Mesmo para quem estudou terapia está difícil administrar a situação. O drama da terapeuta Alana Reis, 35 anos, começou em 2014. Ela é um dos cerca de 150 caxienses que "ficaram na mão" de uma construtora que atuou no mercado caxiense por cerca de uma década e decretou falência há dois anos.
Uma semana após ter fechado o negócio com a imobiliária, foi comunicada que o apartamento 503 não estaria mais disponível por problemas estruturais internos. Precisou escolher outro imóvel no prédio. A previsão de entrega era para dezembro de 2015. Projetou e pagou parte dos móveis para mobiliar seu sonho.
Leia mais
Sonho da casa própria vira drama para famílias de Caxias do Sul
O que dizem a Caixa e a seguradora sobre obra abandonada por construtora em Caxias
Em outubro do mesmo ano, já previu o drama que passaria a enfrentar. Ela percebeu que a obra não evoluía. Passava por lá toda a semana, e a movimentação de trabalhadores praticamente não existia mais. Em janeiro de 2016, soube que a construtora Júpither teria entrado com pedido de recuperação judicial. Tentou reaver o valor investido com a Caixa.
— Me informaram (na Caixa) que se rescindisse o contrato não poderia fazer um novo financiamento. Me senti coagida — conta.
Em maio registrou reclamação na Ouvidoria da Caixa.
— Eles negaram. Aí começou a enrolação.
Mesmo com a obra embargada, a Caixa, segundo Alana, continuou cobrando as prestações. Em fevereiro deste ano, ingressou com um processo judicial. Ela já pagou mais de R$ 120 mil e continua morando de aluguel, no qual teve que pedir "encarecidamente" para o locatário reduzir o valor, pois não estava conseguindo pagar.
— Me senti humilhada. É uma frustração inexplicável. Minha vida está estagnada.
"A sensação é de impotência", desabafam proprietários de imóveis
Francine Martins, 32, também está no grupo que não recebeu o apartamento do Residencial D'Lima Sol. Este é o segundo imóvel que ela perde por ter sido adquirido na planta. O primeiro está na Justiça há 10 anos e ainda não foi resolvido.
— Frustração dupla — lamenta.
Francine conta que tentou se precaver na negociação com o apartamento do bairro Vinhedos. Buscou informações sobre a Júpither e achou que estava fazendo um bom negócio.
— Na hora de vender, os corretores prometem qualquer coisa. No meu caso, não cumpriram nada — avisa.
O saldo que ficou foram as dívidas. O prejuízo passa de R$ 32 mil.
— E o pior. Ainda não tenho minha casa e continuo dependendo dos pais.
A metalúrgica Ana Alice Palavro, 38, releva que já recomeçou sua vida várias vezes, e por diversos motivos. Desta vez, no entanto, o baque foi mais forte.
— Quando me dei conta que não iria receber o imóvel, perdi o chão, vi minha vida desmoronar.
Assim como os demais moradores, ela desembolsou tudo o que tinha para realizar o sonho da casa própria: cerca de R$ 40 mil. Sua revolta também é contra a Caixa. Segundo ela, prometeram definir uma nova construtora para finalizar a obra, mas, até agora, nada.
— A sensação é de impotência, de que somos apenas mais um número.
Leia também
Quanta Propaganda, de Caxias, amplia número de clientes
Memória: encontros das famílias Manfroi e Marafon
Departamento de Polícia projeta ações para fortalecer combate ao tráfico na Serra
Não é só tráfico: facção também mira jogos e prostituição em Gramado e Canela
MP exige nova licitação para serviço de táxi-lotação em Caxias do Sul