Maurício Benvenutti é um dos palestrantes da próxima etapa do Avanti Serra, que acontece no dia 1° de agosto, às 19h, no auditório CIC Caxias. Dinâmico, é um dos criadores da StartSe, maior plataforma do Brasil para conectar empreendedores, além de outras empresas e projetos inovadores como o Brazil Advisor Awards, considerado o Oscar nacional da indústria financeira, e a Expert, o maior evento para profissionais de investimentos do país.
Essa experiência vai ao encontro do tema desta edição: Fundos e Estratégias de Investimentos. Também participam Dalton Schmitt Júnior, sócio e diretor-executivo da CRP Companhia de Participações, e Pedro Sirotsky Melzer, managing director da E.bricks Ventures. Inscreva-se em avantiserra.com.br ou pela fanpage do projeto: facebook.com/avantiserra
"A mágica acontece quando você sai do seu aquário!"
Você ajudou a criar diversos projetos criativos como o StartSe, a XP Investimentos e o Brazil Advisor Awards. Como você se inspira para desenvolver estes projetos? Maurício Benvenutti:
Inspiração não se desenvolve sozinho trancado em uma sala. Ela surge das descobertas, das novas experiências, do confronto constante de opiniões. Se você conviver sempre com as mesmas pessoas, terá sempre as mesmas ideias. Ouvirá sempre as mesmas opiniões. As pessoas não são ilhas! A mágica acontece quando você sai do seu aquário! Quando você passa a conviver com diferentes tribos. Com gente que pensa diferente, se veste diferente, vive diferente. Aí a inspiração surge! Quando Steve Jobs assumiu a construção dos estúdios Pixar, no Vale do Silício, ele pediu que fosse construída uma só área de banheiros em todo o campus. Algumas pessoas tinham que caminhar até 20 minutos para chegar lá! Mas, ele dizia que filme é arte. E arte é inspiração. E como todos precisam ir ao banheiro pelo menos uma vez ao dia, esse era o momento para cada funcionário sair do seu aquário, conversar com pessoas de outros setores e pegar insights. Busco inspiração assim. Tenho um objetivo pessoal de conhecer uma pessoa nova por dia, seja ela quem for. E é surpreendente como uma simples conversa com alguém que pensa diferente faz a sua imaginação trabalhar mais forte.
Como é o mercado de startups no Brasil hoje?
O empreendedorismo é hoje um fenômeno global. Qualquer pessoa que deseja criar uma startup possui todas as ferramentas e recursos necessários à sua disposição. E todas as condições de mercado para transformar essa startup em um negócio altamente rentável. O Brasil tem um mercado fantástico para as startups. São Paulo é o 12° maior ecossistema de empreendedorismo do mundo. E o país tem excelentes casos de sucesso. O comparador de preços Buscapé foi uma das primeiras grandes startups do país, vendida por US$ 342 milhões em 2009. A Samba Tech, pioneira no mercado de distribuição de vídeos online, é considerada uma das startups mais inovadoras da América Latina. Easy Taxi é um sucesso em mais de 30 países. ContaAzul, sediada em Joinville e que possui um sistema de gestão para pequenas e médias empresas, foi destaque na revista Forbes. Nubank, que oferece serviços financeiros e cartões de crédito sem anuidade, foi a primeira empresa brasileira a receber aporte da Sequoia Capital, um dos mais conceituados fundos de investimento do Vale do Silício. Eu sou um otimista em relação ao Brasil, principalmente porque há muita coisa para ser feita.
Na sua opinião, o que é necessário para desenvolver a criatividade e o empreendedorismo?
A criatividade surge na cabeça dos que não reclamam. O empreendedorismo está na veia dos que enxergam oportunidades ao invés de ameaças. Não adianta ser a pessoa mais privilegiada do mundo, se o seu pensamento é pessimista. É preciso rebeldia, no bom sentido, para criar projetos criativos e impactantes. Há 100 anos, a maior parte da população brasileira era rural. Vivia no campo. Mas a invenção do trator e de outras máquinas fez milhares de fazendeiros serem expulsos das suas terras. Se você perguntasse para uma dessas pessoas o que elas achavam disso, possivelmente muitos diriam: “Isso é uma tempestade, é o fim, o mundo acabou”! A tecnologia tinha tirado desses trabalhadores a única coisa que eles sabiam fazer na vida e não havia clareza em relação ao que aconteceria. Mas quando essas pessoas desembarcaram nas cidades, eles aprenderam novas habilidades, inventaram produtos e serviços, construíram indústrias inteiras, empregos que não existiam passaram a existir, remodelando completamente o mercado de trabalho e oportunidades. Hoje, quando vemos a tecnologia desafiando tradicionais modelos de negócios, a primeira reação de muita gente é o desespero: “O mundo acabou, estou perdido, vou reclamar”! Esse tipo de atitude não leva ninguém a lugar algum. É preciso aceitar que o mundo atual é diferente, se preparar para as mudanças e enxergar as novas oportunidades que surgem. Quem tiver esse comportamento é quem criará a próxima grande geração de negócios e indústrias.
