Afastado da atividade empresarial, em recuperação de um tratamento de saúde, Nelson Sbabo sorriu ao comentar o anunciado projeto do chamado Porto em Torres, que tem mobilizado lideranças políticas e econômicas do Estado:
— A Rota do Sol vai ter ainda mais importância — destacou, orgulhoso, em entrevista ao Pioneiro no último dia 10 de maio.
O orgulho é justificado: unanimemente, Sbabo é conhecido como um dos principais atores envolvidos na pressão regional que concretizou um sonho de décadas: a construção dos 76 quilômetros que compreendem a Rota do Sol.
Não é por acaso que o jornalista caxiense Luiz Carlos Souza imortalizou a sugestão de instalação de um busto de Sbabo à margem da rodovia durante uma das dezenas de reportagens que acompanharam a mobilização pela pavimentação da estrada.
Ter uma rodovia como legado não é para qualquer um. Seria injusto, entretanto, reduzir a trajetória de um personagem ícone da Serra apenas a uma realização. Além dessa importante via de escoamento de produtos da região e de deslocamento entre a Serra e o Litoral, Sbabo é símbolo de dedicação e valores humanos no meio empresarial. Pela representatividade reconhecida, Nelson Sbabo foi a personalidade escolhida para a primeira matéria da seção Trajetórias, novo espaço editorial do caderno + Serra.
Nascido no bairro de Galópolis, em 16 de março de 1936, Sbabo conheceu desde cedo a importância do trabalho. Aos 9 anos, teve o seu primeiro emprego em um armazém em Gramado. Sua função era bater de porta em porta e perguntar aos moradores o que precisavam naquele momento. Já naquele tempo, Nelson aprendia a ouvir, mediar e viabilizar demandas da população. Papel esse que aprimoraria e pelo qual se tornaria referência nos já 44 anos em que atua pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias. No entanto, em vez de responder pedidos por itens básicos de consumo dos clientes do mercadinho, Sbabo passou a atender reivindicações de porte "um pouco maior", como a viabilização da já citada Rota do Sol, a reativação de um modal ferroviário na Serra Gaúcha e, mais recentemente, a implantação de um aeroporto.
— É preciso ser persistente e acreditar naquilo que se propõe. Muitas vezes, sonhamos muito alto, temos o direito, mas se for alto demais vai ser mais difícil, mas sonho é ir atrás, é se dedicar e usar a sua convicção para convencer quem é contrário — afirma Sbabo.
E foi por meio da CIC que a voz de Sbabo ganhou propriedade. Foi ele também quem melhor entendeu o papel de uma entidade representativa e seu caráter de cobrança. Nem por isso, entretanto, deixou de lado uma de suas principais características, a cordialidade.
— Extremamente educado. Nunca ouvi dizer palavrão, sempre respeitou todos iguais, nunca vi elevar tom de voz. Sempre amenizando conflitos. Nunca foi de querer se indispor com alguém. Várias situações que poderiam ser de confronto com entidades de classes, ele sempre buscou amenizar. Nunca foi de querer brigar com governante e sempre teve disposição de tomar iniciativa — exalta Barbara Roberta Lucatelli, assessora da presidência da CIC.
E foi do jeito dele, que Sbabo cobrou (educadamente) de pelo menos oito governadores que passaram pelo Executivo do Estado nos 35 anos de luta pela Rota. Parte desse tempo ao lado do amigo e atual diretor de infraestrutura da CIC, Delmar Perizzolo.
— Caxias e região devem muito a este homem pela Rota do Sol. Lembro de quando empreiteiras, por falta de pagamento, paravam a concretagem. Íamos na empresa cobrar, insistíamos para continuarem mais um pouquinho que fosse, até convencermos o governo a resolver a situação, exercíamos esse elo entre governos e empreiteiras e sabíamos mais do que os engenheiros do Daer. E nossa vontade se sobressaiu a governos e partidos, independente de quem fosse. Queríamos a obra e cobrávamos isso — comenta Perizzolo.
E complementa:
— Nelson é uma lenda, sempre foi um batalhador pela cidade. Um agregador e visionário no setor da logística.
