— Qual o segredo para uma empresa chegar aos 100 anos?
— Persistência e trabalho — responde Valter.
— E tem de gostar do que se faz — completa Beatriz.
A fórmula é herança dos avós e pais de Valter e seguida à risca pelo casal, terceira geração dos Beretta em Caxias. Os dois são proprietários da joalheria que leva o nome da família, uma das mais tradicionais da cidade.
— A loja cresceu com a cidade. Caxias tem 127 anos e a loja, 100 — compara Beatriz.
E como cresceu. Em um século, a marca Beretta se consolidou com a matriz, no Centro, e abriu duas filiais, uma no Shopping Iguatemi e outra no Shopping San Pelegrino, acompanhando o progresso caxiense.
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Nem mesmo as dificuldades do início, como a morte de Anselmo Beretta em 1927 e a consequente tomada dos negócios pela viúva Augusta, que era costureira, foram capazes de derrubar o empreendimento. Crises econômicas, como a recente, também não fizeram a família desistir da empresa, que mantém 30 funcionários.
— Todas as empresas têm seus problemas. A gente tem procurado oferecer o melhor produto, gerando confiança. Atendemos avó, mãe e filha. O sentimento é de orgulho em manter a empresa e servir à comunidade — destaca Valter.
Embora em plena atividade, Valter e Beatriz já colocaram os filhos no negócio, na expectativa de que a quarta geração não deixe morrer o empreendimento da família.
— Eles são bem envolvidos, têm comprometimento — frisa Valter.
Continuidade é desafio
Caçula de Valter e Beatriz, Julio Beretta Neto, 41, cresceu na loja da família, admirando o movimento de clientes, embora confesse que não gostava de frequentar o espaço quando era criança, porque todos queriam falar com ele. Coisa de garoto tímido. Hoje, está à frente das unidades dos dois shoppings. Quarta geração da família Beretta em Caxias, ele considera um privilégio fazer parte dos 100 anos da joalheria.
— Se torna um desafio, porque dar continuidade sempre vai exigir aperfeiçoamento, mais conhecimento.
Segunda geração
Não é só o comando da loja que passa de pai para filho. A função de relojoeiro da Beretta está na segunda geração. Geraldo Antônio Calloni, 56, aprendeu com o pai, Guilherme Calloni, o ofício.
Jovem ainda, com apenas 14 anos, deu os primeiros passos na arte de consertar relógios — o que exige atenção e visão apurada para trabalhar com peças tão pequenas.
— Eu estudava e passava na loja todos os dias para pedir dinheiro para o pai. Um dia, ele disse que tinha muito serviço e que precisava de alguém que o ajudasse. Eu disse que ficaria até terminar os estudos... — conta Calloni, que trabalha na Beretta há 41 anos.
Já falecido, Guilherme Calloni trabalhou na Beretta por cerca de 40 anos e saiu no início dos anos 1990.
Parte da família
A gerente da loja do Centro, na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Rua Visconde de Pelotas, Nair Porto, 60, está completando 41 anos de Beretta. Mas seriam 45 se ela não tivesse dado um tempo, há sete anos, para descansar. São tantos anos de ligação com a empresa e a família que ela se emociona ao falar:
— Acompanhei os meninos crescerem. O Julio (o caçula de Valter e Beatriz) nem tinha nascido quando eu comecei a trabalhar. Vi o progresso deles. Aqui casei, tive filhos, fiquei viúva.
Livro para comemorar o centenário
Para marcar os 100 anos da Beretta, será lançado nesta terça-feira, às 19h, na loja do Shopping San Pelegrino, o livro Beretta 1917/2017, organizado pela professora e pesquisadora Véra Stedile Zattera.
— Só conheci a Beretta nos anos 1960. Não conhecia a trajetória da família. Como qualquer outra história de imigração, é interessante. Anselmo (fundador e avô de Valter) saiu da Itália e morou nos Estados Unidos e na Argentina antes de chegar a Caxias. Foi um processo de procura de um lugar melhor para viver — destaca Véra.
O livro não será comercializado. Exemplares serão entregues aos convidados durante o lançamento, que contará com a apresentação do Quarteto de Cordas da UCS.
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A Beretta já trabalhou com fabricação de joias. Hoje, a loja se dedica à venda e conserto de joias, relógios e óculos.