Ele é engenheiro mecânico por formação e visionário turístico por profissão. É apontado como o responsável pela articulação do trade turístico da Serra Gaúcha. Seu nome é Tarcísio Michelon, 67 anos, proprietário de cinco hotéis da rede Dall´Onder (três deles em andamento), fundada em Bento Gonçalves. Seu Tarcísio, como é popularmente conhecido, apostou no setor quando se acreditava que a única fonte de renda da região deveria partir do metalmecânico. Foi ele quem criou os roteiros Caminhos de Pedra e a Maria Fumaça, em Bento Gonçalves.
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Com a crise, que atingiu em cheio a indústria desde 2014, os municípios da região que dependiam dela esmoreceram. O turismo está surgindo como alternativa para impulsionar a economia. Nesta entrevista, saiba o que pensa este empresário do turismo. Segundo ele, Caxias é uma bronza cuerta que precisa de um assopro.
Pioneiro: Qual o objetivo de abrir um hotel da sua rede em Caxias do Sul?Tarscísio Michelon: Sou caxiense e tenho um carinho muito grande pela cidade. Nosso objetivo é sermos um grupo dedicado ao entretenimento, mas tendo como área de abrangência a região. Só assim podemos manter a cultura e a qualidade dos serviços. Acredito no mercado caxiense. Tem um potencial muito maior que o de Bento. Caxias é uma potência econômica e, atualmente, as condições são mais favoráveis do que quando comecei, em Bento.
Que condições favoráveis seriam essas?
Michelon: Aprendi que não devemos desperdiçar as oportunidades de ganhar a vida. A crise da indústria metalmecânica de Caxias está enfrentando a realidade do desemprego. Para mim está claro de que há uma pré-disposição de desenvolver o turismo fazendo com que Caxias seja forte em vários setores. Caxias ainda não despertou para o turismo.
Como o senhor pretende manter seu hotel lotado?
Michelon: Sabemos que a disputa de mercado é grande. Mas tem esforços que não existem hoje em Caxias. Não há estrutura comercial dedicada a buscar eventos, por exemplo.
Como o senhor pretende fazer isso?
Michelon: É fácil. Usando as entidades de classes da comunidade. Falando com as pessoas certas, as que têm amor e orgulho por Caxias. Por exemplo: se os contabilistas realizam um encontro nacional por ano, por que não pode ser realizado em Caxias? Vamos convencer os dirigentes de cada categoria ou setor de que vale a pena realizar o encontro em Caxias. Em cada atividade humana, tem um caxiense influente. Basta conversar com as pessoas certas.
O senhor pretende trabalhar em parceria com outros hotéis da cidade?
Michelon: Sim. Digo não à burrice da “briga”. Nosso hotel vai trabalhar junto com os demais. Já procurei diretores de hotéis de Caxias. Nosso conceito é oferecer apartamentos para três hóspedes. Se preciso fazer uma convenção, tenho vagas para três pessoas em um mesmo espaço. No final de semana, temos que trazer a família.
Quais as atrações turísticas que o senhor destacaria para os finais de semana?Michelon: O território caxiense é rico pela diversidade. A grande atração é a cultura que está nos seres humanos. Tenho a convicção de que Caxias do Sul é o maior celeiro de talentos pessoais da Serra Gaúcha. Temos artesãos riquíssimos. A cultura caxiense é uma bronza cuerta (brasa coberta). É preciso olhar com atenção e assoprar para essa brasa aparecer. Em algum lugar nos nossos antepassados a cultura está. É preciso se mexer.
O que fazer para Caxias acender a brasa?
Michelon: Como fiz aqui em Bento Gonçalves. Começando a estimular pessoas e setores que acreditam na cultura. Escolher três ou quatro empreendimentos e direcionar o poder que o hotel tem. Nem precisa da participação do poder público. Não precisa ser rico. Aliás, de preferência que seja humilde, mas que tenha o processo cultural forte. É preciso cuidar dele (dos empreendimentos parceiros) até crescer e se desenvolver. Em Bento, todo o desenvolvimento (100%) foi realizado com pessoas de poucas posses ou sem nada. Os que estavam mal economicamente foram os que desenvolveram o turismo. Mas é necessário ter talento. Aqui (em Bento), eu tinha o turista na mão e fui procurar pessoas pobres no nosso interior. Essa foi a minha sorte. Caxias tem um interior maravilhosamente rico. A filosofia de vida dos gringos é: se um dá certo, os outros vão aparecer e “copiar” positivamente. É a chamada santa inveja. Ninguém pode esperar de mim um milagre em Caxias. Mas asseguro que devagar a gente vai. Outro ponto positivo é que o interior do município está praticamente todo paviementado.
Então o senhor concorda que Caxias precisa se mexer?
Michelon: Sim. Se tornou urgente desenvolver essa economia (o turismo). A cidade está com 24 mil desempregados. Ninguém vai inventar nada. Estou propondo acreditar, avaliar. A diferença da minha trajetória de vida está em não reclamar e fazer. Não adianta reclamar do governo. Tem que ir atrás e encher teu negócio. O processo é arregaçar as mangas e fazer.
Qual a sua avaliação sobre a transferência da Festa da Uva para 2019?
Michelon: Nossos eventos regionais são considerados casuais. Precisamos de atrativos de caráter permanente. As festas não são a base do desenvolvimento econômico da cidade. Não vejo a prorrogação da Festa como algo grave. Acho que essa verba deveria ser destinada para a construção de um centro de convenções.
Já teve contato com a atual administração de Caxias?
Michelon: Ainda não. Mas reafirmo que ninguém vai tirar nada de ninguém. Aqui em Bento, fui perseguido pelos empresários. Eles foram meus maiores inimigos. Não acreditavam no turismo. Foi difícil fazer surgir em Bento uma outra economia que não fosse a indústria. Agora está mostrando que esse setor (indústria) não é intocável. Em Caxias será ainda mais fácil.
Como viabilizar projetos para o turismo?
Michelon: Um erro é apostar todas as fichas nas festas. Que negócio vai surgir na cidade em função de uma festa? Não sou contra a festa, sou contra considerar ela o máximo. Temos atrativos de caráter eventual, que movimentam a economia por no máximo 15 dias. E os outros dias do ano? Privilegio as atrações turísticas permanentes.
Qual a prioridade para Caxias ter atrações permanentes?
Michelon: Construir um centro de convenções.