O tradicional dito popular de que o ano só começa depois do Carnaval, não mais retrata a realidade da economia de Caxias do Sul. Seja nos clubes ou com o movimento alternativo dos blocos de rua surgido em 2011, a cidade sempre teve espírito carnavalesco. Tanto que hoje, ostenta o maior bloco de rua do Estado, o da Velha, que neste ano chega a 10ª edição e espera atrair público de 50 mil pessoas.
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Somado com a expectativa das outras duas maiores mobilizações foliãs, o da Ovelha e o do Luizinho, mais de 90 mil pessoas são estimadas nas comemorações carnavalescas em Caxias. Isso em apenas dois dias. Esse número pode ser bem maior considerando que, ao todo, estão previstos 17 eventos, entre os dias 21 de fevereiro a 8 de março.
– Vamos para mais um ano sem Festa da Uva e o Carnaval acaba sendo a maior festa da cidade. A cadeia que envolve é enorme, vai muito além da percepção de cada comércio. É um mundo muito forte que movimenta a economia – destaca o organizador do Bloco da Velha, Guilherme Martinato.
Engana-se quem não vê a data como oportunidade de faturar. Entre contratação de serviços, investimento em estrutura e programação, só os três eventos devem movimentar mais de R$ 400 mil e dar emprego para mais de 800 pessoas. Além disso, outros segmentos se beneficiam da movimentação da cidade nos dias de festa.
– O evento como um todo movimenta mais de R$ 1,5 milhão na economia local, tanto para comerciantes, motoristas de táxi e aplicativos, artistas, empresas parceiras, salões de beleza, lojas de fantasias, bares, restaurantes, hotéis – ressalta.
Na visão do secretário Municipal da Cultura, Paulo Périco, o impacto positivo é ainda maior do que o investido pelos blocos:
– Se temos um Carnaval de rua que movimentará em torno de 100 mil pessoas, multiplicando por um tíquete médio de R$ 40 de consumo, pode-se dizer que faz girar em torno de R$ 4 milhões na cidade. Ao comprarem bebida ou comida, mesmo se for de um ambulante, esse também comprou de um mercado e lá está o imposto para a prefeitura. O próprio município ganha muito com isso. Sem falar em restaurantes, bares e hotéis.
Não há pesquisas no Estado com relação ao tíquete médio do gaúcho no Carnaval. No entanto, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo (FCDLESP), cujo perfil de blocos de rua se assemelha ao de Caxias, estima que cada folião deva gastar entre R$ 50 e R$ 100 no período.
Já na comparação com o ano passado, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS) projeta crescimento de cerca de 6% nas vendas no mercado varejistas gaúcho.
Lojas especializadas em artigos de decoração e fantasias, além de hospedagem e alimentação são os segmentos de maior apelo nesta época. No país, a previsão é de que o Carnaval gere faturamento de R$ 8 bilhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Mais caxienses preferem a folia
O vínculo histórico entre o Carnaval e o samba restringia o alcance do evento em Caxias. Embora sempre tenha sido sucesso de participação na época em que se destacaram as escolas de samba, o público se ampliou conforme blocos de rua de diferentes perfis passaram a surgir. O próprio comportamento da população mudou. Se antes era comum muitos se debandarem para praia, hoje, boa parte permanece para a folia.
– Na primeira edição, tivemos 250 pessoas. Lembrar dez anos como era a cidade é interessante. Esvaziava. Quem tinha oportunidade de viajar, viajava. Quem ficava era porque não conseguia sair daqui. Hoje estamos com movimentação inversa – comenta o organizador do Bloco da Velha, Guilherme Martinato
– Não que ainda não tenha uma debandada para o litoral, mas diminuiu muito e hoje atraímos visitantes de outras cidades próximas – avalia o organizador do Bloco do Luizinho, Leonardo dos Santos.
Dinheiro que fica na cidade
Além de se projetar como maior evento em anos sem Festa da Uva, o Carnaval tem o diferencial de valorizar atrações e serviços locais.
– Proporcionalmente, podemos dizer que é maior que a Festa da Uva, principalmente pelo movimento e pela mão de obra local trabalhando. Toda a produção é local, artistas são locais. Não está trazendo Jorge e Mateus, Titãs, que recebem R$ 100 mil para estar aqui, fazem uma hora de show e vão embora – destaca o organizador do Bloco da Ovelha, Leonardo Ferrolho.
– Temos viés também de tentar pegar empresas ou profissionais da cidade. A nossa banda, a parte artística que atende ao evento são a maioria de Caxias do Sul. Gera impostos e renda na própria cidade – explica o organizador do Bloco da Velha, Guilherme Martinato.
Além da renda direta, serviços locais se beneficiam da folia, conforme ressalta o secretário da Cultura, Paulo Périco:
– Quem fica aqui ou vem para cá tem de comer, vai no supermercado, no restaurante, vai usar transporte, seja próprio carro, aplicativo, táxi, ônibus. Ele vai estar consumindo, o movimento público gira a economia.
Antecipar o faturamento do ano
Alguns elementos estão consolidados, independentemente do modelo de Carnaval festejado. Um deles é o abadá, vestimenta utilizada pelos blocos que faz alusão ao próprio evento. Mais do que identificação visual, o traje também tem importância econômica, pois é uma das formas de os blocos gerarem recursos próprios.
É neste nicho que surge a demanda a qual empresas como a Ilustro Design estão preparadas para cobrir. O estabelecimento, localizado no bairro Cruzeiro, atua no segmento têxtil e tornou-se referência na produção de abadás de Carnaval em Caxias.
