Principal matriz econômica de Caxias do Sul, a indústria de transformação tem puxado a recuperação do mercado de trabalho no município após o término da recessão. No saldo entre as admissões e as demissões realizadas entre janeiro e agosto deste ano, o segmento abriu 5,2 mil vagas formais, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O resultado coloca Caxias na liderança da criação de empregos industriais no Brasil. Neste quesito, nenhuma outra cidade abriu tantos postos.
O resultado caxiense em 2018 é puxado principalmente pelo ramo automotivo, que sozinho abriu 3,1 mil posições nos primeiros oito meses. Boa parte dessas contratações foi realizada pelas grandes empresas de Caxias, que estão com a carteira de pedidos recheada desde o início do ano. E a tendência é de que a demanda esteja garantida por mais algum tempo.
- As empresas estavam trabalhando com o mínimo necessário quando se sentiu esse aumento na demanda. As grandes estão com pedidos ao longo de 2018 e algo já engatilhado para 2019. Isso gerou terreno para que elas contratassem - argumenta Maria Carolina Gullo, diretora de Economia e Finanças da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC)
Maria Carolina ainda argumenta que, neste ano, a economia caxiense tem se descolado do cenário verificado no Rio Grande do Sul e no Brasil. Neste sentido, e dirigente lembra que, enquanto o Estado e o país ainda patinam na recuperação econômica, Caxias tem conseguido sustentar crescimento mês a mês. Segundo estimativa da CIC, a economia de Caxias apresenta expansão de 7,3%. Na indústria, o salto é de 8,4%.
Os números no azul acabam se refletindo no mercado de trabalho. No entanto, mesmo que o momento da indústria como um todo seja positivo, a cidade ainda está longe de recuperar a força de trabalho que teve no passado. Entre 2013 e 2017, o segmento fechou mais de 20 mil vagas por conta da crise.
- As contratações que estão acontecendo representam uma reposição das vagas fechadas. Caxias é quem mais gerou vagas (na indústria) no ano porque foi o município que mais sofreu na crise. Mesmo quando cidades de São Paulo e do Rio Grande do Sul estavam com saldo positivo, Caxias já vinha fechando postos - analisa Lodonha Soares, coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Salários em queda
Se por um lado a geração de empregos cresce na indústria caxiense, por outro os salários dos trabalhadores admitidos apresentam uma tendência de queda. De acordo com o Índice de Desempenho Industrial (IDI) da CIC, neste ano há redução de 10,8% na massa salarial. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias e Região, Claudecir Monsani, diz que a volta das contratações nas fábricas é algo a ser comemorado, mas demonstra preocupação com a redução do poder de consumo do trabalhador.
_ Os salários caíram, em média, R$ 600. Como ainda há muita gente desempregada, o trabalhador não consegue barganhar na hora da contratação. E o empregador se aproveita disso _ afirma Monsani.
O dirigente sindical ainda lembra que antes da crise, as empresas chegavam até mesmo a contratar mão de obra fora de Caxias, para dar conta dos pedidos. Agora, comenta Monsani, há gente de sobra dentro da própria cidade em busca de colocação.
Entre os empresários, o momento é considerado de cautela. O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias (Simecs), Reomar Slaviero, diz que os anos de cortes na linha de produção e queda no faturamento deixaram os dirigentes das empresas ressabiados.
_ Pela experiência dos anos passados, a gente fica com medo de fazer alguma projeção. É evidente que o cenário é positivo, mas não dá para ficar eufórico ainda _ salienta Slaviero.
Neste sentido, o dirigente empresarial constata que a recuperação tem sido puxada pelas grandes companhias. Para ele, nas pequenas indústrias a retomada está acontecendo de maneira mais lenta.
Incluindo os demais setores da economia, Caxias do Sul gerou 6 mil postos de trabalho no ano. É a sétima cidade do país que mais gerou empregos, ficando atrás de São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Joinville (SC).
ONDE A INDÚSTRIA MAIS CONTRATOU EM 2018
Caxias do Sul (RS) - 5.208
Quixeramobim (CE) - 4.582
Santa Cruz do Sul (RS) - 2.861
Venâncio Aires (RS) - 2.418
Franca (SP) - 2.233
Joinville (SC) - 2.214
Macaé (RJ) - 1.724
União (PI) - 1.523
Nova Serrana (MG) - 1.462
Pontal (SP) - 1.455
Total no Rio Grande do Sul - 16.424
Total no Brasil - 97.534
Fonte: Caged