A sensibilidade pela mediação é resultado da experiência, garante o próprio Sbabo:
— Sempre fui do comércio, sempre tive que saber tratar e lidar com as pessoas. 83 anos de vida dão uma experiência à pessoa. Tem que ser coerente com o que queremos ser, com base no que gostaríamos que as pessoas fossem.
Enquanto governantes eram substituídos por outros governos, Nelson persistiu.
Uma das filhas, Gabriela Sbabo, relata lembranças da época em que a empolgação do pai até mesmo causava preocupação à família:
— Quando morava em Porto Alegre, muitas vezes via no Jornal do Almoço meu pai dando entrevista. Às vezes aparecia dentro dos túneis, surpreendia até os engenheiros. Ele ia dentro das rochas, analisava as pedras. Ele queria botar mão na massa. Às vezes, engenheiros não acessavam alguns locais devido ao perigo de desabamento e meu pai ia lá e fazia isso — comenta.
Discreto em sua atividade empresarial, Sbabo foi fundador e diretor-administrativo da Formolo Madeiras Ltda, coligada da empresa Formolo Materiais para Construção, na qual atuou como sócio e diretor de março de 1960 até recentemente, pouco antes do anúncio de encerramento da empresa devido à falta de sucessão familiar. Nas duas primeiras décadas de funcionamento, a Formolo Materiais para Construção foi uma das principais referências do ramo na cidade. Indiretamente, portanto, Sbabo ajudou também a construir Caxias.
Embora tenha ingressado na CIC em 1975 — por meio de convite de Raul Randon, na época presidente da entidade — Nelson Sbabo somente iria assumir a presidência em 2016. Exerceu a função até 2017. A consagração foi a realização de um sonho pessoal e o reconhecimento máximo à representatividade que Nelson exerce em Caxias há mais de 50 anos. Além de membro da entidade, Nelson virou símbolo máximo e a própria essência da CIC.
O discreto Nelson Sbabo não se tornou sozinho o responsável pela vitalidade da Serra como referência no mapa da economia nacional. Teve muitos e importantes parceiros na empreitada. Mas criou o traçado do mapa que levou a região até lá.
A TRAJETÓRIA - LINHA DO TEMPO
:: 1945 a 1949 - Primeiro emprego: entregador no Armazém do Sr. Bacchi.
:: 1954 - Balconista na Livraria Rossi
:: 1955 - Serviço militar (3º Grupo de Canhões Automáticos Antiaéreos). Serviu como cabo (ganhava 1,8 mil cruzeiros)
:: 1956 - Gerente da filial do Lanifício Sul Riograndense (Lansul)
:: 1956 - Formou-se em técnico em contabilidade
:: 1959 - Sócio da Francisco Zambom e Cia Ltda (distribuidora de produtos Kibon)
:: 1959 - Contador na empresa Bazzo e Cia Ltda.
:: 1960 - Inicia sociedade com sogro Albino Formolo e o cunhado Valdemar, sócio e diretor. Criam o Depósito de Materiais para Construção Mais tarde: Formolo Materiais de Construção
:: 1972 - Inicia pressão junto ao Governo do Estado pela conclusão da Rota do Sol
:: 1972 a 1976 - Elege-se vereador. Foi vereador em apenas uma legislatura
:: 1975 - Torna-se membro da CIC Caxias
:: 1984 - Formou-se em Direito
:: 1988 e 1989 - Fundador e presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais para Construção de Caxias do Sul (Acomac) e primeiro vice-presidente da Federação das Acomacs do Rio Grande do Sul
:: 2007 - Comemora conclusão da Rota do Sol
:: 2008 a 2011 - Vice-presidente da CIC
:: 2012 a 2015 - Coordenador da diretoria de Infraestrutura e Política Urbana da CIC
:: 2016-2017 - Presidente da CIC
:: Atualmente: presidente do Círculo Operário e integrante da diretoria de Infraestrutura da CIC
Leia também
Caxias tem mais de 25 mil MEIs; Nara, que faz adesivos de unhas, é um deles
Conheça a empreendedora de Flores da Cunha que vende produtos personalizados pelo Instagram
Confira o perfil do Microempreendedor Individual em Caxias do Sul