As cantinas da Serra gaúcha estão abarrotadas de garrafas de vinhos, sucos e espumantes. Dados do departamento técnico Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) apontam para uma estimativa de 240 milhões de litros em estoque. Desses, 40 milhões são de vinhos finos.
Além disso, outros 15 milhões de quilos de mosto concentrado também estão armazenados nas vinícolas. O presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta, lembra que há pelo menos uma década os estoques não estavam tão altos.
— Estamos com três safras da categoria vinífera estocadas e mais de uma dos vinhos de mesa — calcula.
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A maioria das vinícolas com altos estoques não revela seus números. Na Cooperativa Nova Aliança, de Flores da Cunha, o problema está na categoria vinhos de mesa. São 4 milhões de litros sobrando, segundo o diretor comercial Fernando Matana. De vinhos finos, são mais 300 mil litros.
— Há mais de cinco anos não tínhamos estoques tão altos — revela Matana.
Dados da Uvibra indicam que, em 2018, foram produzidos cerca de 20 milhões de litros de vinhos finos. Até novembro do ano passado, foram vendidos 14 milhões de litros. Nesta categoria estariam sobrando 6 milhões de litros nas caves somente da safra passada.
A causa, segundo Argenta, é basicamente uma: impostos. Isso desencadeia vários fatores, como a concorrência acirrada com os importados. Atualmente, os vinhos chilenos, por exemplo, entram no Brasil zerados de encargos, informa Argenta.
— Não tem como competir, já que os impostos federais e estaduais representam 63% do custo de venda de uma garrafa de vinho — reclama o presidente da Uvibra.
Vendas estagnadas
Os números do Ibravin indicam, entre janeiro e outubro de 2018, alta de 12,8% nas vendas dos produtos derivados de uva. No entanto, na categoria dos vinhos finos houve queda de 3,42% na comercialização em comparação com igual período de 2017.
— Devemos fechar o ano de 2018 com vendas estagnadas — diz Argenta.
O consolo é que as importações também caíram: -9,77%. Ainda assim, dos 115 milhões de litros de finos vendidos até novembro no país, 101 milhões (88%) foram de importados. Somente 14 milhões (12%) são produção brasileira.
— O Chile vendeu três vezes mais que o Brasil — diz Argenta.
No setor de espumantes, os números são mais animadores: 65% nacionais e 35% estrangeiros. Não à toa, Farroupilha conquistou recentemente o título de capital nacional do moscatel.
Ações prometem aumentar consumo de vinho
Impostos, preconceito com os rótulos nacionais e baixo consumo interno são três temas que os órgãos do setor vinícola prometem combater em 2019. Os assuntos fazem parte de um conjunto de ações que está sendo elaborado para melhorar os negócios do ramo.
Uma comitiva com os representantes das diversas entidades já esteve reunida em Brasília com a nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), e com o atual governador do RS, Eduardo Leite (PSDB). A prioridade é retirar a Substituição Tributária (ST), mecanismo que antecipa o recolhimento de impostos.
—Temos uma carga tributária fora do comum, que cria uma concorrência desleal em relação aos vinhos que ingressam no país. Estamos trabalhando em todos os níveis, no Estado, mostrando que está havendo perda de arrecadação com a ST, e junto ao Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), para a retirada dessa cobrança antecipada. Assim, teremos melhora na nossa condição de concorrência — argumenta Argenta.
Outro entrave do setor que promete ser combatido é o preconceito em relação ao vinho brasileiro. Segundo Argenta, por este motivo o rótulo importado ainda está muito presente nas mesas. Além disso, será desencadeada uma campanha para aumentar o consumo. Atualmente, o consumo per capita do brasileiro não chega a dois litros.