A pandemia do coronavírus ainda tem deixado rastros de sua consequência na economia. Não seria diferente na indústria caxiense, que por sua representatividade comercial é importante, inclusive no contexto brasileiro, e não apenas regional. Em se tratando dos índices de exportação e importação, Caxias já está reagindo, principalmente na comparação com o mês de abril, o pior até agora, em todos os quesitos econômicos. Para se ter uma ideia, em abril, o Porto Seco de Caxias do Sul — importante termômetro da balança comercial local — registrou redução do volume financeiro em 17% e uma queda de 43% em processos de saída de cargas. No entanto, Mauro Vencato, que é o supervisor comercial do estação aduaneira, revela que, se for levada em conta a média anual, o índice começa a estabilizar.
— Percebemos aqui no Porto Seco a redução de 7,5% do número de processos de janeiro a agosto na comparação entre 2019 e o mesmo período deste ano. Tínhamos muita mercadoria estocada e muita gente não importou, e acabou consumindo o seu estoque que estava aqui conosco — diz Vencato.
Com relação ao volume financeiro das exportações, para se ter uma ideia de comparativo e do impacto da pandemia, haviam sido comercializados em janeiro US$ 56 milhões. Em abril, mês da maior queda, o volume caiu para US$ 27 milhões. E em agosto, o valor subiu e chegou a bater US$ 44 milhões.
— O Porto Seco é uma espécie de almoxarifado das empresas. Digamos que seja um "concentrador" de mercadorias na importação para que fique mais próximo do centro consumidor. Pode ser entendido também como um grande "pulmão" de estoque de mercadoria importada. E no lado da exportação, o porto dá mais agilidade na hora do trâmite final. Por exemplo, a mercadoria entra aqui, e em três ou quatro horas, se estiver tudo certinho, é um tempo razoável para o caminhão entrar aqui e já levar a mercadoria — explica Vencato, que diz que o Porto Seco conseguiu regularizar sua situação operacional por meio de um processo licitatório e assinou contrato para operar até 2045.
O ano de 2020 vai ficar na história, marcado como o período em que as importações e exportações foram fortemente afetadas, reconhece Vencato.
— Em todos esses anos, nunca vimos uma queda tão violenta como na pandemia. Mas há um conjunto de fatores combinados, além da pandemia em si. Temos um câmbio alto, aliado a uma paralisação da produção, no Exterior e aqui dentro do Brasil, e tudo isso tem influenciado nas importações. E a empresa que deseja importar algum produto ou mercadoria sabe que demanda tempo. Entre compra, transporte e liberação para ser carregada a encomenda, no mínimo, leva 90 dias. Mas tem sido comum nessa época levar até 180 dias — explica o supervisor comercial.
Queda de 20,6% no índice da indústria gaúcha acumulado do ano
O mercado gaúcho está reagindo, mas ainda em defasagem. Em agosto, as empresas gaúchas exportaram o equivalente a US$ 954,2 milhões. Apesar desse volume financeiro, as vendas externas da indústria gaúcha caíram 14,6% na comparação com o mesmo mês de 2019. Dos 23 segmentos que registraram algum embarque no período, 14 apresentaram queda na mesma base de comparação. No acumulado do ano, as exportações industriais atingiram US$ 6,7 bilhões, queda de 20,6% em relação ao mesmo período de 2019.
– A recuperação das exportações na indústria gaúcha, fortemente afetadas pela crise mundial provocada pelo coronavírus, ainda levará algum tempo. Os principais parceiros comerciais, China, Estados Unidos e Argentina, tiveram fortes quedas nas compras de nossos produtos em agosto, e no acumulado do ano a retração também é intensa se for comparada ao mesmo período do ano passado – argumenta Gilberto Porcello Petry, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Fora da curva descendente, está o setor de alimentos. Responsável por 35,6% das exportações da indústria gaúcha em agosto, o setor voltou a crescer acima de 15% na comparação mensal. O resultado está ligado à crescente demanda chinesa, que chegou a 99,8% pelos produtos do segmento. Entre eles, as principais exportações foram Carne de suíno (+105,7%) e Carne de boi (+123,9%), ambas in natura.