Quais aspectos devem ser analisados ao buscar um novo investimento?
Existem vários fatores, mas estes são cinco que considero vitais: 1) É importante analisar a característica da empresa. Gosto de negócios que tenham escalabilidade (capacidade de expandir rapidamente), repetitividade (quando uma mesma pessoa pode consumir o mesmo produto várias vezes) e impacto social (algo que verdadeiramente muda a vida de alguém). 2) Depois, analiso em que mercado esse negócio está inserido. É melhor investir em algo inserido em mercados pequenos e crescentes do que grandes e estagnados. 3) Como esse negócio gera receita? Como os sócios ganham dinheiro? Conhecer o modelo de monetização é essencial para quem busca investir em um novo negócio. 4) Quem compõe o time? Em geral, os novos negócios mudam muito entre o seu protótipo e a versão final que será lançada. Muita coisa acontece no meio do caminho. É preciso ter certeza que a equipe é capaz de desenvolver as mudanças necessárias. 5) Por que agora é o momento certo para esse novo negócio? Por que dois anos antes era muito cedo e daqui dois anos será muito tarde? Bem, para quem busca um novo investimento em novas empresas, ter atenção a esses detalhes ajuda.
De que forma inovar e se destacar em períodos difíceis?
A inovação não acontece mais nas áreas de P&D das empresas. Ela acontece em todo lugar. Em qualquer parte do mundo. Nas últimas décadas, a maioria das áreas de P&D se limitaram a fornecer inovações que protegem e prolongam a vida de produtos e serviços já estabelecidos. Elas não inventam algo completamente novo. Elas focam em tornar o que já existe melhor. Veja o setor automotivo, por exemplo. GM, Ford e outras montadoras inovam os seus produtos. Seus veículos têm alta tecnologia e são melhores ano após ano. Mas precisou vir a Tesla para mostrar ao mercado que é possível vender carros sem concessionárias. Que a engenharia pode ser 100% aberta, ou seja, qualquer pessoa pode baixar o projeto e fabricar um Tesla no quintal de casa. Além disso, a fábrica só começa a produzir um carro depois que o cliente compra, ao contrário do modelo tradicional de produzir primeiro para depois colocar na vitrine e tentar vender. Ou seja, existe um mundo de inovações desafiando as tradicionais indústrias. E seu ritmo é cada vez mais rápido e intenso. Assim, para se manter na vanguarda, principalmente em períodos de crise, o que muitas grandes corporações fazem é se aproximar dos lugares onde a inovação acontece. É cada vez mais comum ver empresas fazendo parcerias com aceleradoras, incubadoras, espaços de coworking e startups. Dessa forma, elas se mantêm perto do ecossistema empreendedor que está transformando o mundo e não precisam investir milhões tentando inovar dentro da própria casa.
A Serra Gaúcha é considerada berço de empresas promissoras? Por quê?
Eu já rodei o Brasil inteiro. Dei centenas de palestras. E realmente a Serra Gaúcha tem uma cultura pró-trabalho muito forte. O escritório parceiro da XP em Caxias do Sul, por exemplo, chamado Messem Investimentos, foi eleito o melhor escritório de investimentos do Brasil. Isso naturalmente é resultado de trabalho duro e da influência da cultura local. Com tantas opções de produtos similares a preços cada vez menores, a qualidade passa a ser um fator determinante na decisão de compra. O nível de exigência do brasileiro aumentou. E a Serra Gaúcha já atende esse anseio há algum tempo. No entanto, o que deu certo nos últimos 100 anos provavelmente não funcionará nos próximos 10. A forma de projetar, fabricar e vender está mudando radicalmente. Hoje, impressoras 3D permitem prototipar e fabricar qualquer coisa rapidamente. Para continuar sendo berço de empresas promissoras, a Serra Gaúcha, assim como qualquer outra região do mundo, precisa estar próxima desses avanços que surgem.
Quais características gerais os gestores precisam desenvolver para impulsionar suas empresas? Hoje, pessoas talentosas não querem um simples trabalho. Elas conhecem o seu potencial e não vão desperdiçar o seu tempo em qualquer lugar. Quem é talentoso quer embarcar em um foguete e ir para a lua! Esse é o pacote de benefícios que atrai os seres mais brilhantes do planeta. No Vale do Silício, os processos seletivos são completamente invertidos, pois são as empresas que se oferecem aos potenciais candidatos, e não os candidatos que tentam se “vender” para as empresas! Os gestores precisam entender isso. Gente boa quer construir um legado, deixar uma marca. Ou você apresenta o foguete e mostra o bilhete de embarque para a Lua, ou o talento vai procurar outro lugar para investir o seu tempo e conhecimento.