Embora o município e a região vivenciem os maiores índices de mortalidade e internações desde o início da pandemia, paralelamente, cresce a pressão de segmentos do comércio pela retomada das atividades em Caxias do Sul. Nesta sexta-feira, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) confirmou início da campanha "Os estabelecimentos pedem socorro". A entidade distribui faixas pretas, cartazes e adesivos com frases de protesto para associados exporem a contrariedade com relação às restrições impostas pela bandeira preta. No lançamento da ação, a CDL também divulgou estudo em que estima prejuízo diário de R$ 3,2 milhões para o setor em cada dia que vigoram as limitações de atendimento. Na nota, a entidade também reitera o prejuízo acumulado de R$ 412 milhões em 2020. As estimativas foram baseadas na arrecadação de ICMS, no desempenho econômico do ano passado e em dados de emissão de documentos eletrônicos fiscais da Receita Estadual.
O presidente da CDL, Renato Corso, ressaltou a situação de dificuldades que o setor vivenciava antes da bandeira preta em razão dos prejuízos de 2020. No entanto, defendeu a reabertura para atendimento presencial para evitar fechamento de empresas e novas demissões:
— A única modalidade permitida, atualmente, são as vendas online, telentrega ou pegue-leve, mas que não têm grande representatividade dentro das empresas, já que o perfil do consumidor caxiense tem como característica a preferência por compras presenciais. Com esta paralisação das atividades, muitos estabelecimentos serão fechados e novas demissões deverão acontecer, infelizmente. O comércio e os serviços não são os vilões. Todo o comércio e serviços são essenciais. Muitas famílias dependem deles para sobreviverem — argumenta.
Para Corso, mesmo com comércio restrito, não há controle de aglomerações e movimentação nas ruas:
— Mesmo com o fechamento dos estabelecimentos, as ruas seguem movimentadas, centenas de casos são detectados e, tristemente, inúmeras vidas são perdidas. Além disso, precisamos que haja maior fiscalização de atividades irregulares e aglomerações.
Comércio e serviços (parte deste segmento é representada por entidades do comércio) representam mais de 50% dos postos de trabalho em Caxias _ cerca de 80 mil trabalhadores. Em 2020, 2,3 mil vagas foram extintas nos dois setores.
Momento considerado delicado para retorno
Apesar de o comércio reivindicar o retorno e contestar a "seletividade" das restrições para o setor" — a indústria pode operar com 75% da mão-de-obra, por exemplo —, para especialista e poder público, o contexto requer cautela. A infectologista e coordenadora do Controle de Infecção do Hospital Geral, Viviane Buffon, reitera a aceleração da transmissão do vírus e a evolução dos casos graves entre jovens como indicativo do momento delicado.
— Já chegamos ao limite na área da saúde. Todas as medidas neste momento são válidas para reduzir a circulação e a aglomeração. Infelizmente, nem todas as pessoas estão respeitando as regras de distanciamento e uso de máscaras. Esse fato está repercutindo, neste momento, em toda a economia. Eu sinto muito por este momento, pois estamos sofrendo não somente da doença, mas também das sequelas sociais e econômicas com o declínio do nosso potencial comercial e educacional — avalia Viviane.
O secretário de Urbanismo de Caxias, João Uez, considera legítima a mobilização dos setores econômicos afetados e afirma que o município é solidário e apoia a reivindicação. Entretanto, reconhece que todas as medidas que impedem a circulação de pessoas podem contribuir para amenizar a transmissão do vírus.
— O comércio fechado, tudo aquilo que está parado, todas pessoas que não estão na rua, tudo ajuda na prevenção e combate à covid. O comércio não é o grande culpado e nunca foi. A culpa é de aglomerações e festas clandestinas. Mas o comércio fechado ajuda, assim como os bares e outros segmentos. Mas a gente vislumbra, sim, logo ali na frente o mais rápido possível uma reabertura. Não podemos deixar a cidade morrer por causa da saúde, e nem economicamente — ressalta.
Uez explica que a liberação de 75% da indústria foi uma medida determinada a critério do Estado, contudo, cita fatores que, segundo ele, tornam compreensível a flexibilização: a convivência das mesmas pessoas no ambiente (diferente do comércio, em que há circulação do público), a testagem recorrente dos funcionários feita por parte das empresas, além da produção de parte dos insumos que compõem a estrutura do sistema de saúde.