– Já produzíamos para várias escolas (de samba). Com declínio das escolas, começaram a surgir os blocos, que não chegam a registrar o mesmo patamar de vendas, mas se tornou um mercado bem aquecido e diversificado – avalia o proprietário da empresa, Mauro Silva.
Além dos blocos de rua da Velha e da Ovelha e escolas de samba, outras empresas já procuram a Ilustro para produzir materiais a ações alusivas ao Carnaval.
– Neste ano, tivemos academias que vão ter aulas temáticas em que as pessoas estarão vestidas com abadás – relata.
Ao todo, Mauro destaca que serão produzidas mais de duas mil peças para o evento este ano. Somente para o Bloco da Velha serão 1,2 mil abadás.
– É uma demanda crescente, que anualmente aumenta de 15 a 20%. Não chega a ser a nossa principal data do ano, mas é um movimento bastante interessante num período que a produção está esperando o ano acontecer – salienta.
Entre os diferenciais para ter se tornado referência, Mauro destaca que a agilidade de produção, o relacionamento com clientes e a própria divulgação espontânea que essas características geram ao negócio:
– Temos tempo recorde para produção. Após a aprovação da arte de um dos abadás, conseguimos colocar em produção e entregar um lote grande em menos de uma semana, por exemplo – explica.
Fora isso, informa, as pessoas foram descobrindo, de boca a boca e também por meio do nome da empresa que está identificada na etiqueta.
Vendas aumentam 50%
A moda também mudou. Outrora, o Carnaval vinculava-se a fantasias pomposas e maquiagens elaboradas. Hoje, ainda predominam, porém, é mais comum ver foliões com maquiagens minimalistas e fantasias customizadas por si mesmos. Há 25 anos no mercado, esses foram alguns dos fatores impactantes sentidos pela Arlequim Costume Dell’Arte, loja de fantasias localizada na área central de Caxias.
– Temos como vilã a Rota do Sol, que é usada para o pessoal sair da cidade em direção ao litoral e outro aspecto negativo foi que sumiram os clubes, que eram o nosso principal público – ressalta a sócia-proprietária, Tatiana Bordin.
Ainda assim, os blocos aquecem as vendas, que duplicam em volume no período, e tornam a data uma das principais para a loja.
– Na semana que antecede temos um aumento de mais de 50% em relação aos demais dias e meses. Fica só abaixo do Halloween em datas que faturamos – destaca a sócia-proprietária Mirvana Bordin.
Um dos principais públicos atendidos pela loja acaba sendo o infantil, em os pais adquirem adereços e acessórios para festas alusiva ao Carnaval.
CONFIRA AS DATAS DOS BLOCOS
:: 21, 22, 23, 24 e 25/02 – Carnaval Shiva
Horário: 23h
Local: Rua Osmar Meletti, 275 - Cinquentenário
:: 22/02 – Bloco da Ovelha
Horário: 10h às 20h
Local: Concentração em frente à Paralela (Rua Tronca, 3.483, Rio Branco) e, em seguida, o cortejo
:: 22 e 23/02 – Bloquinho da Ovelha Negra
Horário: 15h às 22h
Local: Estacionamento da Bulls Brasil (R. Dr. Augusto Pestana, 55, Estação Férrea)
:: 22/02 – Bloco do Luizinho
Horário: 14h às 22h
Local: em frente ao Bar do Luzinho (Rua Jacob Luchesi, 3074, Cohab)
:: 23/02 – Bloco da Velha
Horário: 14h às 22h
Local: em frente à Maesa (Rua Plácido de Castro, Exposição)
Em caso de chuva será transferido para o dia 01/03
:: 24/2 - Bloco do Ju
Horário: a partir das 16h
Onde: Estação Jaconera (no estádio Alfredo Jaconi)
Valor do abadá*: R$ 25 (sócios) e R$ 30 (não sócios). Crianças até 12 anos não pagam
Onde comprar: Secretaria do estádio.
:: 24/02 – Bloco Arco Íris
Horário: 14h às 22h
Local: em frente à Secretaria Municipal da Cultura (Rua Dr. Augusto Pestana, 50, São Pelegrino)
:: 25/02 – Bloquinho Agora Vai
Horário: 14h
Local: Barra Garden (Avenida São Leopoldo, 1115, São Leopoldo)
:: 25/02 – Bloco da Velha no Boss Pub Chopperia
Horário: 17h
Local: Rua Ernesto Alves, 2.350, Centro
:: 28/02 – Cortejo Afro
Horário: 19h30min às 23h30min
Local: concentração na Praça Dante Alighieri e, em seguida, o cortejo
:: 01/03 – Carnaval Papa Lanches
Horário: 14h às 22h
Local: Rua José Arlindo Fadaneli, Esplanada
:: 01/03 – Show com a Banda Bloco da Velha no Pale Beer House
Horário: 15h
Local: BR-116, 19055, Nossa Sra. de Lourdes.
CARNAVAL DAS ESCOLAS DE SAMBA
:: 29/02 – Acadêmicos do Arsenal, Acadêmicos do São Vicente, Incríveis do Ritmo, Protegidos da Princesa, Acadêmicos Pérola Negra
Horário: 19h à meia-noite
Local: Sinimbu (entre Alfredo Chaves e prosseguirá até a Rua Dr. Montaury)
FESTAS NOS BAIRROS
:: 15/02 – Pérola Negra
Horário: 16h
Local: Rua Maria Luiza Alves da Silveira, 102, Mariani
:: 23/02 – Incríveis do Ritmo
Horário: 15h às 22h
Local: Rua Luiz Francescutti, 2044, Pioneiro
:: 08/03 – Filhos de Jardel
Horário: 14h
Local: Bairro Jardelino Ramos