O programador de máquinas Luiz Fernando Maculan Ramos, 41 anos, programou ter sua casa própria aos 20 anos. Nos 40, concretizou o sonho, que mais tarde se tornaria sua pior frustração. Ele é um dos cerca de 150 caxienses que "ficaram na mão" de uma construtora que atuou no mercado caxiense por cerca de uma década e decretou falência há dois anos.
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O financiamento foi feito via Caixa Econômica Federal, por meio do programa Minha Casa Minha Vida, que ainda não apresentou alternativas para entregar a obra ou ressarcir os prejuízos. Boa parte dos valores já foi paga, com economia de anos de trabalho.
Ramos e outras 63 famílias adquiriam o imóvel (na planta) no Residencial D'Lima Sol, no bairro Vinhedos, a ser construído pela Júpither Incorporação e Construção Ltda. A entrega foi prometida para dezembro de 2016. Quase dois anos depois, os prédios estão abandonados e depredados. A empresa responsável pela obra sumiu. Os donos também.
Informações no mercado imobiliário indicam que a empresa construiu cerca de 400 apartamentos na cidade. Além deste empreendimento, a Júpither está com outros prédios inacabados.
— Roubaram minha felicidade — diz o programador de máquinas.
"É como se não valêssemos nada"
Na maioria dos casos, o sonho da casa própria deu espaço para o estresse, dores de cabeça e a depressão. Os 10 moradores que relataram suas histórias ao Pioneiro, contam que foram até a Caixa dezenas de vezes para buscar explicações. Nada conseguiram.
— É como se não valêssemos nada — desabafa Ramos.
Ele desembolsou pelo menos R$ 43 mil para pagar parte do financiamento. Tudo o que conseguiu arrecadar em 20 anos de trabalho. O sonho não era só dele. Era da filha, Yasmim, 16 anos, também. Chegou a encomendar o projeto dos móveis um ano antes da promessa de entrega do imóvel.
— Eu sonhava em morar lá. Desenhava na minha mente como seria a sala, os quartos, a cozinha. Adoeci. Estou tentando me recuperar — desabafa.
Hoje, Ramos paga R$ 600 de aluguel, não tem mais crédito no mercado, não sabe se, em algum momento, vai ser ressarcido e se um dia vai ter sua casa própria.
— Essa incerteza me deixa desolado. Se pelo menos a Caixa nos desse uma posição... — confessa.
Joenara Campos, que representa o irmão, Alberto Pain Campos, no processo diz que ele precisa trabalhar em dois empregos para dar conta de pagar o aluguel e as contas.
— Estamos desassistidos. Ninguém assume a conta — diz.