Instabilidade nos preços dos produtos
Além do contexto da pandemia, que segue provocando consequências mundo afora, internamente, o Brasil passa por um processo de constantes embates políticos, argumenta o economista Gustavo Bertotti, provocando instabilidade na Ibovespa.
No dia a dia do consumidor, o maior impacto dessa instabilidade é na hora de pagar a conta no supermercado.
— O Brasil é um grande produtor de commodities (matérias-primas básicas como milho, boi, café, petróleo e ouro). Como temos um mercado demandando por mais alimentos, como a China, e porque o dólar ganhou frente em relação ao real, o produtor prefere vender mais ao mercado internacional. Ao mesmo tempo, com os programas assistenciais, a população aumentou a sua renda, fazendo com que as pessoas comprassem mais alimentos, aumentando o preço de produtos da cesta básica, como o arroz — explica Bertotti, que é head de Renda Variável da Messem Investimentos.
É questão de tempo, acredita o economista, para que ocorra um maior aumento de preços em mais itens da cadeia produtiva, seja dentro das empresas (na compra de insumos) quanto para o consumidor (na compra de produtos).
– Algumas empresas ainda estão absorvendo o aumento de custos, reduzindo suas margens de ganho. No entanto, a curto e médio prazo, é inevitável que esse custo seja repassado ao consumidor final. Já temos visto isto, no setor automotivo.
Ainda com relação aos insumos, Bertotti acredita que haverá instabilidade na demanda e no preço, só ajustado a médio e longo prazo, a partir do final deste ano.
Exporta-RS terá dois postos em Caxias
Apesar da pandemia, ainda é possível exportar mais? Se depender da avaliação do Programa Exporta-RS, do governo do Estado, sim. O programa existe justamente para identificar as possibilidades de comercialização de empresas gaúchas, sobretudo os micro, pequenos e médios empreendimentos.
Pensando em acelerar esse processo e inserir mais empresas da região da Serra, firmou-se uma parceria entre a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), Microempa e Prefeitura de Caxias do Sul, para que sejam abertos em outubro, dois postos de atendimento do Exporta-RS. O posto principal ficará localizado na Microempa. Também haverá um ponto de atendimento junto à Sala do Empreendedor, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Caxias do Sul. A expectativa é que no primeiro ano entre 50 e 60 empresas sejam atendidas. A ação, que teve inauguração do projeto Entreposto Exporta RS segunda-feira (5), na sede da Microempa, teve a participação do governador Eduardo Leite por videoconferência.
Segundo o titular da Sedetur, Rodrigo Lorenzoni, Caxias foi escolhida para o lançamento do projeto porque, das mais de 400 empresas auxiliadas pelo Exporta RS, 15% delas são caxienses.
Para Luiza Colombo Dutra, presidente da Microempa, sediar um posto do Exporta-RS valoriza o trabalho realizado pelo Núcleo Setorial de Negócios Internacionais, o Microex, que desde 2016 vem ajudando empresários a se preparar para acessar o mercado externo.
— Essa parceria com a Sedetur contribui fortemente para todas as empresas da região que querem desenvolver uma cultura exportadora. Nesse período de pandemia ficou evidente a necessidade de elas estarem presentes em diversos mercados. Trata-se de uma excelente oportunidade para o fortalecimento das micro e pequenas empresas, que representam mais de 98% da economia nacional — defende Luiza.
ENTRADAS E SAÍDAS
Comparação entre janeiro e agosto de 2019 e o mesmo período deste ano em Caxias do Sul
2019
Exportações
467,1 milhões de dólares
206,9 mil toneladas
Importações
306,6 milhões de dólares
136,7 mil toneladas
2020
Exportações
327,9 milhões de dólares
171,1 mil toneladas
Importações
176,6 milhões de dólares
44 mil toneladas
Variação
Exportações em valor: -29,8%
Exportações em peso: -17,3%
Importações em valor: -42,4%
Importações em peso: -67,5%
Fonte: mdic.gov.br