e quantidade da próxima safra, Enio destaca que é preciso que o clima colabore. Após um abril quente e seco e um maio frio e chuvoso — entre sexta-feira e sábado da semana passada choveu cerca de 100 milímetros na região, segundo ele —, o engenheiro teme que faça calor neste mês e no próximo.
— A grande dúvida é que venha ocorrer algum veranico agora em junho ou julho. A grande insegurança é que ocorram picos de calor. O estrago seria grande — afirma. O calor do feriadão de Corpus Christi foi curto, não trazendo fortes impactos, segundo ele.
As consequências não seriam boas em caso de calor fora de época, porque as plantas precisam de uma determinada quantidade de horas de frio para se desenvolver. A maçã, por exemplo, necessita de cerca de 500 horas. Contudo, algumas variedades de uvas já "acordam" com apenas 150 horas. Por isso, conforme Enio, é importante que a temperatura, até agora, não passe dos 18 ou 20 graus.
Chuva e frio
O secretário da Agricultura de Caxias, Rudimar Menegotto, reitera a necessidade de frio para evitar quebras nas safras. Chuva também é necessária, já que, segundo ele, muitas nascentes secaram e os reservatórios estão abaixo no nível ideal. Nas últimas semanas, choveu mais de 140 milímetros em Caxias, conforme Menegotto:
— É uma quantidade boa, recupera as nascentes.
Prejuízos no milho
Quem sofreu os maiores impactos na última safra foram os produtores de milho. Plantações foram alvo da virose do enfezamento, conhecida popularmente como cigarrinha. O vírus, que se adapta bem ao tempo seco, atacou milharais e provocou perdas significativas. Conforme Enio Ângelo Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater, o vírus, já conhecido no centro-oeste do país, foi identificado pela primeira vez na região nesta safra. Há registros de perdas em diversos municípios, como Paraí e Picada Café.
— Com a redução da umidade, o maior impacto foi nos grãos. A cigarrinha deixa a planta fora do padrão. Ao invés de fazer duas espigas, faz seis, sete e sem grãos — explica.
Menor oferta, valor maior
Entre os produtos da cesta básica que tiveram aumento de preço em abril, três são produzidos em Caxias: maçã nacional (21,50%), tomate (8,37%) e laranja (7,46%). A explicação para o aumento da maçã pode estar associado ao baixo preço pago aos produtores. Conforme Enio Todeschini, no início da safra, a maçã estava com boa cotação, mas caiu muito ao longo da colheita.
O produtor, segundo ele, no auge da safra, considerada supersafra, estava recebendo entre R$ 1,20 e R$ 1,50. O mesmo aconteceu com o caqui. Embora não apareça no levantamento da cesta básica, Enio destaca que a fruta estava com o preço bom, mas como teve uma safra em grande quantidade, baixou de preço _ Caxias, aliás, está finalizando a colheita do caqui e é o maior produtor da fruta do país com 952 hectares.
— A maçã estava com o preço muito baixo, abaixo do custo de produção. Talvez tenha subido um pouco agora porque é final de safra e tem menor quantidade — acrescenta o secretário da Agricultura Rudimar Menegotto.
— O tomate não estava com o preço tão elevado. Estava baixo em todo o país. Mas pode ter reajuste normal porque entramos na entressafra. Se diminui a oferta, aumenta o valor — completa.
MAIORES PRODUÇÕES NA SERRA (ÚLTIMA SAFRA)*
- Uva: 890 mil toneladas
Maçã: 575 mil toneladas
Pêssego: 33 mil toneladas (teve quebra de 45%)
Alho: 12 mil toneladas - Cebola: 36 mil toneladas
Tomate: 72 mil toneladas
* Levantamento da Emater regional considerando 35 municípios da Serra.