A implementação do conceito de centralidade urbana nasceu, em 2018, dentro do Movimento Mobilização por Caxias (MobiCaxias). Durante o exercício estratégico de pensar Caxias para 2040, considerou-se que o bairro São Pelegrino poderia vir a receber um plano de transformação e requalificação. Em 2019, o Instituto de Desenvolvimento Municipal e Regional (Idemer) alia-se ao grupo Vivacidade, que colaborou com a fase de ativação e ideação, momento em que a iniciativa se denominava Viva São Pelegrino. Mas, afinal de contas, por que da escolha do bairro São Pelegrino?
– Elencamos 14 centralidades, entre elas a Maesa e São Pelegrino. Por todas as questões políticas envolvidas na Maesa, acabamos escolhendo São Pelegrino. Primeiro, porque há construções de valor patrimonial único, como a Estação Férrea e as antigas cantinas, com enorme potencial para outros usos. E, segundo, porque entendemos que se trata da região mais “preparada” para quebrarmos o paradigma de “cidade genérica” – explica a engenheira civil Giovana Ulian, doutora em urbanismo, e uma das coordenadoras do Projeto São Pelegrino.
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A “cidade genérica” a que se refere Giovana é um dos paradigmas que deve ser quebrado, na assimilação de uma nova visão, que venha a estimular o que cada região tem de mais valor. “Cidade genérica” é a visão ultrapassada, no entendimento de Giovana, de que toda a cidade deva ser regida por um mesmo ordenamento, desrespeitando as particularidades e necessidades de cada zona em específico.
Por exemplo, em uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul (UCS), com 396 pessoas apenas 65 eram moradores de São Pelegrino. Do total, 5,74% dos entrevistados gostariam de morar no bairro. Sendo que, destes, 35,3%, uma alta representatividade, é de jovens entre 20 a 24 anos. Para Giovana, é um demonstrativo interessante que poderia (e deveria) gerar uma série de ações e iniciativas específicas para mobilizar não apernas a sociedade, mas a inserção de novos negócios em São Pelegrino.
Giovana faz questão de frisar que a delimitação do projeto, ou seja, a área física de abrangência do Projeto São Pelegrino contempla ainda partes de outros seis bairros (Exposição, Rio Branco, Medianeria, Cinquentenário, Centro e Marechal Floriano). A área total é de 148 hectare, com população de 14 mil pessoas. A delimitação pode mudar durante a implementação das ações, podendo ser maior ou menor, a depender das melhorias que serão possíveis de serem realizadas por meio de iniciativas público privadas.
Giovana refuta a ideia de que a escolha por São Pelegrino torna o projeto elitista.
– Quem fala isso é porque não tem entendimento da proposta. São Pelegrino já está bem estruturada a ponto de podermos sugerir que sejam construídas habitações sociais nessa região. Porque, geralmente, moradias desse perfil são construídas em áreas mais baratas, distantes e sem infraestrutura. Só que isso gera outros problemas para a administração pública como a criação de redes de esgoto, construção de escolas e postos de saúde. Acreditamos que uma região com bom desenvolvimento social precisa ter pessoas de todas as classes sociais – defende.