Antes sinônimo de trabalho contínuo e pesado, os pavilhões das empresas do ramo metalmecânico de Caxias estão bem mais silenciosos e vazios. A ociosidade, em boa parte das companhias, gira em torno de 60% e é até mesmo maior em alguns casos, chegando a 70%, conta Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs). Tanta inatividade é refletida no mercado de trabalho caxiense: o setor, que já contou com quase 55 mil trabalhadores em 2012, emprega agora 36,4 mil. A queda, portanto, é próxima de 20 mil postos fechados.
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O empresário Valmor Romani, da Metalúrgica Weloze, vem vivenciando esse cenário de perto. A empresa dele atualmente atua com 30% da capacidade instalada, o que representa uma ociosidade de 70%.
- Esse índice de inatividade começou a aparecer na metade de 2014. Desde então, a ociosidade veio se agravando, com quedas maiores na produção a cada mês - relata.
A Weloze produz peças e componentes para os mais diversos ramos industriais, com destaque maior para o automotivo. A empresa fornece produtos para gigantes do setor, como Marcopolo, Randon e GM.
- Somos dependentes das grandes e, como a cadeia toda da indústria vai mal, também vamos - explica Romani.
Atualmente a Weloze emprega 80 funcionários. No início da desaceleração, a empresa abrangia 120 colaboradores. Medidas como a flexibilização de jornada de trabalho e o fechamento do turno da noite evitaram que a queda no quadro fosse ainda maior, avalia o empresário.
A diminuição na produção das empresas, destaca Fonseca, pode ser observada até mesmo pela quantidade de matéria-prima que chega a Caxias. Antigamente, segundo ele, 30 a 40 caminhões de bobinas de aço vinham todo dia até a cidade para abastecer as empresas:
- Agora quase não se vê mais esses veículos nas estradas daqui. Temos que resolver logo essa situação e evitar que Caxias vire um cemitério de pavilhões.
2016 já acumula perdas de 27,18%
O faturamento da indústria metalmecânica de Caxias também segue em queda, a exemplo da capacidade de produção e do quadro de funcionários. Segundo o Simecs, a baixa em janeiro e fevereiro deste ano é de 27,18% na comparação com o mesmo período de 2015. A queda assusta principalmente por ocorrer em cima de uma base de análise fraca, pois no início do ano passado a crise já estava instaurada.
As incertezas políticas são apontadas como principal causa para o prolongamento da retração. Na avaliação de Getulio Fonseca, presidente do Simecs, enquanto a confiança do investidor não voltar, a retração vai continuar:
- O investidor pensa "Por que vou comprar um ônibus de R$ 700 mil se amanhã podem queimar ele ou o governo pode mudar as concessões?". Essa falta de confiança vai seguir enquanto não tivermos um rumo claro - destaca.
O único alento para o setor é que o faturamento relativo às exportações têm crescido, favorecido pela alta do dólar. No acumulado de 12 meses, segundo o Simecs, a alta é de 14,54%.