Com o número de pedidos na indústria em retração há mais de dois anos, a quantidade de carga transportada pelas estradas da região caiu drasticamente. A queda no volume, conforme a Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (Fecam), chega a 50% na Serra desde o começo da crise. Além da indústria, as safras menores (especialmente da uva) e a baixa no poder de consumo contribuíram com o cenário dramático nos transportes que é observado em todo Estado.
O início da retração nas cargas, conta André Costa, presidente da Fecam, começou a dar sinais na metade de 2014. Na época, o setor já sofria com condições relacionadas à infraestrutura das estradas e ao envelhecimento da frota, mas ao menos contava com demanda acelerada:
– Com a crise, acumulamos um quadro catastrófico – resume Costa.
No Sindicato dos Rodoviários de Caxias do Sul e Região, a baixa no número de associados (trabalhadores do setor) caiu de 30% a 40% em função das demissões do ramo. Conforme Vorlei Luis Cavalheiro, diretor da entidade, até 20 rescisões por dia são realizadas no sindicato:
– Antes da crise, eram duas, três por dia... às vezes nenhuma. Vejo muita gente indo embora da região, já que tinham vindo aqui para trabalhar, ou então estão buscando outros ramos – conta Cavalheiro.
Embora o transporte de cargas seja o mais afetado do segmento, o de pessoas também sofre impactos. Conforme Cavalheiros, o número expressivo de demissões – são cerca de 20 mil postos fechados desde o início da crise em Caxias – reduziu a demanda nos ônibus destinados a trabalhadores:
– Nós (sindicato) sempre éramos procurados para indicar motoristas e caminhoneiros para empresas. Agora, estamos com pilhas de currículos, mas ninguém busca indicações – relata.
Mesmo com tantos prejuízos acumulados, a "virada da curva" ainda é incerta. O período de safra, que se intensifica no final do ano, deve ao menos dar uma leve sobrevida ao setor, acredita Costa:
– Apesar de pontual, o período de safra traz um pouco de melhora ao ramo. Conseguimos pelo menos frear morro abaixo. Mas ainda não notamos uma melhora consistente.
Com recuo de 9%, transportes foi a atividade que mais contribuiu para a queda de 3,9% em agosto no setor de serviços no país. A comparação é com o mesmo mês de 2015.
Inovação para driblar efeitos
A ociosidade gerada pela retração geral nos transportes pode ser "preenchida" com o desenvolvimento de novidades. Pelo menos é nisso que aposta a Transportadora Plimor, de Farroupilha. Como todo o ramo, a empresa viu as atividades caírem com a intensificação da crise econômica do país. No período mais crítico, a queda foi de 30% na transportadora.
– Vimos que era um momento de oportunidade, já que teríamos mais disponibilidade de tempo para criar melhorias. Passamos a investir nisso para sair na frente quando o mercado acelerar – destaca a gerente de marketing, Sandra Santini.
O aplicativo Mobile, que foi oficialmente lançado no mês passado, é o destaque desse trabalho de inovação. Por meio dele, a equipe da transportadora registra uma foto, no local de entrega da carga, do volume e da assinatura de quem recebeu a encomenda. Assim, o processo é monitorado e enviado por e-mail:
– Esse aplicativo é pioneiro no país e o retorno está sendo muito positivo, os clientes estão bem surpresos. Teremos ainda uma etapa de ajustes do sistema, baseada nas sugestões de quem já utilizou – revela Sandra.
Com 850 veículos, a Plimor abrange 2,8 mil empregados diretos e indiretos. Entre os principais clientes estão Tramontina, Shoptime e O Boticário.
– Devemos sentir uma melhora agora no final do ano, em função do Natal. Já um crescimento mais acelerado, pelo que estamos sentindo, deve vir no segundo semestre de 2017.
Impacto nos transportes
Carga transportada na Serra reduziu até 50% desde o início da crise
Retração gerou baixa de 40% no número de trabalhadores do segmento
Ana Demoliner
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