Renato Corso tinha 15 anos quando começou a trabalhar. Iniciou no depósito da tradicional Importadora de Ferragens Triches e lá permaneceu por 21 anos, chegando ao cargo de gerente. Da experiência,decidiu abrir o próprio negócio e, há 21 anos, administra a Porcelana e Cia, localizada no loteamento Sanvitto. O envolvimento de 45 anos com o varejo deu-lhe respaldo para comandar a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias.
Atualmente, a entidade possui em torno de 4,3 mil sócios, sendo uma das cinco maiores CDLs do país – entre 2 mil entidades do país. Corso assume a presidência da entidade oficialmente em 1º de janeiro de 2020 e permanece na função até 2022.Ao Pioneiro, ele falou sobre sua trajetória e perspectivas frente à entidade.
O senhor comentou que tem 60 anos e que se dedica ao varejo há 45 desses. Começou com 15 anos? Outros tempos?
Sim, perdi meu pai com cinco anos,precisei trabalhar cedo, mas me dediquei para o varejo porque me encontrei. Tive líderes que me inspiraram bastante, marcaram minha vida. Gente que me mostrou a valorizar o consumidor e o fornecedor.
E daquela época para hoje, na sua visão, o que mudou em termos de gestão empresarial?
O lojista é um herói neste país, principalmente pela carga tributária que paga. No meu segmento, por exemplo, chego a ter 47% de impostos. Temos concorrência de Estados vizinhos que têm impostos menores. Tem empresas de Caxias montando filiais e saindo de Caxias, deixando de gerar emprego aqui. É uma situação muito triste para o Rio Grande do Sul.
E onde uma entidade representativa entra para atuar e tentar mudar esse cenário?
Quando comecei a entender sobre associativismo, passei a perceber a importância da CDL para pequenos empreendedores, que representam 95% dos negócios no Brasil. E ter uma entidade forte como uma CDL, com 60 colaboradores preparados e dedicados a ajudar o empreendedor e o associativismo é muito importante.
Temos cenário de pessoas que decidiram empreender pela falta de oportunidades no mercado de trabalho, porém acabam muitas vezes não tendo a qualificação necessária. Como a CDL auxilia nesses casos?
A CDL se articula com parceiros como Sebrae,UCS (Universidade de Caxias do Sul). Já para 2020 temos planejamento e orçamento aprovados pelo conselho (da entidade). Teremos 10 cursos da Cipa, 10 de escolas de negócio, cursos de formação de gestores, palestras, pesquisas. A CDL entrega muito para o associado, há pesquisas para sentir o que o associado precisa. Vamos aos bairros justamente porque sabemos que a realidade lá é diferente do centro da cidade.
O lojista do bairro está mais distante geograficamente. Há forma, então, de aproximá-lo?
Sim, estamos indo aos bairros. Tivemos ações recentes no Cruzeiro, no Santa Catarina, onde fomos ver as necessidades daquelas regiões.
De uma perspectiva de autocrítica, o que acha que falta ao lojista caxiense?
Estamos buscando, por meio de parceria do Sebrae e Sicredi, justamente nos aproximar mais do lojista e qualificá-lo. Ele (o lojista) precisa encantar mais o cliente, trabalhar com rede social, meios de comunicação, não pode mais esperar o cliente entrar na loja. Promovemos palestras, treinamentos que mostrem que o lojista não pode parar nunca.
Não há uma adesão tão efetiva em Caxias quando se trata de redes sociais e e-commerce. Acha que isso é sintoma de um comércio mais conservador?
Acho que isso vem crescendo (adesão ao digital), a CDL também faz um trabalho para qualificar o lojista nesse sentido. É um mundo novo, mas que está aí. Muitos lojistas ainda vão até as lojas físicas,testam o produto, para depois comprar na internet. Mas a gente tem de aprender a trabalhar isso, o fato de o cliente já ter chegado na nossa empresa já é um bom sinal.
Como se atrai esse cliente para comprar no seu estabelecimento?
Com parcerias com fornecedores. Acho isso fundamental, fazer parceria com fornecedor que faça com que o meu preço de venda possa ser o mesmo que o cliente compraria pelo site.
E o poder público? O que a CDL espera dessa relação?
A gente sempre teve excelente relacionamento com o poder público, com todos os prefeitos. Precisamos retomar isso. Poder público precisa das entidades e vice-versa. A gente precisa estar junto, vai passar essa fase difícil, não gostaria de comentar, julgar é muito fácil, mas sempre tivemos excelente relação com a prefeitura e os dois lados ganham com isso. O próprio Homens na Cozinha, entregamos R$ 280 mil na última edição para entidades carentes, ou seja, ajudamos a fazer gestão na assistência social.
O comércio ambulante é de fato uma ameaça?
Acho estranho quando o consumidor exige excelência de atendimento e produto de ponta, e tem o direito à troca, e isso tudo não ocorre quando compra do comércio ambulante. Atrapalha um pouco,sim,mas é responsabilidade do poder público resolver isso.
A CDL poderia auxiliar nesse sentido?
Acho que sim, a CDL poderia trabalhar junto com Sebrae, a mudar essa cara de comércio de rua, como mudou a questão do Camelódromo, por exemplo. Nessa linha podemos contribuir com o poder público. Fala-se muito em mau atendimento no comércio.
Qual a sua avaliação?
Nós temos excelente atendimento no varejo de Caxias. Quando você está na universidade e o professor dá uma aula ruim, você não abandona a universidade, não vai falar mal para sempre da universidade. O mesmo com o atendimento. Às vezes você entra na loja e é mal atendido só naquele dia, é um ser humano e tenho certeza que ele não tinha a intenção de atender mal.
Planos frente à CDL. Ideias, filosofia de trabalho...
Respeitar o associativismo, nosso associado e trabalharmos muito em oferecer treinamentos, cursos, palestras para melhorar a cara do varejo, tornar a CDL ainda maior referência ao associado.