Primeira mulher economista-chefe do Fecomércio-RS, Patrícia Palermo será uma das palestrantes da manhã do 1º Simpósio Estadual do Varejo, que acontece nesta terça-feira (23), no Intercity Caxias. Se expressando de maneira simples e com uma linguagem acessível, ela vai abordar as perspectivas e os riscos econômicos para o curto e longo prazo, descrevendo o cenário atual a partir de três pilares. Nesta entrevista, ela fala das dificuldades da economia brasileira deslanchar e que a incerteza no cenário político dificulta a tomada de decisões. Confira.
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Pioneiro: Como você classifica o atual momento vivido pelo Brasil? Dá para afirmar que a economia brasileira está se recuperando? Como você enxerga o ano de 2019?
Patrícia Palermo: A economia brasileira, desde 2017, passa por um processo de recuperação. Entretanto, a retomada está teimando em não deslanchar. Isso acontece porque precisamos de reformas. A questão fiscal é extremamente preocupante. Enquanto adiarmos as mudanças estruturais nos gastos públicos brasileiros, a economia brasileira continuará a registrar taxas de crescimento reduzidas.
Em meio a uma recuperação cambaleante, a campanha eleitoral falou muito pouco sobre economia. As propostas são na maioria vagas ou inexequíveis. O problema fiscal é real e adiá-lo só o torna mais difícil de ser resolvido. Resolver a questão fiscal é algo chave para desenhar uma trajetória de crescimento continuado, fundamental para resolver o problema do desemprego no Brasil.
Percebemos que a indústria (principalmente a caxiense) está se readequando ao novo cenário econômico, mas o varejo ainda luta para atrair o consumidor. Você percebe um movimento de retomada do consumo mais rigoroso?
Por enquanto, o que se pode dizer é que há muita incerteza no ar e a incerteza é uma neblina que diminui o ritmo de tomada de decisões dos agentes econômicos. Os primeiros seis meses do novo mandato presidencial e a sua relação com o Congresso Nacional definirão, de fato, que direção a economia tomará: a da recuperação ou de uma nova recessão.
O comércio caxiense, por exemplo, está sendo o último setor a se recuperar da crise. Nos últimos quatro anos, a queda nas vendas passou de 40%. Como o lojista local pode se recuperar deste cenário? Qual a dica /conselho para os pequenos empreendedores sobreviverem ao atual cenário econômico?
O consumo das famílias tem sido o principal componente da retomada econômica de 2017 e 2018. A inflação sob controle, os juros mais baixos do que no passado e o mercado de trabalho marginalmente melhor estimulam compras por parte das famílias. Entretanto, o desemprego elevado contamina o clima econômico e mina a confiança. Isso acaba fazendo com que o consumo se expanda, mas num ritmo menor.
É fundamental fazer escolhas certas. Conhecer o consumidor, suas necessidades e expectativas de atendimento são o ponto inicial. Conhecer tendências, pesquisar novos fornecedores, treinar vendedores precisa ser um processo continuado. Existe uma máxima que, às vezes, é esquecida pelos comerciantes: "produto caro é o que não vende". O que está em promoção no fornecedor muitas vezes está em promoção justamente porque não tem comprador.
Além disso, o consumidor está muito mais arredio do que no passado. As lojas precisam reaprender a vender. Estar presente na internet e conversar online com seu cliente (ouvindo o que ele a tem a dizer e incorporando as críticas) faz parte de um novo jeito de fazer negócios e se relacionar com clientes. Outra questão importante é ter o fluxo de caixa equilibrado. É fundamental não descompassar entradas e saídas. As condições de pagamento precisam ser boas para o consumidor, mas precisam ser viáveis para o lojista.
Qual a sua opinião sobre a importação de produtos. Principalmente os da China?
Os lojistas devem disponibilizar produtos com qualidade e preço competitivo. Se os produtos importados da China, ou de qualquer outro lugar, atenderem a esses requisitos, a importação precisa ser uma possibilidade. O desenvolvimento de novos produtos vem se tornando cada vez mais rápido. Por isso, a pesquisa por novos fornecedores deve ser uma constante. O que é um bom negócio hoje pode não ser amanhã.
Como crescer durante uma crise?
Para crescer num período de crise uma empresa precisa se diferenciar das demais. Mas como? Nos produtos que oferece, na forma como atende seus clientes, no horário de abertura do negócio, no preço ou na forma de pagamento. Mas não adianta a empresa ser diferente se não comunicar isso aos seus clientes.
E para fazer isso é preciso ter estratégia. Faça um plano e execute em pequena escala. Verifique os resultados. Se der certo, ótimo! Avance. Se der errado, parta para outra estratégia. Não existe uma receita pronta. O que serve para um negócio, pode não servir para outro. Mas ver experiências de sucesso e de fracasso de outras empresas indicam os caminhos a seguir e os quais evitar.
Serviço
O quê: Simpósio Estadual do Varejo
Onde: Intercity Hotel, Caxias do Sul
Horário: das 8h às 18h
Ingressos: R$ 275 e R$ 375 (podem ser adquiridos no local e incluem almoço e estacionamento)
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