Os 79 estudantes de enologia entram pelo salão de um dos pavilhões do Parque de Eventos, em Bento Gonçalves. Quase que em marcha sincronizada, eles vão caminhando com a garrafa de vinho em mãos. Aos poucos, posicionam-se junto a cada uma das largas mesas que compõem o ambiente. Em pouco mais de um minuto, servem as taças de todos os participantes da Avaliação Nacional de Vinhos (ANV), que estão ali para conhecer as bebidas que entrarão no mercado a partir do próximo ano. A cena se repete 16 vezes. Cada uma com um vinho diferente, selecionado entre os mais representativos da safra 2017.
A degustação em si é apenas a ponta do iceberg. A ANV, que no último dia 23 teve sua 25ª edição, começa a ser organizada muitos meses antes. O processo de seleção dos melhores vinhos de cada safra se inicia por volta de maio. As vinícolas de todo o Brasil inscrevem suas bebidas mais promissoras. Neste ano, 59 empresas de Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo participaram com 327 rótulos.
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As amostras são recolhidas por técnicos da Embrapa Uva e Vinho e representantes da Associação Brasileira de Enologia (ABE) na própria vinícola, direto dos tanques e barricas. Depois, começa a seleção. O vinho coletado passa por testes em laboratório e segue para uma degustação. Em nove dias, durante agosto, 118 enólogos provam todas as bebidas e atribuem notas a elas. Dos 327 vinhos apresentados neste ano, os 30% mais bem avaliados em diferentes categorias acabam sendo distinguidos.
Passada essa etapa, filtra-se os 16 que mais se destacaram. Então é feita uma nova degustação com 30 enólogos, no intuito de ratificar a escolha. Todas as avaliações são feitas às cegas. Os especialistas apenas sabem a categoria do vinho, se é branco ou tinto e com qual uva foi feito.
Uma semana antes do evento, as vinícolas responsáveis pelas 16 amostras são contatadas e informadas de que estão entre o seleto grupo. Logo, uma visita é feita e retira-se dos tanques o líquido que abastece 1.440 garrafas a serem servidas no dia da ANV. Ao todo, 90 exemplares de cada vinho. Apesar de saberem o resultado com antecipação, as empresas têm de manter sigilo.
Lugares esgotados em 40 minutos
Os organizadores do evento recebem as inscrições de participantes pela internet. O interessado em provar os vinhos têm de pegar de R$ 250 a R$ 310 pelo ingresso. Nesta edição, em 40 minutos as 850 vagas se esgotaram. Não à toa o evento é tido como a maior degustação do mundo. No dia da avaliação, ao chegarem ao local do evento, a primeira coisa que o degustador recebe é um kit contendo duas taças e duas folhas de avaliação, uma para a sequência de oito vinhos brancos e outra para os oito vinhos tintos a serem servidos.
A análise leva em conta três aspectos da bebida: visual, olfativo e gustativo. Dentro das categorias, avalia-se aspectos como limpidez, aspecto, intensidade, qualidade e persistência. Os critérios possuem diferentes pesos, mas o máximo que um vinho pode atingir é 100 pontos.
Ainda que a ANV não tenha caráter de competição entre os vinhos da safra, os organizadores formam um júri com 16 pessoas, entre enólogos, sommeliers, jornalistas e pessoas com alguma relação com o setor vinícola. Eles são responsáveis por comentar as amostras e, ao final, emitem seu parecer. O público presente também pode dar sua nota, através de um aplicativo de celular.
Concluída a degustação, divulga-se o nome das vinícolas que elaboraram os vinhos. Na safra 2017, todos os selecionados eram de marcas gaúchas, sendo a maioria da Serra. As notas dadas às 16 amostras finalistas oscilaram entre 88 e 92, o que denota a perspectiva de que esta temporada deverá render bons vinhos.